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JUVENTUDE ENCARCERADA
Pelo menos 44 funcionários ficaram feridos no motim, que só acabou após intervenção da PM
Febem enfrenta 1ª rebelião na gestão Lembo
SIMONE HARNIK
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Febem Tatuapé, a maior do
Estado e cuja desativação se arrasta por anos, enfrentou a primeira
rebelião da gestão Cláudio Lembo
(PFL). O motim -iniciado na
noite de terça e que só foi controlado com a ação da Tropa de Choque da Polícia Militar às 16h30 de
ontem- deixou feridos 44 funcionários e 18 adolescentes.
Os prejuízos causados pela destruição ainda não foram contabilizados. Cerca de 40 funcionários
foram mantidos reféns. Um deles,
que tentou escapar dos rebelados,
foi operado após ter fraturado o
tornozelo ao pular do telhado de
uma das unidades.
A rebelião atingiu 7 das 16 unidades em que, até ontem, estavam
1.228 adolescentes. Mesmo após
várias unidades terem sido destruídas, nenhum deles havia sido
transferido do local.
A Febem afirma que os internos
se rebelaram "em solidariedade"
a um grupo que estava de castigo
(isolados) após tentativa frustrada de fuga. Os rebelados, ainda de
acordo com a Febem, exigiram a
demissão de um dos diretores. Já
as entidades de direitos humanos
afirmam que o motim foi conseqüência de agressões recentes.
Durante a madrugada, os internos derrubaram muros, quebraram grades e atearam fogo nos
colchões. A unidade 23, uma das
menores do complexo, ficou totalmente destruída. "Lá [na 23] ficou tudo queimado, tivemos de
entrar e vimos tudo quente e alagado depois que o fogo foi apagado. Perdemos todo o trabalho que
fazemos ali", conta uma funcionária, que não quer se identificar.
Horas depois, houve novo tumulto no complexo. Um grupo de
internos ateou fogo em colchões e
quebrou mais telhas, usadas para
atingir funcionários. De acordo
com a Febem, três funcionários
foram feridos.
Demolição simbólica
O motim ocorreu uma semana
após a demolição de parte de uma
das unidades do complexo -que
contou com a presença do ex-governador e presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB).
No entanto, funcionários afirmam que os adolescentes não estão sendo retirados do local, apenas remanejados dentro das unidades, que, até então, separavam
os adolescentes por níveis de periculosidade e reincidência. "A gente esperava que essa rebelião fosse
acontecer a qualquer momento.
Estão tirando jovens do circuito
médio e colocando no grave", disse uma funcionária da unidade 14,
que preferiu não se identificar.
A rebelião começou por volta
das 22h de terça-feira e atingiu todo o circuito grave (menores reincidentes, infratores de 18 a 20 anos
e delitos graves).
A assessoria da Febem afirma
que a presidente da entidade, Berenice Gianella, pediu ao secretário da Segurança Pública, Saulo
de Castro Abreu Filho, que a Tropa de Choque fosse acionada para
conter os internos.
Segundo a Febem, a PM só entrou porque não havia mais como
negociar com os rebelados, que já
estavam com os reféns há cerca de
dez horas. Mais de 200 homens,
incluindo a cavalaria, entraram
no complexo. Helicópteros da polícia também foram ao local. De
acordo com a PM, 576 dos 1.228
jovens do complexo se rebelaram.
Refém
Uma funcionária que foi mantida refém por quase 12 horas diz
que a rebelião foi, na realidade,
um protesto. "O que aconteceu
foi que os meninos se reuniram
para fazer um protesto para libertar outros que estavam em tranca
[quando há um castigo por tempo
indeterminado]". Ela diz, apesar
de toda a violência, que não se
machucou. "Fiquei sentada num
canto da unidade." Ela afirma que
não desistirá do trabalho. "Acho
que dá para voltar, sim", disse
ainda no pronto-socorro.
Conceição Paganele, presidente
da Amar (associação de familiares
de internos), afirma que a rebelião foi uma resposta às agressões.
"Os jovens subiram ao telhado
para pedir providências contra os
maus-tratos", disse.
Ariel de Castro Alves, do Movimento Nacional de Direitos Humanos, afirma que, durante visita
recente às unidades, alguns internos das unidades 14, 17 e 19 apresentam marcas de espancamento.
O Ministério Público informou
ontem que pedirá a realização de
exames de corpo de delito em todos os adolescentes e funcionários envolvidos na rebelião. Imagens exibidas pela TV Record
mostraram PMs agredindo jovens já rendidos. A Secretaria da
Segurança Pública não quis comentar o assunto.
Durante revista, a PM encontrou naifas (facas artesanais) e celulares usados pelos internos.
Colaboraram RACHEL AÑÓN, da Agência
Folha, e LUÍSA BRITO, da Reportagem
Local
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