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ANÁLISE
Perdemos em qualidade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Sempre que uma avaliação
do ensino escancara o nosso
atraso, os saudosistas lamentam o fato lembrando que, no
passado, a escola pública era de
qualidade.
Ainda que o Brasil só tenha
começado a comparar o desempenho de seus estudantes em
1995, essa afirmação, muito
provavelmente, é verdadeira.
O que nem sempre é levado
em conta é que aquela escola
pública era para poucos. Em
1940, apenas 31% das crianças
de 7 a 14 anos estavam na escola. Não é difícil imaginar o perfil
de quem estava fora dela.
Em 2000, essa proporção
chegou a 95%. Ganhamos em
quantidade, perdemos em qualidade.
A chegada dos mais pobres à
escola pública foi acompanhada da migração gradativa da elite para o ensino privado. Para
um país que se esmerou como
poucos na construção de uma
sociedade desigual, a convivência dessas duas classes num
mesmo espaço -no caso, a escola- não fazia sentido.
Esse modelo funcionou bem
para aquele projeto de país. Os
mais ricos eram educados em
escolas privadas e, com isso, asseguravam seu futuro profissional, já que os melhores postos de trabalho não estavam ao
alcance de quem tinha como
única opção a escola pública.
Os resultados do Pisa evidenciam que esse projeto não serve
mais nem mesmo para quem
sempre se beneficiou dele. Numa economia cada vez mais
globalizada, ganham mais empregos e investimentos os países que têm sua mão-de-obra
mais qualificada.
As nações que conseguiram
as melhores posições foram
justamente aquelas onde a desigualdade de notas entre seus
melhores e piores alunos foi a
menor: Finlândia e Hong Kong.
Na Finlândia, sequer existe
ensino particular (98% estão
em escolas públicas). Em Hong
Kong, a maioria (91%) está no
ensino privado, mas em escolas
que dependem de financiamento público.
Não por acaso, os Estados do
Brasil que se saíram melhor no
Pisa foram os da região Sul. É lá
que, como mostra o Exame Nacional do Ensino Médio, a distância entre a rede pública e a
privada é menor no Brasil.
O que Finlândia e Hong
Kong fizeram foi equalizar as
oportunidades. Por isso, ficam
entre os primeiros mesmo
quando se compara apenas os
mais pobres ou somente os
mais ricos.
Com uma educação de qualidade e para todos, os melhores,
para se sobressair, têm de ser
ainda melhores.
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