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15 brasileiros são barrados por dia na Espanha
Números são relativos a fevereiro; em 2006, eram seis, em média, os retidos e devolvidos ao Brasil após o desembarque
As autoridades brasileiras suspeitam haver, como regra não escrita, uma cota diária de "inadmissões" de estrangeiros na Espanha
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
A média diária de brasileiros
"inadmitidos" na Espanha, que
era de seis em 2006, subiu para
15 no mês passado: 452 foram
retidos e devolvidos ao Brasil
logo após o desembarque no aeroporto de Barajas.
"Vai piorar", prevê o cônsul
Gelson Fonseca, na medida em
que aumenta o número de vôos
do Brasil para a Espanha e, por
extensão, o número de passageiros. As autoridades brasileiras trabalham com a suspeita
de que há uma cota diária de
"inadmissões" de estrangeiros
no país, evidentemente uma regra não escrita.
Há, sim, uma regra escrita
com os seguintes requisitos para ser admitido na Espanha: ter
ao menos 70 euros para cada
dia que planeja ficar na Europa;
passagem de ida e volta; reserva
de hotel, já devidamente pago;
no caso de quem vai ficar com
parentes, é preciso preencher
um formulário adquirido na
Espanha e enviado ao Brasil para que o viajante o apresente no
aeroporto; ou contrato de trabalho devidamente regularizado, no caso de quem vem para
ficar de maneira legal.
Acontece que é impraticável
examinar toda essa documentação de todos os passageiros
não-europeus que desembarcam em Barajas. Aí entra o critério aleatório: jovens, de ambos os sexos, são suspeitos por
definição. Foi certamente nesse quesito que caíram as duas
Patrícias e Pedro Luiz, os casos
de mais repercussão -mas que
estão longe de ser os únicos.
Mulheres desacompanhadas
são igualmente suspeitas, principalmente se aparentam até
30 ou 35 anos.
Pessoas de aspecto humilde,
especialmente negros ou de feições árabes, compõem outro
perfil visto com suspeição.
As pessoas das quais se suspeita são interrogadas e depois
levadas para uma sala, sem o
celular e sem os pertences pessoais, que ficam retidos até o
embarque de volta.
O consulado brasileiro criou
um sistema de rodízio entre
seus funcionários para que um
deles esteja de plantão permanente, com um número único
de telefone celular para atender qualquer emergência. O
número do telefone foi afixado
na sala em que os passageiros
suspeitos ficam retidos.
Mas, como eles não têm mais
o celular, são obrigados a ligar
de um telefone público.
Nem sempre, no entanto, o
telefonema dos retidos é dado
para as autoridades consulares.
No caso de ontem, por exemplo, ligaram para seus professores no Iuperj, que acionaram o
consulado.
Poder limitado
O problema é que o poder de
intervenção do consulado é
muito limitado, na medida em
que, primeiro, trata-se de regras européias, não especificamente espanholas; segundo, o
Itamaraty é o primeiro a reconhecer que todo país tem o direito de admitir ou não quem
quiser; terceiro, por mais boa
vontade que a diplomacia espanhola demonstre, o controle da
situação é da polícia, subordinada ao Ministério do Interior,
não ao de Relações Exteriores.
O que os diplomatas brasileiros estão cobrando não é, por
tudo isso, a admissão livre e irrestrita de cidadãos brasileiros,
mas um mínimo de critério para não punir viajantes que são
claramente de boa-fé.
(CR)
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