São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

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Após incêndio, Rio abre seu "Carnaval solidário"

Agremiações atingidas por fogo refazem tudo com ajuda das concorrentes

PEDRO SOARES
DO RIO

A costureira Terezinha Moura, 68, ficou mais de 20 dias sem voltar para casa, em Niterói. Dormiu cerca de quatro horas por noite, acomodada no último andar do barracão ocupado pela Grande Rio após o incêndio que destruiu três galpões na Cidade do Samba, em 7 de fevereiro.
O sacrifício tinha objetivo: ela e mais quatro pessoas tiveram de refazer 500 fantasias destruídas pelo fogo.
A determinação de Terezinha ilustra o espírito dos desfiles das escolas de samba do grupo especial, que começam hoje às 21h. "Resta muita tristeza, mas o fogo não apagou a garra e a alegria de desfilar", diz Helinho de Oliveira, presidente da escola.
A agremiação de Duque de Caxias foi a mais afetada pelas chamas, que atingiu também os barracões da Portela e da União da Ilha. Os oito carros alegóricos e as 3.000 fantasias foram destruídos.
Em 20 dias, a Grande Rio refez quatro alegorias -bem acabadas, mas menos luxuosas que a concepção original.
Antes do incêndio, a escola, que desfila amanhã, era apontada como favorita, ao lado da campeã Unidos da Tijuca, que se apresenta hoje, e do Salgueiro, também escalado para segunda.
Tinha o maior orçamento entre as escolas: R$ 10 milhões. Gastou mais R$ 4 milhões (R$ 1,5 milhão doado pela prefeitura) para refazer 3.000 fantasias e alegorias.
"Endividei a escola em R$ 600 mil. Vou comprometer o Carnaval de 2012, mas não podia fazer feio para a minha comunidade", diz Oliveira.
O drama que atingiu três escolas uniu todas elas. Carros da Grande Rio foram reconstruídos sobre chassis cedidos pelas concorrentes.
Antigos portelenses, alguns há muito afastados da escola, ocuparam uma antiga quadra em Madureira para refazer 1.500 fantasias.
"Em muitos anos de Carnaval, nunca presenciei uma força tão grande", diz o carnavalesco Roberto Szaniecki.
A União da Ilha fez um ateliê de fantasias num espaço cedido pelo Salgueiro. Usou equipamentos de Beija-Flor, Mocidade e Vila Isabel.
"Sem ajuda, não seria possível refazer as 3.000 fantasias perdidas", diz Alex de Souza, carnavalesco da Ilha. "Perdemos um trabalho de quatro meses. Amigos meus, que nada têm a ver com a escola, vieram trabalhar."
A escola só teve uma alegoria danificada, mas já refeita. Na Portela, o fogo destruiu apenas as alegorias.
Por causa da tragédia, nenhuma agremiação será rebaixada em 2011. As afetadas pelo fogo não serão julgadas.
"Mas isso não vai diminuir nosso ímpeto. Nós vamos desfilar para ganhar, mesmo sem receber as notas", afirma Cahe Rodrigues, carnavalesco da Grande Rio.


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