São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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Vai-Vai conquista vitória pela harmonia

As duas escolas somaram um total de 90 pontos; Vai-Vai, que apostou em enredo sobre educação, não era campeã desde 2001

Presidente da Mocidade Alegre, que ficou em segundo, considera "justo" o resultado, definido na última nota do último quesito

CINTHIA RODRIGUES
KARIN BLIKSTAD
RICARDO SANGIOVANNI

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na leitura da última nota do último quesito, a Vai-Vai se tornou campeã do Carnaval 2008 de São Paulo, ontem de manhã, no sambódromo do Anhembi.
A disputa com a Mocidade Alegre, que ficou empatada em 90 pontos, foi definida pela sorte. A bolinha da "harmonia" foi a primeira a cair do globo na segunda-feira, no sorteio dos quesitos de desempate, e foi exatamente aí que a Vai-Vai tirou um 10 a mais. Se a bolinha fosse da "bateria", do "enredo" ou da "evolução", por exemplo, a escola teria perdido.
"Me sinto como o jogador que faz o gol aos 45 minutos do segundo tempo", comemorou o presidente da Vai-Vai, Edmar Thobias da Silva. "A taça é tão pesada que nem agüentei andar com ela pelo bairro", comentou sem parar de sorrir.
Líder de títulos do Carnaval de São Paulo, a Vai-Vai não era campeã desde 2001. Neste ano falou de educação na luta contra a pobreza do país. Apresentou fantasias e carros luxuosos e teve o samba mais cantado pelo público do sambódromo.
Entre os integrantes, desfilaram famosos como o rapper Mano Brown, o maestro Silvio Baccarelli, que formou uma orquestra com jovens carentes da favela de Heliópolis, na zona sul, e o senador Eduardo Suplicy (PT). Os três estavam entre as cerca de 3.000 pessoas que foram para a Bela Vista ontem participar da festa.
Uma das primeiras a chegar foi a rainha da bateria, a bailarina Ivi Mesquita.
"Me perdoe [sic] as co-irmãs, mas o título é nosso", dizia uma camiseta que ficou pronta no início da tarde e era usada pelo diretor cultural da escola, Fernando Penteado, 61.

Cerveja e shows
Sem espaço na sua pequena quadra, a Vai-Vai comemorou na esquina das ruas São Vicente e Lourenço Geraldo, ao lado da sede, onde só entravam integrantes da diretoria e poucos convidados.
Desde o anúncio do título no sambódromo, o vice-presidente da escola, Claricio Gonçalves, avisou que ontem a festa iria além dos limites impostos pelo Psiu, da prefeitura.
Foram distribuídas 20 mil latinhas de cerveja e, além da bateria, houve apresentação do rapper Mano Brown.
O presidente da escola disse que a Vai-Vai gastou cerca de R$ 2 milhões no Carnaval deste ano -R$ 470 mil pagos pela prefeitura, R$ 500 mil por patrocinadores por meio da Lei Rouanet, R$ 240 mil da Rede Globo, que tem a exclusividade da transmissão, e R$ 180 mil de bilheteria. "Daí, temos mais uns R$ 20 mil aqui e ali de gente que paga os fogos ou patrocina uma fantasia", conta.
Mesmo com 30 anos de desfiles pela Vai-Vai, o atendente hospitalar Francisco Carlos, 48, chorou com o anúncio do 13º título da escola. "A gente estava na fila há uns anos", disse Carlos, integrante da bateria da escola há 12 anos.

"Resultado justo"
A presidente da Mocidade, Solange Bichara Resende, que acompanhava cada nota repetindo "10, 10, 10", com um terço nas mãos, disse que ficou satisfeita com o resultado. "Foi justo. Não houve estranheza nas notas", disse.
Os três torcedores da Mocidade Alegre que acompanharam a apuração no sambódromo se preparavam para comemorar o bicampeonato quando a nota 9,75 em harmonia lhe tirou o título. "Somos uma escola discreta", disse Wellington Coelho, 47, que levou os sobrinhos Eduardo Zaccai, 17, e Bruno Mancini, 18, ao Anhembi.
Na quadra da escola, depois de uma apresentação da bateria, a presidente fez um pedido à comunidade. "Sexta-feira, no desfile das campeãs, entrem como bicampeões e saiam como bicampeões."
"Fiquei triste com o resultado", diz Clóvis Pê, intérprete da Mocidade, que discorda do critério de descartar duas notas. "Foi uma fatalidade, pois a harmonia é nosso ponto forte."
O desapontamento ficou por conta dos integrantes da Unidos de Vila Maria, apontada como favorita, com vários membros chorando.
Na quadra da escola, na zona norte, a festa preparada para o título -regada a 10 mil litros de cerveja, 600 kg de carne e 6.500 pães distribuídos gratuitamente- serviu para rebater a frustração pelo terceiro lugar.
"É festa de campeã", disse o professor de educação física Anderson Cristiano, 25, uma das cerca de 8.000 pessoas esperadas na quadra da escola ontem, segundo organizadores.
Cinco escolas -Vai-Vai, Mocidade Alegre, Vila Maria, Rosas de Ouro e Tom Maior- voltam ao Anhembi na sexta-feira, no desfile das campeãs. Também vão se apresentar Leandro de Itaquera e Peruche, campeãs do grupo de acesso.
Camisa Verde e Branco e Águia de Ouro caíram para a "segunda divisão do Carnaval".


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