São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem palmtop, agente liga a cobrar para CET para passar ocorrência

Na falta de aparelho de comunicação, marronzinho apela a celulares próprios ou a orelhões para informar registros

Segundo agentes ouvidos pela Folha, problema afeta agilidade na hora de lidar com obstáculos à fluidez do tráfego, como acidentes

RICARDO SANGIOVANNI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Agentes de trânsito têm trabalhado nas ruas de São Paulo sem equipamentos de comunicação da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e com a orientação de avisar sobre ocorrências que atrapalham a fluidez ou segurança viária por meio de telefonemas a cobrar -feitos do celular pessoal ou até mesmo de orelhão.
A situação afeta a agilidade para a retirada de obstáculos que contribuem com os congestionamentos. Ela foi confirmada pela Folha em entrevistas reservadas com marronzinhos que trabalham em ruas da zona sul e do centro da capital. A reclamação já chegou também aos órgãos de representação dos funcionários da CET.
A falta de aparelhos de comunicação foi agravada nos últimos dois meses, por conta do encerramento do contrato com empresas que forneciam palmtops -computadores de mão- para que os agentes de rua os utilizassem como um celular.
Ele vinha sendo renovado a cada seis meses, desde 2005, por meio de contratos de emergência. Mas, diante de pressões inclusive da Promotoria devido às sucessivas contratações dos palmtops sem licitação, foi cancelado no final de 2007.
A CET não explica como tem ocorrido a comunicação com os marronzinhos desde então. A Folha apurou que, apesar do fim do contrato, ao menos parte dos palmtops ainda é usada pelos agentes até hoje, mas não há reposições nem conserto.
Nas ruas, marronzinhos dizem que, além dos telefonemas a cobrar, a orientação dos chefes é sair atrás de outros colegas que possuam palmtops.
O padrão, dizem os agentes, é comunicar a central antes de agir em emergências, como acidentes ou obstrução de vias. Na prática, porém, muitos casos põem os fiscais em apuros.
"Ontem [anteontem, dia em que faltou energia em 21 bairros], quando apagou um semáforo do cruzamento, fiquei sem saber se saía para procurar ajuda ou se cuidava do trânsito", afirma Sérgio (nome fictício), que está na CET há seis anos e que não tem celular pessoal para ligar a cobrar para a central.
Segundo a própria CET, a interdição de uma faixa por 15 minutos é suficiente para provocar 3 km de engarrafamentos -que demoram meia hora para serem dissipados.
Ou seja, quanto mais demora a tomada de decisões e envio de equipes pela CET, mais aumentam os engarrafamentos.
Um executivo da companhia afirma que a dificuldade de contato com os fiscais de rua atinge principalmente os últimos turnos de trabalho. Os palmtops que ainda estão em funcionamento ficam sem bateria e não há outros para fazer as reposições ao longo do dia.
Um agente diz que há quatro meses não recebe palmtop quando é escalado para pontos fixos. "Hoje, até cruzamentos importantes, como na Paulista, Rebouças, Nove de Julho e Faria Lima, estão sem palmtop".
Os problemas de comunicação -inclusive relatos de agentes orientados a telefonar a cobrar- já chegaram ao Conselho dos Representantes dos Empregados da CET. O presidente do órgão, Marcos Batista de Souza, diz que as reivindicações para resolvê-los são discutidas há mais de dois anos.
Pelo modelo de comunicação, via rádio, adotado até 2005, cada vez que um agente avisava a central sobre determinada interferência no trânsito, os marronzinhos que estavam nas imediações ouviam e podiam se deslocar imediatamente. Hoje, com os palmtops, ela é "fechada" -vai do fiscal para a central, que só depois contata alguém da rua.


Texto Anterior: Crime: Alemão, que participou de furto ao BC, é condenado a 49 anos
Próximo Texto: Outro lado: CET não diz como agentes se comunicam
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.