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Reprovação no Estado será de 2 em 2 anos
A partir de 2008, haverá quatro ciclos de dois anos no ensino fundamental e, no final deles, o aluno poderá ficar retido
Objetivo é localizar antes as lacunas de aprendizado para corrigi-las, segundo secretária, para quem situação atual é "alarmante"
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A secretária da Educação do
Estado de São Paulo, Maria Lucia Vasconcelos, caracterizou
ontem a situação das escolas
estaduais na cidade de São Paulo como "alarmante, triste".
A titular da pasta (assumiu
em 2006) refere-se aos resultados obtidos pelos alunos das escolas estaduais paulistanas no
Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) do ano passado.
Tomando-se os 633 estabelecimentos sob controle do Estado e excetuando-se 11 escolas
técnicas e uma ligada à USP, todos os 621 colégios tiveram notas inferiores a 50 (de 100 pontos). A média geral das escolas
estaduais da cidade foi de 38,42
(contra 52,81 de média das escolas particulares).
A professora Maria Lucia
propõe medidas que chama de
"emergenciais" para tentar diminuir o fosso em que está o
ensino público da cidade.
Uma delas é reduzir o tamanho dos ciclos em que se divide
o ensino fundamental. Hoje,
são dois ciclos de quatro anos,
no final dos quais o aluno pode
ser reprovado e repetir um ano.
A secretaria pretende transformar em quatro ciclos de dois
anos. Na prática, o aluno poderá ser "reprovado" quatro vezes, em vez das duas atuais. Será avaliado em períodos mais
curtos e as lacunas de aprendizado localizadas e corrigidas
antes, acredita a secretária.
Pedagogos têm criticado a
forma como foi implantada a
progressão continuada (em vigor desde 1997, governo tucano
de Mário Covas). Dizem que, na
prática, a progressão joga no
ensino médio estudantes que
mal sabem ler e escrever.
Na avaliação da secretária da
Educação, "o ciclo atual, de
quatro anos, é tempo demais".
Ela justifica a mudança proposta: "O nosso professor é formado pela e para a educação tradicional. Ele ficou desmotivado
porque sentiu que o fato de não
mais exercer o poder por meio
da avaliação desqualificou seu
trabalho. O professor não gosta
da progressão continuada. E se
ele não gosta, não funciona".
A mudança deve entrar em
vigor em 2008. "Ao término do
segundo ano, quando termina o
primeiro ciclo, o aluno tem
uma barreira. Se estiver bem,
continua. Se não estiver pronto
para caminhar, fica retido por
um ano, revendo os conteúdos
dos dois anos anteriores. E assim a cada término de ciclo."
Outra modificação que a secretaria pretende introduzir
refere-se à reorganização do
currículo do ensino médio.
"Está muito desvinculado do
mundo real. Nós não temos
uma escola preparatória para o
trabalho. Vamos dar ao menino
mais ferramentas que serão
úteis para ele e que farão com
que ele se interesse um pouco
mais pela escola e pelo ensino,
porque ele vai sentir a utilidade
deste ensino." Ela quer reforçar
os ensinos de inglês e de informática para atrair o aluno com
a proposta de prepará-lo para o
mercado de trabalho.
Maria Lucia discorda dos críticos que dizem que a situação
educacional paulista decorre
de falta de verbas. Segundo ela,
"o dinheiro da Educação é suficiente". No ano passado foram
R$ 11,8 bilhões. "É o quarto
maior orçamento do país -só
perde para a União, o Estado de
São Paulo e a cidade de São
Paulo. Não é o momento de aumentar os recursos e sim de
discutir como usá-lo. Trata-se
de gastar corretamente."
A Folha tentou entrar em
contato com o ex-secretário da
Educação Gabriel Chalita e o
ex-governador Geraldo Alckmin, mas eles estavam fora do
país e não foram encontrados.
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