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USP arquiva acusação de plágio e é contestada
Universidade "inocenta" professor titular da Faculdade de Direito e afirma que problemas foram só em formalidades
Conclusão, avalizada pelo atual reitor, é vista
como "prematura" por desembargador, neto de um dos supostos plagiados
FÁBIO TAKAHASHI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A USP decidiu arquivar uma
investigação de plágio contra
um docente da sua Faculdade
de Direito e isentá-lo de qualquer penalidade -apesar de
uma comissão de sindicância
ter apontado irregularidades
no trabalho apresentado por
ele no concurso para professor
titular, ápice da carreira.
A medida, avalizada no final
do ano passado pelo atual reitor
da USP, João Grandino Rodas
(diretor da faculdade à época),
motivou contestações dentro
da escola. A "absolvição" é considerada "prematura" por um
desembargador do Tribunal de
Justiça de São Paulo -neto de
um dos juristas que tiveram
parte de sua obra reproduzida.
Conforme a Folha revelou
em 2008, a nomeação de Carlos Alberto Dabus Maluf para
professor titular de direito civil
foi contestada por três alunos,
que questionavam a "originalidade" e a "honestidade científica" do trabalho apresentado.
Depois, uma comissão sindicante formada por três docentes da USP apontou "irregularidades" no trabalho, como reprodução de capítulos inteiros
de outros autores e transcrições sem a devida citação.
Dabus Maluf afirma que os
problemas citados foram só
"formalidades" por descumprimento de regras da ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas), e não plágio -posição aceita por Grandino.
Um dos questionamentos é a
ausência de aspas para citações. O professor alega que os
nomes dos autores estão em
notas de rodapé ou em parágrafos -sinal de que não há
má-fé. Para os alunos, as citações são só indicação de que os
livros foram consultados, sem
explicitar que se trata de cópia.
O relatório da comissão passou para a Consultoria Jurídica
da USP. O órgão disse em nota
que sugeriu arquivar o procedimento porque a sindicância
disse não poder opinar sobre a
"existência de plágio ou desvio
ético". A recomendação foi seguida por Grandino.
Docentes que acompanham
a investigação dizem reservadamente que não cabia à sindicância pedir abertura de procedimento disciplinar ou anulação do concurso; apenas "apurar eventuais irregularidades".
A Consultoria Jurídica disse
ainda que o arquivamento "se
baseou, principalmente, no fato de que não é condição sine
qua non que os trabalhos da
área jurídica devam seguir os
princípios da ABNT".
Os alunos entrarão com recurso contra a decisão. São
apoiados pela família de Paulo
Barbosa de Campos Filho, um
dos nove autores que tiveram
parte da obra reproduzida.
Carlos Teixeira Leite Filho, desembargador do TJ de São Paulo, é neto de Paulo Barbosa.
Segundo ele, um membro da
família deve participar do recurso. "Não queremos entrar
no mérito do concurso. Nosso
interesse é que haja esclarecimento adequado em benefício
da verdade e da memória do
meu avô", diz ele, ressalvando
respeitar a decisão da USP.
Como defesa, Dabus Maluf
entregou um parecer do advogado José Carlos Costa Netto.
"Em teses acadêmicas, há praxes que são formalistas. O professor está num estágio diferente, que ultrapassa a fase de
mero atendimento a manuais e
formalidades acadêmicas."
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