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RECEITA DE NOVA YORK
Prefeito destaca participação social, integração das forças policiais e investimento em tecnologia
Basta vontade para mudar polícia, diz Giuliani
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York
A queda nos
índices de criminalidade é
um dos principais trunfos de
Rudolph Giuliani para ser reeleito prefeito de
Nova York em novembro.
Numa cidade dominada pelos
democratas, o republicano Giuliani vibra com as últimas pesquisas.
De acordo com o ``The New
York Times'', 74% dos moradores
de Nova York aprovam a política
de segurança do atual prefeito. Dos
entrevistados, 46% disseram que
ele merece a reeleição.
As estatísticas do Departamento
de Polícia de Nova York mostram
queda contínua no número de crimes e de roubos de carro, duas das
maiores preocupações da população quando Giuliani assumiu a
prefeitura, em 1994.
No primeiro trimestre de 1997,
por exemplo, houve 194 assassinatos na cidade, queda de 27% em relação ao mesmo período do ano
anterior, quando o número foi de
266. O número de roubos de carro
também caiu, passando de 16.329
no primeiro trimestre de 1996 para
13.004 no primeiro de 1997.
``As estatísticas todas estão do
nosso lado. A cada ano, o objetivo
é melhorar mais um pouco.''
Em entrevista à Folha, Giuliani
faz um balanço de sua administração, apresenta suas soluções para
o problema da violência e condena
o abuso policial.
O prefeito conta que o cidadão
tem um número de telefone para
reclamar, caso se sinta ofendido
por um policial. Um dos mandamentos da polícia nova-iorquina é
a cortesia. ``O policial é treinado
para tratar bem o cidadão.''
Segundo Giuliani, cada reclamação é investigada em um processo
administrativo dentro do distrito
policial. ``Muitos policiais já foram expulsos da corporação.''
Leia a entrevista completa.
Folha - Um dos principais marcos
da sua administração foi a redução
da criminalidade na cidade de Nova York. Qual a sua receita?
Rudolph Giuliani - Encará-lo de
frente. Decidi investir na segurança, porque era uma das principais
preocupações de nossos cidadãos.
Investir, investir mesmo. Unifiquei a polícia de Nova York. Ela
passou a trabalhar como se fosse
uma só, porque é, de fato, uma só.
Folha - Como assim?
Giuliani - Antes, a polícia era
compartimentalizada. A polícia de
trânsito, por exemplo, cuidava de
um assalto no metrô, mas não era
responsável pelo que acontecesse
na calçada. Agora não. Polícia é
polícia e deve fazer um trabalho
integrado.
Folha - Qual foi o segredo para
integrar a polícia?
Giuliani - Investimos em tecnologia. Todas as delegacias, e são 76
em Nova York, são informatizadas. Só assim elas podem fazer um
trabalho interligado.
Também apostamos na troca de
informações. Toda semana o chefe
de polícia faz uma reunião com todos os chefes dos 76 distritos policiais de Nova York.
Todos reportam o que acontece
em seu setor. Se há um problema,
digamos que muitos furtos na Times Square, o chefe de polícia exige providências e na semana seguinte vai cobrar resultados.
São reuniões em que todos participam, trocando idéias, propondo
soluções. Acabei com as divisões
que havia entre os policiais.
O governante tem de pensar em
tudo. Há alguns anos, grande parte
dos chamados para a polícia, no
telefone 911, não passava de trote.
Hoje, o 911 rastreia telefones. Se
alguém passa trote e atrapalha o
trabalho da polícia, vai preso. Perdíamos muito tempo com trotes.
Hoje não mais. E não adianta fazer
sem alarido. O cidadão tem de saber que quem passa trote pode ir
preso para parar de passar.
Folha - E o ``Tolerância Zero''?
Giuliani - Para termos paz, não
podemos tolerar pequenos abusos. Enquadrando os pequenos
delinquentes, o governo mostra
uma postura firme. As estatísticas
estão do nosso lado. E a cada ano o
objetivo é melhorar mais.
Folha - Mas, enquadrando todos,
as prisões não ficam pequenas?
Em países do Terceiro Mundo, como o Brasil, as condições dos presídios são das piores...
Giuliani - Quem comete um pequeno delito não fica necessariamente encarceirado. Vai a um tribunal, pode pagar fiança... Não
tendo dinheiro, o que é perfeitamente compreensível, faz trabalhos comunitários.
Folha - Que tipo de trabalho?
Giuliani - Quem picha o chão,
por exemplo, pode passar 100 horas limpando calçadas.
Digo de novo: um governante
deve pensar em todos os detalhes.
