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Bairro tem passado mitológico de malandros e prostitutas
DA SUCURSAL DO RIO
Com o enorme aumento de
público que voltou a efervescer
na última virada de década nas
ruas da Lapa, ficou mais difícil
ver prostitutas e travestis trabalhando na região.
Eles até se uniram na loja
Transformar-se, que fica aberta à noite ao lado do Capela, na
Mem de Sá, vendendo roupas
para o público GLS. "Não é possível só viver da venda do corpo", diz a gerente Eleni Gomes,
empregada de Luana Muniz,
travesti que comanda o empreendimento.
Mas ainda há na região alguns tradicionais hotéis voltados à consumação do amor ligeiro, como um localizado perto da Casa da Cachaça: a locação do leito por um "período"
sai por R$ 15; quem quiser se
arriscar a acordar no dia seguinte ao lado do ser conquistado paga R$ 28.
Passado
São resquícios de uma Lapa
que fez fama nos anos 20 e 30
pela confluência de prostitutas,
malandros, sambistas, artistas
de vários naipes e também intelectuais.
De 1942, quando a repressão
policial do Estado Novo abateu
forte sobre a região, até esta década, a sobrevivência da Lapa
teve mais baixos do que altos,
como reforçam os textos sobre
o bairro.
Eternizaram-se mitos como
o malandro-transformista Madame Satã e suas histórias discutíveis, manteve-se a Lapa como uma espécie de arca perdida, mas faltava a volta daquilo
que, na falta de alternativa melhor, faz as coisas renascerem:
gente. Nos últimos anos, deixou de faltar.
O nome original (Lapa do
Desterro, por causa do morro
do Desterro, que posteriormente foi transformado no
bairro de Santa Teresa) ficou
mais distante, como já tinham
ficado os séculos anteriores (18
e 19), época em que as casas
abrigavam famílias impolutas e
religiosas e casacas se impunham nas ruas.
"Como o Caetano [Veloso]
me disse, a Lapa é, de novo, a
possibilidade do estreitamento
prático entre as coisas extremadas. Se milhares de pessoas
estão aqui cantando e se divertindo, não estão tomando remédio, no hospital. Então, é
saúde pública", exalta Perfeito
Fortuna.
(LFV)
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