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CRIME ORGANIZADO
Ex-chefe da Polícia Civil do Paraná é acusado de ligação com criminosos e diz que PM pode matá-lo
Foragido da CPI, ex-delegado teme morte
JOSÉ MASCHIO
Da Agência Folha, em Curitiba
O ex-delegado-geral da Polícia Civil do Paraná João
Ricardo Kepes Noronha, 41, acusado
pela CPI do Narcotráfico de comandar o crime organizado dentro da Polícia Civil do
Estado, rompeu ontem o silêncio
e falou, com exclusividade, à
Agência Folha.
Foragido desde 2 de março,
quando teve sua prisão decretada,
ele afirmou que a CPI agiu no Paraná como um tribunal de exceção, "como nos tempos da Inquisição", não lhe dando chance de
defesa. Disse que só irá aparecer
depois que seus advogados conseguirem na Justiça a revogação de
seu mandado de prisão.
Noronha afirmou também que
recebeu informações de "dentro
da PM" que a P-2 (polícia secreta
da polícia paranaense) teria "ajustado" a sua morte em caso de ele
decidir se entregar às autoridades.
O ex-delegado está sendo procurado pelas Polícias Civil, Militar
e Federal. Concordou em falar
com a condição de que não fosse
informada sua localização.
Noronha recebeu a Agência Folha em uma sala espaçosa de um
apartamento de classe média. Sua
maior preocupação era não deixar ninguém passar perto da janela. Acompanharam a entrevista,
além do ex-delegado, três pessoas
(dois homens e uma mulher, que
parecia ser a dona da casa).
Vestindo calça jeans e camisa
branca, Noronha só se emocionou uma vez, quando falou que
sente saudades de seus três filhos.
Disse ter perdido 10 kg no último
mês e estar aflito com a situação.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que teve duração de quatro horas.
Agência Folha - O sr. é acusado de chefiar o crime organizado dentro da polícia paranaense. O que tem a dizer sobre isso?
João Ricardo Kepes Noronha
-É uma acusação absurda. Sou o
delegado que mais prendeu policiais, civis e militares envolvidos
com o crime no Paraná. Nunca
respondi a nenhuma acusação ligada à área de entorpecentes. É
absurdo que em uma investigação de dois, três dias eu seja
apontado como um dos maiores
criminosos do Paraná.
Agência Folha - E os depoimentos na CPI contra o sr.?
Noronha - Os deputados da CPI
estabeleceram um tribunal de exceção, dando credibilidade a pessoas condenadas. Agiu como nos
tempos da Inquisição.
Agência Folha - Por que então
o sr. fugiu?
Noronha - As provas contra
mim são provas ilícitas. Eu não
iria me expor a uma execração
pública. Não deram oportunidade nem sequer de eu prestar esclarecimentos. Com base em declarações de presos, de mascarados,
do Neves (major da PM Waldir
Copetti Neves), de uma presa,
Shirley Pontes, que havia sido detida por mim, eles (os parlamentares integrantes da CPI) foram
induzidos a pedir minha prisão
sem me ouvir nem indiciar.
Agência Folha - Mas o sr. foi
convocado pela CPI para prestar
depoimento no dia 2 de março e
não apareceu?
Noronha - Meu depoimento era
no dia 1º. Foi adiado para o dia 2, e
eu soube, de dentro da Assembléia Legislativa, que estava combinado: "Vamos algemar ele, filmar, vamos fazer e acontecer". Eu
não admiti essa situação.
Agência Folha - O sr. não vai se
entregar?
Noronha - Eu não compareci
até agora porque a ordem de prisão se baseou em provas viciadas.
Eu acredito na independência do
Judiciário que irá, ao analisar tudo isso na hora certa, verificar que
tudo foi uma grande armação,
uma perseguição contra mim.
Agência Folha -O secretário de
Segurança Pública do Paraná,
José Tavares, disse que já existem provas de que o sr. participa do esquema de desmanche
de veículos.
Noronha -Essas investigações se
assemelham aos tempos da Inquisição. Após provada minha inocência, serão tomadas medidas
judiciais contra quem tentou me
envolver com o crime.
Agência Folha - Neste período
fugindo, por onde o sr. andou?
Como foram esses dias?
Noronha - Foram os piores 30
dias de minha vida. Longe da família, sei que até os amigos dos
meus filhos foram proibidos de ir
à minha casa. Nesse tempo eu fiquei fora do Estado. É para onde
vou voltar até resolver minha situação. Consta -tenho fonte na
própria PM- que a P-2 teria
ajustado, o major Waldir Neves, a
minha execução na hora da prisão, simulando uma reação.
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