São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Valdemar de Castro e a luta no cerrado

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O cerrado era a fortaleza da vida dele", diz a filha, baixinho para não chamar atenção na cooperativa do pai, onde se discutem os rumos de agora em diante. Mas conclui que ele foi "um guerreiro do cerrado brasileiro".
Filho de agricultores, descendente de índios bororos, Valdemar de Castro se formou em psicologia, profissão que deixou para acompanhar o cineasta Adrian Cowell. Embrenharam-se na Amazônia por uma década, nos anos 1980, para a série "A Década da Destruição".
Queimadas, desmatamentos e miséria foram levados ao ar na Europa e no mundo, antes mesmo da Conferência Rio-92. Castro foi como um guia para Cowell, na esteira da atuação de Chico Mendes.
Quando "desenvolvimento sustentável" ainda não era termo corriqueiro, ele já se envolvia na luta dos extrativistas. Só realizou seu sonho, de tornar a floresta rentável para todos, em 1996, ao criar a cooperativa Agrotec.
Lá se produzem, hoje, 20 medicamentos com princípios ativos de espécies do cerrado. E lá ele passava a vida, lutando para convencer o governo federal a adotar os fitoterápicos no SUS.
Castro morreu no último dia 27 em Diorama (GO), aos 52, de infarto, e muitas foram as cartas que chegaram na cooperativa. "Nasceste no cerrado, amaste e ensinaste a amar da pequena drósera ao grande Araguaia", escreve um amigo. "Foste enterrado onde queria, no centro da tua fortaleza, morreste no campo de batalha, lutando com a bandeira dos fitoterápicos. Descansa em paz, guerreiro do cerrado." Eis o epíteto.


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