|
Texto Anterior | Índice
Valdemar de Castro e a luta no cerrado
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"O cerrado era a fortaleza
da vida dele", diz a filha, baixinho para não chamar atenção na cooperativa do pai,
onde se discutem os rumos
de agora em diante. Mas conclui que ele foi "um guerreiro
do cerrado brasileiro".
Filho de agricultores, descendente de índios bororos,
Valdemar de Castro se formou em psicologia, profissão
que deixou para acompanhar
o cineasta Adrian Cowell.
Embrenharam-se na Amazônia por uma década, nos
anos 1980, para a série "A
Década da Destruição".
Queimadas, desmatamentos e miséria foram levados
ao ar na Europa e no mundo,
antes mesmo da Conferência
Rio-92. Castro foi como um
guia para Cowell, na esteira
da atuação de Chico Mendes.
Quando "desenvolvimento sustentável" ainda não era
termo corriqueiro, ele já se
envolvia na luta dos extrativistas. Só realizou seu sonho,
de tornar a floresta rentável
para todos, em 1996, ao criar
a cooperativa Agrotec.
Lá se produzem, hoje, 20
medicamentos com princípios ativos de espécies do
cerrado. E lá ele passava a vida, lutando para convencer o
governo federal a adotar os
fitoterápicos no SUS.
Castro morreu no último
dia 27 em Diorama (GO), aos
52, de infarto, e muitas foram as cartas que chegaram
na cooperativa. "Nasceste no
cerrado, amaste e ensinaste a
amar da pequena drósera ao
grande Araguaia", escreve
um amigo. "Foste enterrado
onde queria, no centro da tua
fortaleza, morreste no campo de batalha, lutando com a
bandeira dos fitoterápicos.
Descansa em paz, guerreiro
do cerrado." Eis o epíteto.
obituario@folhasp.com.br
Texto Anterior: Mortes Índice
|