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ADMINISTRAÇÃO
Acordo com o Spacial incluiu, também sem licitação, o serviço de transporte; especialistas vêem indícios de irregularidade
Gestão Serra contrata circo por R$ 4 milhões
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo contratou por R$ 4,16 milhões, sem
concorrência, um circo para oferecer espetáculos aos alunos da
rede municipal. A gestão José Serra (PSDB) incluiu nesse pacote
gastos com o transporte dos estudantes -ato irregular, segundo
especialistas em licitações.
O montante a ser gasto supera o
que a Secretaria Municipal da
Educação aplicou em 2005 com
lazer -R$ 4,082 milhões.
O acerto foi assinado sem licitação porque a prefeitura alegou
que o Spacial era "consagrado pela crítica especializada ou pela
opinião pública", condição em
que a concorrência pode ser dispensada. O acordo prevê 130 espetáculos neste ano e o transporte
dos alunos da escola até o local do
show. Os ônibus foram contratados diretamente pelo Spacial.
Até 8 de novembro, pelo contrato assinado pela gestão Serra, 351
mil alunos terão assistido às apresentações do circo, o que significa
um custo de R$ 11,85 por criança.
Há indícios de irregularidades
no contrato, afirmaram três advogados especialistas em licitações
ouvidos pela Folha sem que fosse
revelada a prefeitura envolvida.
Toshio Mukai, doutor em direito pela USP e um dos maiores especialistas do país na matéria, diz
que a prefeitura não poderia contratar o Spacial diretamente, pois
o circo não pode ser considerado
"consagrado" pelo público, como
exige a Lei das Licitações. E o
transporte não poderia ser inserido, já que são serviços distintos.
"Com esse valor, só se fosse o
Roberto Carlos ou Chitãozinho &
Xororó. E são dois objetos diferentes [circo e transporte], são
serviços divisíveis. Está errado."
O advogado Luiz Eugenio Scarpin concorda. "O transporte não
faz parte do show. A lei permite
que só o artista seja contratado
sem licitação", diz. "Levar e trazer
crianças não poderia ser incluído
na dispensa da licitação."
Para Ariosto Peixoto, a questão
da consagração pública é polêmica, mas não há dúvida quanto à irregularidade da inclusão do
transporte. "É indiscutível a questão do transporte. Não é uma atividade ligada ao circo", afirmou.
Segundo Peixoto, é impossível
incluir esse tipo de serviço de
transporte como "notória especialização", alegação que desobrigaria a prefeitura a fazer licitação.
O contrato foi publicado no
"Diário Oficial da Cidade" de 18
de fevereiro deste ano. Até então,
em acordos semelhantes, a prefeitura contratava o circo, mas não
incluía o transporte no pacote.
No programa Recreio nas Férias, por exemplo, a prefeitura pagou a um circo R$ 108 mil por 30
espetáculos para 30 mil crianças.
Ou seja, R$ 3,60 por criança.
O transporte foi contratado pela
prefeitura por meio de licitação.
Em novembro, para escolas localizadas na região do Jabaquara
(zona sul de São Paulo), o custo
do ônibus por criança era de R$ 5.
Nenhum dos cinco circos em
atividade em São Paulo ouvidos
pela Folha foi consultado pela
prefeitura para apresentar seu
preço para o projeto, prática comum nesse tipo de contrato sem
licitação, para que a prefeitura pudesse escolher a melhor proposta.
Representante da Câmara do
Circo no Ministério da Cultura,
Márcio Stankowich disse ter ficado espantado com o contrato.
"Nosso setor vive uma penúria
muito grande. Tem dias em que
ganho R$ 300 por show", diz ele,
que cobra R$ 5 por criança.
Escolas particulares que levaram alunos ao Spacial em 2005
não contaram com o transporte.
Colaborou AMARÍLIS LAGE, da Reportagem Local
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