São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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Reprovação no Estado será de 2 em 2 anos

A partir de 2008, haverá quatro ciclos de dois anos no ensino fundamental e, no final deles, o aluno poderá ficar retido

Objetivo é localizar antes as lacunas de aprendizado para corrigi-las, segundo secretária, para quem situação atual é "alarmante"

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A secretária da Educação do Estado de São Paulo, Maria Lucia Vasconcelos, caracterizou ontem a situação das escolas estaduais na cidade de São Paulo como "alarmante, triste".
A titular da pasta (assumiu em 2006) refere-se aos resultados obtidos pelos alunos das escolas estaduais paulistanas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado.
Tomando-se os 633 estabelecimentos sob controle do Estado e excetuando-se 11 escolas técnicas e uma ligada à USP, todos os 621 colégios tiveram notas inferiores a 50 (de 100 pontos). A média geral das escolas estaduais da cidade foi de 38,42 (contra 52,81 de média das escolas particulares).
A professora Maria Lucia propõe medidas que chama de "emergenciais" para tentar diminuir o fosso em que está o ensino público da cidade.
Uma delas é reduzir o tamanho dos ciclos em que se divide o ensino fundamental. Hoje, são dois ciclos de quatro anos, no final dos quais o aluno pode ser reprovado e repetir um ano. A secretaria pretende transformar em quatro ciclos de dois anos. Na prática, o aluno poderá ser "reprovado" quatro vezes, em vez das duas atuais. Será avaliado em períodos mais curtos e as lacunas de aprendizado localizadas e corrigidas antes, acredita a secretária.
Pedagogos têm criticado a forma como foi implantada a progressão continuada (em vigor desde 1997, governo tucano de Mário Covas). Dizem que, na prática, a progressão joga no ensino médio estudantes que mal sabem ler e escrever.
Na avaliação da secretária da Educação, "o ciclo atual, de quatro anos, é tempo demais". Ela justifica a mudança proposta: "O nosso professor é formado pela e para a educação tradicional. Ele ficou desmotivado porque sentiu que o fato de não mais exercer o poder por meio da avaliação desqualificou seu trabalho. O professor não gosta da progressão continuada. E se ele não gosta, não funciona".
A mudança deve entrar em vigor em 2008. "Ao término do segundo ano, quando termina o primeiro ciclo, o aluno tem uma barreira. Se estiver bem, continua. Se não estiver pronto para caminhar, fica retido por um ano, revendo os conteúdos dos dois anos anteriores. E assim a cada término de ciclo."
Outra modificação que a secretaria pretende introduzir refere-se à reorganização do currículo do ensino médio.
"Está muito desvinculado do mundo real. Nós não temos uma escola preparatória para o trabalho. Vamos dar ao menino mais ferramentas que serão úteis para ele e que farão com que ele se interesse um pouco mais pela escola e pelo ensino, porque ele vai sentir a utilidade deste ensino." Ela quer reforçar os ensinos de inglês e de informática para atrair o aluno com a proposta de prepará-lo para o mercado de trabalho.
Maria Lucia discorda dos críticos que dizem que a situação educacional paulista decorre de falta de verbas. Segundo ela, "o dinheiro da Educação é suficiente". No ano passado foram R$ 11,8 bilhões. "É o quarto maior orçamento do país -só perde para a União, o Estado de São Paulo e a cidade de São Paulo. Não é o momento de aumentar os recursos e sim de discutir como usá-lo. Trata-se de gastar corretamente."
A Folha tentou entrar em contato com o ex-secretário da Educação Gabriel Chalita e o ex-governador Geraldo Alckmin, mas eles estavam fora do país e não foram encontrados.


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