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Sem palmtop, agente liga a cobrar para CET para passar ocorrência
Na falta de aparelho de comunicação, marronzinho apela a celulares próprios ou a orelhões para informar registros
Segundo agentes ouvidos pela Folha, problema afeta agilidade na hora de lidar com obstáculos à fluidez do tráfego, como acidentes
RICARDO SANGIOVANNI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Agentes de trânsito têm trabalhado nas ruas de São Paulo
sem equipamentos de comunicação da CET (Companhia de
Engenharia de Tráfego) e com a
orientação de avisar sobre
ocorrências que atrapalham a
fluidez ou segurança viária por
meio de telefonemas a cobrar
-feitos do celular pessoal ou
até mesmo de orelhão.
A situação afeta a agilidade
para a retirada de obstáculos
que contribuem com os congestionamentos. Ela foi confirmada pela Folha em entrevistas reservadas com marronzinhos que trabalham em ruas da
zona sul e do centro da capital.
A reclamação já chegou também aos órgãos de representação dos funcionários da CET.
A falta de aparelhos de comunicação foi agravada nos últimos dois meses, por conta do
encerramento do contrato com
empresas que forneciam palmtops -computadores de mão-
para que os agentes de rua os
utilizassem como um celular.
Ele vinha sendo renovado a
cada seis meses, desde 2005,
por meio de contratos de emergência. Mas, diante de pressões
inclusive da Promotoria devido
às sucessivas contratações dos
palmtops sem licitação, foi
cancelado no final de 2007.
A CET não explica como tem
ocorrido a comunicação com
os marronzinhos desde então.
A Folha apurou que, apesar do
fim do contrato, ao menos parte dos palmtops ainda é usada
pelos agentes até hoje, mas não
há reposições nem conserto.
Nas ruas, marronzinhos dizem que, além dos telefonemas
a cobrar, a orientação dos chefes é sair atrás de outros colegas que possuam palmtops.
O padrão, dizem os agentes, é
comunicar a central antes de
agir em emergências, como acidentes ou obstrução de vias. Na
prática, porém, muitos casos
põem os fiscais em apuros.
"Ontem [anteontem, dia em
que faltou energia em 21 bairros], quando apagou um semáforo do cruzamento, fiquei sem
saber se saía para procurar ajuda ou se cuidava do trânsito",
afirma Sérgio (nome fictício),
que está na CET há seis anos e
que não tem celular pessoal para ligar a cobrar para a central.
Segundo a própria CET, a interdição de uma faixa por 15
minutos é suficiente para provocar 3 km de engarrafamentos -que demoram meia hora
para serem dissipados.
Ou seja, quanto mais demora
a tomada de decisões e envio de
equipes pela CET, mais aumentam os engarrafamentos.
Um executivo da companhia
afirma que a dificuldade de
contato com os fiscais de rua
atinge principalmente os últimos turnos de trabalho. Os
palmtops que ainda estão em
funcionamento ficam sem bateria e não há outros para fazer
as reposições ao longo do dia.
Um agente diz que há quatro
meses não recebe palmtop
quando é escalado para pontos
fixos. "Hoje, até cruzamentos
importantes, como na Paulista,
Rebouças, Nove de Julho e Faria Lima, estão sem palmtop".
Os problemas de comunicação -inclusive relatos de agentes orientados a telefonar a cobrar- já chegaram ao Conselho dos Representantes dos
Empregados da CET. O presidente do órgão, Marcos Batista
de Souza, diz que as reivindicações para resolvê-los são discutidas há mais de dois anos.
Pelo modelo de comunicação, via rádio, adotado até
2005, cada vez que um agente
avisava a central sobre determinada interferência no trânsito, os marronzinhos que estavam nas imediações ouviam e
podiam se deslocar imediatamente. Hoje, com os palmtops,
ela é "fechada" -vai do fiscal
para a central, que só depois
contata alguém da rua.
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