São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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VIOLÊNCIA

Aposentada foi ferida na perna quando dormia, durante briga de três horas entre quadrilhas por domínio do tráfico

Bala perdida atinge idosa em casa no Rio

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
Uma aposentada de 69 anos foi atingida por uma bala perdida enquanto dormia em sua casa, no morro do Querosene, no bairro do Catumbi (zona norte do Rio), na madrugada de ontem, durante uma batalha de três horas entre quadrilhas de traficantes rivais.
Segundo a polícia, o confronto começou por volta da meia-noite, quando traficantes da facção criminosa Comando Vermelho teriam tentado invadir o morro da Coroa, vizinho ao Querosene, onde o tráfico de drogas pertence ao Terceiro Comando.
De acordo com o titular da 6ª Delegacia de Polícia, Osvaldo Cupello, a tentativa de invasão teria sido praticada por homens das favelas da Mineira e da Mangueira. Para o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, entretanto, o ataque teria sido articulado por traficantes de oito morros: Mangueira, Mineira, Formiga, Fogueteiro, Salet, Borel, Providência e Brás de Pina.
Ao fim do tiroteio, os invasores fugiram e não houve mortos.
Na manhã de ontem, era possível ver as marcas da tentativa de invasão ao morro da Coroa: a sigla CV (Comando Vermelho) pichada nos muros de casas e lojas da favela. Muitas das pichações estavam sobre a sigla TC (Terceiro Comando).
Em alguns muros lia-se a inscrição PJL (Paz, Justiça e Liberdade), slogan criado pelo Comando Vermelho e que também é usado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). O slogan apareceu escrito no chão de terra do campo de futebol no complexo penitenciário do Carandiru e em outros presídios de São Paulo, durante a rebelião do dia 18.
Oscarina Ferreira, 69, dormia ao lado de sua bisneta, uma menina de 4 anos, e da mãe dela, Ana Paula Ferreira, 22, quando foi baleada. O tiro atingiu sua coxa esquerda e seus fragmentos penetraram na perna direita.
"Nós levamos um susto. Quando vi, ela já estava sangrando", contou Ana Paula. Nem ela nem a filha ficaram feridas.
Na sala da casa também dormiam a filha de Oscarina, Cássia Regina Alves Ferreira, 40, com a filha de 2 anos e a sobrinha de 1 ano, que nada sofreram.
A aposentada foi levada para o hospital Souza Aguiar (centro do Rio), se submeteu a uma cirurgia para a retirada da bala e recebeu alta no fim da tarde.
Ontem pela manhã, policiais militares e civis ocuparam o morro da Coroa. Durante a operação, foram apreendidos sete fuzis, 18 pistolas, uma granada e 177 papelotes de cocaína numa casa que, segundo a polícia, funcionava como depósito de armas e drogas. Ninguém foi preso.
Também foram apreendidos dez carros nas ruas que dão acesso à favela. Segundo Álvaro Lins, os veículos, roubados anteontem em bairros das zonas norte e sul do Rio, teriam sido utilizados pelos invasores para chegar ao local.
Para Osvaldo Cupello, a tentativa de invasão ocorreu porque o morro da Coroa estaria sem alguém forte para controlar o tráfico de drogas, após a prisão de Valquir Garcia dos Santos, suposto gerente da favela, no ano passado.
"Quando eles (traficantes rivais) percebem que o morro está fraco, tentam invadir. A idéia é dominar o morro rival e ganhar cada vez mais espaço", explicou Cupello.


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