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FORA DO HABITAT
Ambulantes oferecem animal por R$ 30 em uma caixa coberta por saco plástico; venda é crime ambiental
25 de Março tem comércio ilegal de jabuti
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio à pirataria de CDs de
música, informática e óculos de
sol, um novo produto ilegal chegou à 25 de Março, uma das principais ruas do comércio popular
paulistano. Filhotes de jabuti são
vendidos por ambulantes, que dizem trazer os animais da Bahia.
Com cerca de 7 cm, o réptil fica
exposto na mão do vendedor e, a
algum sinal de movimentação estranha, é coberto com papel ou
colocado em um saco plástico. A
compra e a venda do bichinho são
crime ambiental e podem render
prisão de seis meses a um ano.
"Cada um custa R$ 30", conta o
vendedor. "Se você for levar logo
dois, faço por R$ 55." Os animais
ficam "estocados" em uma caixa
envolta por um saco amarelo.
Quando o cliente quer ver outro
bichinho, o vendedor cruza a rua
e procura o colega com a caixa.
O público pára. Alguns efetuam
a compra, sem saber que é crime.
Pela lei, só é permitido comprar
jabutis de criadouros autorizados.
Segundo a funcionária de uma
loja, os vendedores de jabutis não
têm ponto fixo, com medo da fiscalização. "Às vezes, eles ficam
por aqui [altura do número 900],
às vezes, mais para o começo da
rua", diz. O comércio ocorre perto de ambulantes que vendem
cortadores de legumes. Esses acabam fornecendo cenoura e repolho ralado para os bichos.
"Olha como ela está ligeirinha",
mostra o vendedor, sacudindo o
animal, que chama de tartaruga,
de cabeça para baixo. "Esta aqui
está bem sadiazinha. Não tem
problema de saúde, não", diz.
Mas, segundo a veterinária Ângela Branco, coordenadora de
projetos da Renctas (ONG que
combate o tráfico de animais), os
jabutis sentem bastante os maus-tratos. "Quando fica de cabeça para baixo, o animal mexe as patas e
tira a cabeça do casco. Fica tentando voltar à posição", explica.
"O animal pode ter os órgãos
comprimidos pela carapaça e,
quando fica em piso inadequado,
concreto, não consegue andar",
diz. Na natureza, o jabuti chega a
viver cem anos e a pesar 7 kg.
Seu ambiente no Nordeste é
mais quente e úmido e, segundo a
veterinária, muitos desenvolvem
problemas respiratórios por conta da diferença de temperatura.
Quem compra o jabuti na rua
recebe orientações erradas. O
vendedor diz que o animal deve
ser deixado na água por um tempo e, depois, retirado. Isso amolece a carapaça. "O jabuti é um animal terrestre. Pode beber água,
mas não vive nesse ambiente." A
alimentação também não deve
ser feita apenas com legumes. "Os
jabutis precisam de minerais e
proteínas. Na natureza eles comem detritos, flores e frutos."
Fiscalização
Segundo o Ibama (agência ambiental federal), a venda de jabutis
silvestres é crime de tráfico de animais e vem sendo combatida.
"Mas é difícil manter os autores
fora da atividade, é um crime considerado de menor periculosidade. Quem já foi processado responde em liberdade", afirmou o
chefe do departamento de fiscalização do Ibama em São Paulo,
Luís Antônio Lima. O órgão, no
entanto, afirma que a fiscalização
é responsabilidade estadual.
A Polícia Ambiental, que cuida
desse crime no Estado, diz fazer o
combate sempre que é acionada
por denúncia. A 300 metros do
comércio há uma base da Polícia
Militar.
(SIMONE HARNIK)
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