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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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VIOLÊNCIA

Dos 21 casos registrados nesse primeiro trimestre, quase todas as vítimas receberam três ou mais tiros na cabeça

Mortes em Caraguatatuba sugerem extermínio

MARIA TERESA MORAES
DA FOLHA VALE

Pelo menos 20 dos 21 assassinatos registrados no primeiro trimestre deste ano no município de Caraguatatuba, o maior do litoral norte de São Paulo, com 78 mil habitantes, apresentam características de ações de extermínio.
Levantamento feito com base nos boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil mostra que a maioria das vítimas, 16, foi assassinada com três tiros ou mais, quase sempre na cabeça.
A maioria dos crimes ocorreu durante a noite e a madrugada, sem testemunhas. Em vários casos, os corpos foram encontrados de bruços, em locais ermos.
O total de assassinatos nos três primeiros meses do ano é muito superior ao verificado no mesmo período de 2001 (seis casos) e de 2002 (cinco) e mais da metade do total do ano passado (41), quando o desempenho da cidade nesse tipo de crime foi recorde.
Segundo números da Secretaria de Estado da Segurança Pública, os 41 assassinatos ocorridos na cidade em 2002 foram 46,4% maior que o verificado no ano anterior, quando o município teve 28 homicídios -em todo o litoral norte, foram registrados 98 assassinatos no ano passado.
A atuação de grupos de extermínio na cidade também é a hipótese mais provável, segundo policiais ouvidos pela Folha.
Já para os comandos das polícias Civil e Militar, o alto número de assassinatos na cidade pode estar ligado ao aumento da ação do tráfico de drogas na região.
Para o delegado-titular de Caraguá, Fábio de Carvalho Joaquim, os assassinatos na cidade têm, sim, características de extermínio, mas por parte do tráfico.
Na semana passada, um homem morto durante tiroteio em que houve outras duas mortes foi apontado pela polícia como sendo um justiceiro contratado por traficantes para eliminar rivais.
Embora quase todas as vítimas sejam moradores da cidade, a maioria de bairros pobres e populosos, a Polícia Civil acredita que o crescimento das mortes está relacionado à temporada de verão, meses em que Caraguá recebe cerca de 240 mil visitantes.
Segundo o delegado, cerca de 70% dos crimes ocorridos no período foram solucionados -as vítimas seriam consumidores ou traficantes de drogas.
O pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo) Luiz Antônio de Souza classificou de "ridículas" as justificativas dadas pelas autoridades policiais para o aumento da violência.
"Dizer que as pessoas morreram porque era verão é um absurdo. Nos anos anteriores, no mesmo período, também era verão e o número de mortes era menor. Está evidente que um grupo de extermínio atua na cidade", disse.
Para a Polícia Civil, o crime na cidade é facilitado pelo alto número de casas de veraneio (58% do total) e de terrenos de proprietários de fora do município (60% das propriedades).
Segundo os policiais, em alguns bairros, principalmente na periferia da cidade, há ruas inteiras com casas sem moradores (ficam fechadas a maior parte do ano) e muitas residências abandonadas, além de terrenos baldios.
Líderes comunitários dos bairros que concentram a maioria dos homicídios em Caraguá afirmaram que a falta policiamento na periferia contribuiu para o alto número de ocorrências.
No bairro do Perequê-Mirim, onde foram registradas 5 das 21 mortes do trimestre, a sede da SAB (Sociedade Amigos de Bairro) foi totalmente destruída, segundo o presidente da entidade, Mário Noronha de Souza, 59, por usuários de droga da região.
"Para comprar droga, eles [os usuários" roubam fios de luz, janelas e cadeiras da sede", disse.
Já a presidente da SAB do Indaiá -bairro onde ocorreram dois assassinatos neste ano-, Leila do Carmo Becker, acredita que a falta de programas sociais para os aos jovens carentes também contribui para o aumento da violência.


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