São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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Fotógrafos brasileiros fazem fortuna na cola de Britney Spears

Cerca de dez brasileiros dedicam seus dias inteiros só à pop star; salário de um paparazzo pode girar em torno de US$ 3.000 para profissionais dedicados

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Às 9h do último domingo, o gaúcho Luiz Betat, 36, já despachava no endereço onde dá expediente há mais de três anos: a esquina da casa da cantora Britney Spears, em Hollywood, na Grande Los Angeles (EUA).
A jornada de Luiz -de 12 a 14 horas diárias, seis dias por semana- começa ali, ao lado de cinco colegas de trabalho, todos brasileiros, que formam com ele o grupo de paparazzi MBF.
Nesse dia, a caçada promete. Britney é aguardada para um torneio de golfe. O portão da casa se abre. Sai um carro e metade do grupo segue em disparada. Alarme falso. Era só o pai de Britney, cuja foto não vale quase nada. Já um clique da cantora vale ouro. O mais valioso deles, com ela raspando os cabelos, feito por Luiz, rendeu quase US$ 500 mil (cerca de R$ 860 mil pela cotação da última quinta-feira) para sua agência.
São 16h, 17h e 18h. Nada de Britney. Às 20h, abre-se o portão. É ela, finalmente. Três dos paparazzi a seguem por Los Angeles. Ela dirige o próprio carro, um Mercedes, por mais de uma hora. Desce e vai ao banheiro em uma lanchonete. E, assim, consegue-se uma foto de corpo inteiro de Britney. "Não foi nenhum "scoop" [furo], mas foi bom para termos uma foto atualizada. Fazia alguns dias que não tínhamos uma foto dela de corpo inteiro", conta Luiz.
O fato é que o "Big Brother" privado no qual se transformou a vida de Britney Spears fala português fluentemente. São cerca de dez brasileiros, de diferentes agências, que dedicam seus dias inteiros somente a ela, que, não por acaso, chamam de "patroa". Só na X-17, a maior das agências, à qual o MBF é associado, são 30 brasileiros espalhados por Los Angeles, a Serra Pelada do garimpo de estrelas do showbiz.
Quase nenhum dos paparazzi tinha experiência com fotografia quando entrou no ramo. No Brasil, Luiz era bancário. Nos EUA, trabalhava em estacionamento. Felix Filho, também um dos líderes da MBF, se formou em jornalismo. Ao imigrar, virou manobrista.
Concorrente da dupla, o carioca Filipe Teixeira se esquiva de detalhes. "Se for para contar como consegui, prefiro nem dar entrevista, não quero incentivar mais brasileiros a virem trabalhar de paparazzi aqui", diz. O salário de um paparazzo pode girar em torno de US$ 3.000 para profissionais dedicados, ou passar dos US$ 10 mil para quem atinge o status de Luiz ou de Felix.
O segredo está no esquema bem organizado para não levar "furo" da concorrência. "Nos organizamos de forma sistemática, que foi o que gerou esse sucesso que temos", diz Felix.

Amigo da princesinha pop
Entrar no ramo é tarefa complicada, caso não se tenha a bênção dos "chefões" do pedaço. E Filipe diz ter outro trunfo para cobrir Britney Spears. "Eu sou amigo dela", conta. "Sempre me pede para dirigir o carro dela [um Mercedes]." A conversa travada nessas situações, diz ele, são sigilosas. A lealdade é retribuída. "Aí, quando ela vai para algum lugar, às vezes, me liga: "Tal hora eu vou sair'", conta, numa prova do quão surreal é a relação entre a pop star e seus "perseguidores".
Apesar da dedicação integral à Britney, os paparazzi brasileiros sabem que a fonte já não jorra como antigamente. "Teve uma fase em que ela ficou com depressão, perdeu a guarda de filho, começou a beber. Tínhamos que cobrir 24 horas por dia", conta Luiz, que afirma torcer por ela. "Eu quero que ela se dê bem, claro. Mas os tablóides querem é que ela faça merda." Uma lógica que fez do fotógrafo gaúcho um milionário, às custas dos desequilíbrios de uma pop star que vive o inferno do outro lado da fama.


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