São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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Cansados de carro, paulistanos optam por pegar ônibus

Usuários concordam que serviço ainda está longe do ideal; principal reclamação é a demora no embarque

Deixar de ficar parado no trânsito da cidade é o principal motivo que leva ex-motoristas a preferirem o ônibus

TETÉ MARTINHO
DE SÃO PAULO

Malu Moraes mora nos Jardins. Em abril, vai comemorar o 60º aniversário em Milão. Para manter seu padrão de vida, cortou hábitos que considera desnecessários: restaurantes caros, roupas da estação -e carro.
"Quando me perguntam por que não engordo, digo: não tenho carro." Economia, autonomia para mudar de estratégia em congestionamentos, vontade de fazer dos deslocamentos algo menos penoso e improdutivo têm levado mais paulistanos a recorrer ao ônibus.
Quem está aderindo agora ao ônibus deu sorte. As melhoras dos últimos anos incluem carros maiores e mais novos, o bilhete único, GPSs que ajudam a verificar denúncias de má condução e um serviço de reclamações.
A principal queixa dos paulistanos, no entanto, continua sendo a demora para embarcar, responsável por quase 30% das reclamações. A experiência mais bizarra do arquiteto Paulo de Camargo, 30, envolvendo ônibus foi a bronca que levou de um ex-chefe por ter ido de coletivo visitar uma obra do escritório fino onde trabalhava. "Ele me disse que andar de ônibus é coisa de pobre. E se o cliente descobre?"
"Para mim, estranho é um arquiteto, um urbanista ou um sociólogo que nunca andou de ônibus, não conhecer a cidade dessa perspectiva", diz o empresário Ricardo Heder, 48. O hábito do ônibus pesou até na escolha da casa onde mora.
Um carro basta para ele e a mulher, a artista plástica Renata Ursaia, 37. "Acho carro chato, mas não vou dizer que ônibus é maravilhoso."
O estilista Carlos Christofani, 49, só anda de táxi, metrô, ônibus ou a pé. Ele fez uma conta e concluiu que, mesmo se andasse só de táxi, gastaria menos do que para manter um carro. Um paulistano que mora na região da Pompeia (zona oeste) e trabalha na Berrini (zona sul) teria, por exemplo, uma economia de 63% nas despesas mensais caso trocasse o carro pelo ônibus.
O transporte coletivo parece, para Carlos, "caminho sem volta" para uma cidade com quase 7 milhões de veículos. "Tenho crédito pré-aprovado de R$ 110 mil para comprar carro numa conta que se tiver R$ 100 de saldo é muito", afirma.
Todos os dias, Matthew Shirts, 52, editor da revista "National Geographic", vai e volta de ônibus do trabalho. "O ônibus é o primo pobre do transporte urbano. São poucos e lotados, não têm amortecedor, não têm câmbio automático. É como diz Jaime Lerner: "O problema é que ninguém importante anda de ônibus'", diz o jornalista americano. Sem falar na tarifa, R$ 3, a mais cara do país. "O governo brasileiro devia premiar quem usa ônibus, assim como na Alemanha as pessoas ganham dinheiro para ter filhos."

Colaborou GIBA BERGAMIM JR.


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