São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Bairro tem passado mitológico de malandros e prostitutas

DA SUCURSAL DO RIO

Com o enorme aumento de público que voltou a efervescer na última virada de década nas ruas da Lapa, ficou mais difícil ver prostitutas e travestis trabalhando na região.
Eles até se uniram na loja Transformar-se, que fica aberta à noite ao lado do Capela, na Mem de Sá, vendendo roupas para o público GLS. "Não é possível só viver da venda do corpo", diz a gerente Eleni Gomes, empregada de Luana Muniz, travesti que comanda o empreendimento.
Mas ainda há na região alguns tradicionais hotéis voltados à consumação do amor ligeiro, como um localizado perto da Casa da Cachaça: a locação do leito por um "período" sai por R$ 15; quem quiser se arriscar a acordar no dia seguinte ao lado do ser conquistado paga R$ 28.

Passado
São resquícios de uma Lapa que fez fama nos anos 20 e 30 pela confluência de prostitutas, malandros, sambistas, artistas de vários naipes e também intelectuais.
De 1942, quando a repressão policial do Estado Novo abateu forte sobre a região, até esta década, a sobrevivência da Lapa teve mais baixos do que altos, como reforçam os textos sobre o bairro.
Eternizaram-se mitos como o malandro-transformista Madame Satã e suas histórias discutíveis, manteve-se a Lapa como uma espécie de arca perdida, mas faltava a volta daquilo que, na falta de alternativa melhor, faz as coisas renascerem: gente. Nos últimos anos, deixou de faltar.
O nome original (Lapa do Desterro, por causa do morro do Desterro, que posteriormente foi transformado no bairro de Santa Teresa) ficou mais distante, como já tinham ficado os séculos anteriores (18 e 19), época em que as casas abrigavam famílias impolutas e religiosas e casacas se impunham nas ruas.
"Como o Caetano [Veloso] me disse, a Lapa é, de novo, a possibilidade do estreitamento prático entre as coisas extremadas. Se milhares de pessoas estão aqui cantando e se divertindo, não estão tomando remédio, no hospital. Então, é saúde pública", exalta Perfeito Fortuna. (LFV)


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