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Fotógrafos brasileiros fazem fortuna na cola de Britney Spears
Cerca de dez brasileiros dedicam seus dias inteiros só à pop star; salário de um paparazzo pode girar em torno de US$ 3.000 para profissionais dedicados
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Às 9h do último domingo, o
gaúcho Luiz Betat, 36, já despachava no endereço onde dá expediente há mais de três anos: a
esquina da casa da cantora Britney Spears, em Hollywood, na
Grande Los Angeles (EUA).
A jornada de Luiz -de 12 a 14
horas diárias, seis dias por semana- começa ali, ao lado de
cinco colegas de trabalho, todos
brasileiros, que formam com
ele o grupo de paparazzi MBF.
Nesse dia, a caçada promete.
Britney é aguardada para um
torneio de golfe. O portão da casa se abre. Sai um carro e metade do grupo segue em disparada. Alarme falso. Era só o pai de
Britney, cuja foto não vale quase nada. Já um clique da cantora vale ouro. O mais valioso deles, com ela raspando os cabelos, feito por Luiz, rendeu quase US$ 500 mil (cerca de R$
860 mil pela cotação da última
quinta-feira) para sua agência.
São 16h, 17h e 18h. Nada de
Britney. Às 20h, abre-se o portão. É ela, finalmente. Três dos
paparazzi a seguem por Los
Angeles. Ela dirige o próprio
carro, um Mercedes, por mais
de uma hora. Desce e vai ao banheiro em uma lanchonete. E,
assim, consegue-se uma foto de
corpo inteiro de Britney. "Não
foi nenhum "scoop" [furo], mas
foi bom para termos uma foto
atualizada. Fazia alguns dias
que não tínhamos uma foto dela de corpo inteiro", conta Luiz.
O fato é que o "Big Brother"
privado no qual se transformou
a vida de Britney Spears fala
português fluentemente. São
cerca de dez brasileiros, de diferentes agências, que dedicam
seus dias inteiros somente a
ela, que, não por acaso, chamam de "patroa". Só na X-17, a
maior das agências, à qual o
MBF é associado, são 30 brasileiros espalhados por Los Angeles, a Serra Pelada do garimpo de estrelas do showbiz.
Quase nenhum dos paparazzi tinha experiência com fotografia quando entrou no ramo.
No Brasil, Luiz era bancário.
Nos EUA, trabalhava em estacionamento. Felix Filho, também um dos líderes da MBF, se
formou em jornalismo. Ao imigrar, virou manobrista.
Concorrente da dupla, o carioca Filipe Teixeira se esquiva
de detalhes. "Se for para contar
como consegui, prefiro nem
dar entrevista, não quero incentivar mais brasileiros a virem trabalhar de paparazzi
aqui", diz. O salário de um paparazzo pode girar em torno de
US$ 3.000 para profissionais
dedicados, ou passar dos US$
10 mil para quem atinge o status de Luiz ou de Felix.
O segredo está no esquema
bem organizado para não levar
"furo" da concorrência. "Nos
organizamos de forma sistemática, que foi o que gerou esse sucesso que temos", diz Felix.
Amigo da princesinha pop
Entrar no ramo é tarefa complicada, caso não se tenha a
bênção dos "chefões" do pedaço. E Filipe diz ter outro trunfo
para cobrir Britney Spears. "Eu
sou amigo dela", conta. "Sempre me pede para dirigir o carro
dela [um Mercedes]." A conversa travada nessas situações, diz
ele, são sigilosas. A lealdade é
retribuída. "Aí, quando ela vai
para algum lugar, às vezes, me
liga: "Tal hora eu vou sair'", conta, numa prova do quão surreal
é a relação entre a pop star e
seus "perseguidores".
Apesar da dedicação integral
à Britney, os paparazzi brasileiros sabem que a fonte já não
jorra como antigamente. "Teve
uma fase em que ela ficou com
depressão, perdeu a guarda de
filho, começou a beber. Tínhamos que cobrir 24 horas por
dia", conta Luiz, que afirma torcer por ela. "Eu quero que ela se
dê bem, claro. Mas os tablóides
querem é que ela faça merda."
Uma lógica que fez do fotógrafo
gaúcho um milionário, às custas dos desequilíbrios de uma
pop star que vive o inferno do
outro lado da fama.
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