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SAÚDE/GRAVIDEZ
Pesquisa liga proteína a sucesso em fertilização
Estudo realizado no HC será usado para tentar aumentar chances na gravidez
Avaliação de que substância no útero pode interferir no resultado de tratamentos é polêmica entre especialistas em reprodução assistida
MÁRCIO PINHO
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pesquisa realizada no
HC (Hospital das Clínicas) de
São Paulo mostrou que uma
proteína presente no útero pode estar relacionada ao fracasso
na fertilização artificial e defende que esse dado ajudará a
ciência a fazer justamente o
contrário: aumentar a taxa de
tratamentos bem sucedidos. A
avaliação é polêmica e divide
opiniões de especialistas.
O estudo foi feito com 52 mulheres de 24 a 42 anos participantes do programa de fertilização do HC. Elas foram testadas com a técnica de fertilização in vitro, em que os óvulos
são retirados, fecundados, e
reinseridos já como embriões.
Foram estudadas proteínas
que se expressam no endométrio -parede que reveste o útero considerada pouco receptiva
na fertilização- no ciclo anterior à implantação do embrião.
Conseguiram engravidar
20% das mulheres nas quais a
proteína claudina-4 aparecia
de forma acentuada. Já nas mulheres com baixa presença dessa substância e alta quantidade
da proteína LIF (fator inibidor
de leucemia), a taxa de sucesso
foi de 88%. Estas tiveram 36
mais chances de engravidar.
"O estudo me faz crer que estamos próximos de dois marcadores [proteínas] importantes.
A idéia agora é fazer um painel
de marcadores que vai possibilitar uma probabilidade alta de
gravidez e conhecer mais o perfil de quem engravida", afirma
o autor do estudo, o ginecologista Paulo César Serafini.
Ele diz que fará uma nova
pesquisa com mais pacientes,
envolvendo diversas doenças
ginecológicas e outras proteínas.
Segundo o médico, o resultado já obtido na pesquisa será
usado no tratamento de pacientes no prazo de dois meses.
"Faremos a biopsia para verificar as proteínas e, caso necessário, poderemos tentar influir
pela modificação do ciclo ou indução de ovário", afirma.
O Hospital das Clínicas de
São Paulo é um exemplo comum das dificuldades encontradas pelas mulheres para engravidar. Lá, a taxa de sucesso
em tratamentos de fertilização
in vitro é de apenas 30% -e
muitos casais ficam anos sem
obter respostas ao tratamento.
No HC, cada mulher tem direito a até três tentativas de engravidar por fertilização in vitro. Para Edmund Chada Baracat, da Divisão de Ginecologia
do HC e orientador do estudo, a
maior probabilidade de acerto
poderá facilitar o acesso a tratamentos a mais pacientes.
Segundo Serafini, os benefícios poderão ser estendidos a
diversos tratamentos além da
fertilização in vitro, como a inseminação artificial, já que o
problema de receptividade do
endométrio "é o mesmo".
Controvérsias
Mas nem todos são tão otimistas quanto aos dados divulgados. Especialistas em reprodução assistida questionam o
pequeno número de pacientes
envolvidos no estudo, além do
fato de que a proteína claudina-4 já seja estudada como marcadora de implantação embrionária há dez anos, sem que haja
uma conclusão até agora.
"Há mais de 500 proteínas se
expressando no momento da
implantação. Nenhum grupo
no mundo usa uma marcação
endometrial prévia como critério de cancelamento de ciclo de
fertilização in vitro", afirma o
ginecologista José Gonçalves
Franco Júnior.
Segundo ele, esses marcadores demandam biopsia do endométrio e podem variar o seu
perfil de expressão durante a
estimulação ovariana, o que inviabilizaria a sua utilização na
rotina dos tratamentos. "Não
há nenhum trabalho científico
publicado atestando a obrigatoriedade da execução de um
perfil protéico endometrial antes da fertilização", afirma.
Para o médico Artur Dzik, diretor do Serviço de Esterilidade
Conjugal do Hospital Pérola
Byington, o mistério da implantação embrionária continua. "A comunidade científica
mundial está há pelo menos 30
anos estudando os mecanismos
da implantação embrionária e
ainda sabemos muito pouco."
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