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Vai-Vai conquista vitória pela harmonia
As duas escolas somaram um total de 90 pontos; Vai-Vai, que apostou em enredo sobre educação, não era campeã desde 2001
Presidente da Mocidade Alegre, que ficou em segundo, considera "justo" o resultado, definido na última nota do último quesito
CINTHIA RODRIGUES
KARIN BLIKSTAD
RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na leitura da última nota do
último quesito, a Vai-Vai se tornou campeã do Carnaval 2008
de São Paulo, ontem de manhã,
no sambódromo do Anhembi.
A disputa com a Mocidade
Alegre, que ficou empatada em
90 pontos, foi definida pela sorte. A bolinha da "harmonia" foi
a primeira a cair do globo na segunda-feira, no sorteio dos
quesitos de desempate, e foi
exatamente aí que a Vai-Vai tirou um 10 a mais. Se a bolinha
fosse da "bateria", do "enredo"
ou da "evolução", por exemplo,
a escola teria perdido.
"Me sinto como o jogador
que faz o gol aos 45 minutos do
segundo tempo", comemorou o
presidente da Vai-Vai, Edmar
Thobias da Silva. "A taça é tão
pesada que nem agüentei andar
com ela pelo bairro", comentou
sem parar de sorrir.
Líder de títulos do Carnaval
de São Paulo, a Vai-Vai não era
campeã desde 2001. Neste ano
falou de educação na luta contra a pobreza do país. Apresentou fantasias e carros luxuosos
e teve o samba mais cantado
pelo público do sambódromo.
Entre os integrantes, desfilaram famosos como o rapper
Mano Brown, o maestro Silvio
Baccarelli, que formou uma orquestra com jovens carentes da
favela de Heliópolis, na zona
sul, e o senador Eduardo Suplicy (PT). Os três estavam entre as cerca de 3.000 pessoas
que foram para a Bela Vista ontem participar da festa.
Uma das primeiras a chegar
foi a rainha da bateria, a bailarina Ivi Mesquita.
"Me perdoe [sic] as co-irmãs,
mas o título é nosso", dizia uma
camiseta que ficou pronta no
início da tarde e era usada pelo
diretor cultural da escola, Fernando Penteado, 61.
Cerveja e shows
Sem espaço na sua pequena
quadra, a Vai-Vai comemorou
na esquina das ruas São Vicente
e Lourenço Geraldo, ao lado da
sede, onde só entravam integrantes da diretoria e poucos
convidados.
Desde o anúncio do título no
sambódromo, o vice-presidente da escola, Claricio Gonçalves, avisou que ontem a festa
iria além dos limites impostos
pelo Psiu, da prefeitura.
Foram distribuídas 20 mil latinhas de cerveja e, além da bateria, houve apresentação do
rapper Mano Brown.
O presidente da escola disse
que a Vai-Vai gastou cerca de
R$ 2 milhões no Carnaval deste
ano -R$ 470 mil pagos pela
prefeitura, R$ 500 mil por patrocinadores por meio da Lei
Rouanet, R$ 240 mil da Rede
Globo, que tem a exclusividade
da transmissão, e R$ 180 mil de
bilheteria. "Daí, temos mais
uns R$ 20 mil aqui e ali de gente
que paga os fogos ou patrocina
uma fantasia", conta.
Mesmo com 30 anos de desfiles pela Vai-Vai, o atendente
hospitalar Francisco Carlos,
48, chorou com o anúncio do
13º título da escola. "A gente estava na fila há uns anos", disse
Carlos, integrante da bateria da
escola há 12 anos.
"Resultado justo"
A presidente da Mocidade,
Solange Bichara Resende, que
acompanhava cada nota repetindo "10, 10, 10", com um terço
nas mãos, disse que ficou satisfeita com o resultado. "Foi justo. Não houve estranheza nas
notas", disse.
Os três torcedores da Mocidade Alegre que acompanharam a apuração no sambódromo se preparavam para comemorar o bicampeonato quando
a nota 9,75 em harmonia lhe tirou o título. "Somos uma escola
discreta", disse Wellington
Coelho, 47, que levou os sobrinhos Eduardo Zaccai, 17, e Bruno Mancini, 18, ao Anhembi.
Na quadra da escola, depois
de uma apresentação da bateria, a presidente fez um pedido
à comunidade. "Sexta-feira, no
desfile das campeãs, entrem
como bicampeões e saiam como bicampeões."
"Fiquei triste com o resultado", diz Clóvis Pê, intérprete da
Mocidade, que discorda do critério de descartar duas notas.
"Foi uma fatalidade, pois a harmonia é nosso ponto forte."
O desapontamento ficou por
conta dos integrantes da Unidos de Vila Maria, apontada como favorita, com vários membros chorando.
Na quadra da escola, na zona
norte, a festa preparada para o
título -regada a 10 mil litros de
cerveja, 600 kg de carne e 6.500
pães distribuídos gratuitamente- serviu para rebater a frustração pelo terceiro lugar.
"É festa de campeã", disse o
professor de educação física
Anderson Cristiano, 25, uma
das cerca de 8.000 pessoas esperadas na quadra da escola
ontem, segundo organizadores.
Cinco escolas -Vai-Vai, Mocidade Alegre, Vila Maria, Rosas de Ouro e Tom Maior- voltam ao Anhembi na sexta-feira,
no desfile das campeãs. Também vão se apresentar Leandro
de Itaquera e Peruche, campeãs do grupo de acesso.
Camisa Verde e Branco e
Águia de Ouro caíram para a
"segunda divisão do Carnaval".
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