A impressão digital do delinquente, pelo computador, não fica restrita à polícia de Nova York. Vai
para a estadual, a federal. Estamos
contribuindo com o país. Você viu
nossas delegacias? O distrito policial que temos no Brooklyn? Veja
as estatísticas do Brooklyn.
Folha - E quanto à figura humana
do policial?
Giuliani - É outra preocupação
da minha administração. Fazemos
sempre programas de reciclagem.
O policial passa por um ótimo
treinamento na Academia de Polícia durante seis meses. E depois
volta continuamente para aprimorar sua parte física e psicológica.
Apesar de alguns desencontros,
a classe reconhece a importância
do que tenho feito para a Polícia de
Nova York e os cidadãos. Dei qualidade de vida para todos.
Folha - Quais desencontros?
Giuliani - Temos uma disputa
trabalhista, eles estão pedindo aumento. Estamos negociando.
Folha - Que outros feitos o senhor destacaria em sua gestão?
Giuliani - Vários. O número de
empregos cresceu na ordem de
quase 60 mil por ano). Os turistas
voltaram a Nova York, a cidade recuperou seu orgulho.
O cidadão voltou a participar.
Com a participação da comunidade, a integração foi completa.
Folha - Como se dá a participação da sociedade?
Giuliani - Em vários aspectos.
Desde a polícia, que trabalha integrada com os seguranças particulares, até serviços de limpeza de
ruas, parques... Condomínios ou
áreas contratam funcionários que
ajudam os da prefeitura até para
arrumar um semáforo.
Enfim, é um governo com e para
a sociedade. Numa cidade dominada pelos democratas, tenho tido
a aprovação popular, como mostram as últimas pesquisas.
Folha - E os sem-teto?
Giuliani - Você quase não os vê.
Há alguns anos, eles viviam empilhados. O que fiz? Ofereci emprego
para eles. Limpam parques, ruas,
até delegacias.
Pouco a pouco, quero reintegrá-los à sociedade. Estou mantendo contatos com empresas para
que, no futuro, eles tenham novos
empregos, uma espécie de plano
de carreira. De varredor para caixa
do McDonald's e assim por diante.
Basta o governo querer, e o
sem-teto, também. Percebi que
nem todos, infelizmente, querem.
Folha - O senhor acha que alguns
não trabalham por preguiça?
Giuliani - Alguns simplesmente
não querem fazer nada. Mas o cidadão comum não tolera mais o
sem-teto, como há alguns anos.
Quem quer ir ao Central Park
com crianças e almoçar ao lado de
gente maltrapilha, que passou a
noite bebendo? Mas estou apertando quem não quer trabalhar.
Não pode viver às custas do governo. Só recebe ajuda se trabalhar.
Folha - Se quiser ficar deitado na
rua sem fazer nada, não pode?
Giuliani - Claro que não. Se fica
deitado na calçada, obstrui a passagem, o que não é permitido.
Folha - No Brasil, o assunto da semana foi uma série de imagens de
abuso de ação policial, cenas de
violência explícita, que revoltaram
a opinião pública. Qual sua opinião sobre o assunto?
Giuliani - Não vou analisar um
caso que não conheço de perto.
Posso falar de Nova York, que
tem um número de telefone para
evitar não só casos parecidos, mas
casos muito menores.
Se queremos a integração polícia-sociedade, queremos um policial cortês. O policial é treinado
para tratar bem o cidadão, ser educado e prestativo ao telefone ou
pessoalmente.
Se alguém se sentir desrespeitado, liga e terá o caso apurado.
Sendo um caso simples, um processo administrativo resolve. Há
sempre um julgamento dentro da
corporação, que muitas vezes acaba expurgando policiais. Muitos
policiais já foram expulsos.
Folha - E em casos mais graves,
como vimos no Brasil?
Giuliani - Em casos mais graves,
um promotor independente julga
o processo.
Folha - Sua receita funcionaria
em países com problemas econômico-sociais muito mais graves,
como é o caso do Brasil?
Giuliani - Pode funcionar. Basta
ter vontade política, priorizar e começar a agir. O trabalho tem de ser
integrado, mexer com a sociedade.
Folha - Se o senhor for reeleito,
sua administração manterá a segurança como prioridade?
Giuliani - A cidade hoje já está
melhor, já está mudada. É hora de
pensar no futuro, nas próximas
gerações, nos problemas estruturais, para que os conjunturais não
retornem. Quero melhorar a educação. Reformei colégios, melhorei os salários dos professores,
quero repetir na educação o êxito
que tivemos na segurança.
A sociedade tem de trabalhar conosco. Quero assistentes sociais
nas escolas, maior participação
dos pais, de entidades de bairros
na educação das crianças. É um
trabalho para o futuro.
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