Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para diretora da Educação da USP, exame revela "calamidade" em escolas públicas
CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A diretora da Faculdade de
Educação da USP, Sonia Penin,
afirma que o Pisa revela que a
educação brasileira chegou à
"calamidade". Leia trechos.
FOLHA - O que o Pisa mostra?
SONIA PENIN - A calamidade da
escola pública brasileira.
FOLHA - A educação tem piorado?
PENIN - Não dá para comparar
a educação de hoje com a de antigamente. A escola pública
brasileira dos anos 50 era só de
uma camada muito restrita da
elite brasileira. Depois, iniciou
um movimento para atender
todas as camadas socioeconômicas e culturais. Ainda não
completou esse movimento,
sobretudo no ensino médio,
mas, de qualquer forma, houve
um acolhimento significativo.
O que se percebe é que a escola
está com problemas para atender esta diversidade maior.
FOLHA - Quais são os problemas
mais comuns e graves?
PENIN - Tem um problema que
é objetivo: tempo de estudo,
tempo de exposição à aprendizagem. Apesar da diferenciação
muito grande de escola para escola, o tempo letivo de 4 horas,
5 horas nas melhores escolas, é
muito pouco para a gente fazer
páreo para esses países que estão à frente.
Além disso, ainda ocorre que,
nessas quatro horas, eles não
têm aula. Por ausência do próprio aluno, por ausência do
professor ou até por não existir
professor.
FOLHA - É o maior problema?
PENIN - Esse é o fator mais claro. Depois, falta valorização e
capacitação dos professores. A
questão salarial é fundamental,
mas não é só isso. Hoje precisa
de capacitação dentro da escola
para professores, diretores e
todos os envolvidos.
FOLHA - E a infra-estrutura?
PENIN - Os equipamentos são
importantes, mas hoje muitas
escolas estão equipadas e não
vemos os reflexos. Há muitos
laboratórios de ciências que
não são usados. O que falta é o
uso dos recursos, ou seja, professores preparados.
FOLHA - Qual a responsabilidade
dos pais?
PENIN - Muito grande. Pesquisas mostram que escolas com
participação dos pais têm melhores resultados. Nos anos 50,
quando só a elite estudava, os
pais eram alfabetizados, tinham livros em casa. Se um filho não ia bem, recebia reforço
escolar no tempo livre. Hoje
muitos pais não têm conhecimento para ajudar os filhos.
FOLHA - Qual a ligação dos resultados com a transferência de estudantes de classes elevadas para instituições particulares e a conseqüente
redução na cobrança por escolas públicas de qualidade?
PENIN - Não dá para culpar as
pessoas por colocarem os filhos
em uma escola ou outra. Isto é
um país democrático. Temos
que pensar nas questões que
podem ser trabalhadas. É o aumento do tempo na escola e o
investimento em professor.
Disso que temos de falar.
FOLHA - A sra. tem ressalvas em relação ao Pisa?
PENIN - Sempre cabe uma análise da avaliação. Pode ser que
as questões pedidas, por exemplo, tenham mais afinidade
com as preocupações de um
determinado país. Uma outra
questão é que esse exame pega
alunos por idade. Muitas vezes,
nossos alunos de 15 anos estão
abaixo da série em que deviam
estar, por conta de repetência.
Essa seria uma questão pela
qual poderíamos dar um desconto a nosso favor. Ou melhor, por nosso prejuízo.
Texto Anterior: Foco: Os alunos não querem pensar, diz campeão de olimpíada de matemática Próximo Texto: Exame ocorre a cada 3 anos em 57 países Índice
|