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Cai apoio à pena de morte, e país fica dividido
Pesquisa realizada em março mostra que 47% dos brasileiros votariam a favor de lei para restabelecer a pena capital
Índice representa queda de oito pontos percentuais em relação a levantamento realizado no ano passado, quando apoio era de 55%
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa Datafolha sobre a pena de morte revela o
quanto o apoio a esse tipo de
medida extrema pode ser circunstancial e emotivo. No ano
passado, logo após o assassinato do garoto João Hélio, 6, no
Rio, 55% dos brasileiros apoiavam a adoção da pena de morte
no país. Era a maior taxa desde
1993, quando um índice idêntico ao de 2007 foi apurado.
Levantamento realizado entre 25 e 27 de março mostra que
esse índice tinha algo de volátil:
47% dos brasileiros votariam
agora a favor de uma lei para
restabelecer a pena de morte
no país. A última vez que o Brasil aplicou legalmente esse tipo
de pena foi em 1855.
Os 47% representam uma
queda de oito pontos percentuais em relação ao ano passado. Declararam-se contra esse
tipo de medida 46% dos entrevistados. Em março de 2007,
40% se diziam contrários.
O Datafolha entrevistou
4.044 brasileiros com 16 anos
ou mais em 159 municípios. A
margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
A pesquisa de março último
mostra o quanto o tema divide
os brasileiros: a diferença entre
os que apóiam e os que são contrários à pena de morte é de um
ponto percentual -ou seja, está
dentro da margem de erro, o
que indica uma situação de empate. No ano passado, quando o
garoto João Hélio foi arrastado
por um carro nas ruas do Rio,
essa diferença era de 15 pontos.
Essa divisão sobre a pena de
morte não era registrada em
pesquisas do Datafolha desde
2003. Naquele ano, 49% se declararam a favor e 47% contra.
Nas quatro pesquisas seguintes, a parcela de brasileiros a favor sempre superou os que
eram contra a pena de morte.
Uma das maiores quedas do
apoio à pena de morte ocorreu
no segmento mais rico da sociedade -os que têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos. Nesse segmento, o apoio caiu de 64% em
2007 para 47% agora. Os que
recusam esse tipo de medida
cresceram na mesma proporção, de 34% para 51%.
Entre os mais pobres, cuja
renda familiar mensal não passa de dois salários mínimos, a
aprovação à pena de morte recuou oito pontos percentuais
-foi de 52% para 44%.
Os mais pobres estão entre os
que mais rejeitam a medida. O
índice de 44% é o segundo mais
baixo de apoio à pena. Só entre
as mulheres ele é menor -43%.
O maior repúdio à adoção da
pena de morte ocorre entre os
que têm curso superior. É um
dos poucos segmentos em que
taxa de reprovação ultrapassa
os 50% -é de 51%.
Outra queda expressiva de
apoio à pena capital foi registrada entre os moradores da região Sul do país. Foi de 16 pontos percentuais -de 66% no
ano passado para 50% hoje.
A pesquisa flagra a diferença
de mentalidades entre os moradores das cidades do Rio e
de São Paulo. Entre os paulistanos, 52% dizem apoiar a pena
de morte. Já entre os cariocas,
esse índice é nove pontos percentuais inferior, 43%.
Mais racionalidade
Dois pesquisadores de violência ouvidos pela Folha, o sociólogo Claudio Beato e a antropóloga Paula Miraglia, afirmam que o resultado da pesquisa aponta uma volta da racionalidade no debate da pena
de morte. Ambos são contrários a essa medida.
Beato, professor da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), diz que chamou
sua atenção a baixa adesão dos
mais pobres à pena de morte.
"A população mais pobre parece perceber que já existe a
pena de morte informal no
Brasil, praticada pela polícia e
por grupos de extermínio, e
que isso não funciona", afirma.
Isso pode explicar, segundo
Beato, porque os que têm renda familiar de até dois salários
mínimos apóiam menos (44%)
a pena de morte do que aqueles
que ganham mais de dez salários mínimos (47%). Os mais
pobres, de acordo com ele, convivem mais intimamente com a
violência e sabem, empiricamente, que não há "soluções
simplistas" para combatê-la.
Miraglia, diretora-executiva
do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas
para a Prevenção do Delito e
Tratamento do Delinqüente),
afirma que o resultado da pesquisa acompanha uma percepção que ela tem sobre o debate
na área de segurança:
"As pessoas já não acreditam
em soluções mágicas", diz. Para
ela, isso pode ajudar a entender
por que os mais pobres e as
mulheres estão entre os que
mais rejeitam a pena de morte.
Sobre os mais pobres, ela
tem uma hipótese para a rejeição da pena de morte: "Eles sabem que a Justiça se distribui
de maneira desigual e os pobres iriam pagar o pato."
Já as mulheres, diz ela, rejeitam a medida porque historicamente são as maiores vítimas
de violência e conhecem a ineficácia desse tipo de resposta.
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