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Pulseira é desculpa para crime, diz psicóloga
Para sexóloga da Unifesp, violência contra a mulher continuaria ocorrendo mesmo se pulseiras coloridas não existissem
A maior parte das jovens não utiliza as pulseirinhas com essa conotação sexual; usam porque é bonita, afirma Maria Claudia Lordello
DA REPORTAGEM LOCAL
Crimes recentes de estupro e
homicídio envolvendo jovens
que usavam as "pulseiras do sexo" levantaram uma polêmica:
elas devem ser proibidas? A
resposta, para a psicóloga e sexóloga da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Maria
Claudia Lordello, é não. Para
ela, as pulseiras coloridas são
apenas uma desculpa dos
agressores para cometê-los. E
proibi-las, como fez Londrina
(PR), não resolve o problema.
Criadas na Inglaterra, as pulseiras coloridas viraram moda
no Brasil. Elas podem ser usadas em um jogo em que quem
arrebenta o acessório recebe
uma retribuição da dona da
pulseira. Se a pulseira for roxa,
vale beijo de língua; se preta,
sexo.
(TALITA BEDINELLI)
FOLHA - É possível responsabilizar
as pulseiras pelos crimes?
MARIA CLAUDIA LORDELLO
- As pulseiras não são o problema. Elas
estão sendo usadas para justificar uma questão anterior, que é
a falta de limites. A questão do
estupro está muito mais relacionada com a falta de respeito
em relação à mulher. Se não
fosse a pulseirinha, o crime seria cometido por outro motivo.
FOLHA - Como assim?
MARIA CLAUDIA
- Para o agressor,
a menina que usa a pulseira está dando uma permissão [para
o sexo], o que nem sempre é o
caso. A maior parte das jovens
não utiliza as pulseirinhas com
essa conotação sexual. Usam
porque é bonita esteticamente.
FOLHA - Mas há o jogo do sexo.
MARIA CLAUDIA
- Sim, e ele veio
para uma faixa etária que ainda
está descobrindo a sexualidade,
é vulnerável. Mas em alguns
desses casos recentes vemos
que a própria menina se expôs
ao risco. O crime ocorre por essa exposição, não pela pulseira.
FOLHA - Como os pais devem agir?
MARIA CLAUDIA
- Proibir o uso da
pulseira não vai adiantar. O
problema tem relação com a informação que esses jovens estão recebendo. A educação sexual tem que acontecer dentro
de casa. Há uma falta de vigilância em relação aos filhos, de
como eles se comportam fora
de casa. O jovem naturalmente
tem curiosidade, quer se arriscar. Hoje a gente vive uma liberdade maior e a educação do
filho é mais complicada, exige
uma abertura maior dos pais
principalmente em relação à
questão sexual.
FOLHA - E qual é o papel do Estado
neste caso?
MARIA CLAUDIA
- Entendo que
num curto prazo o Estado ache
que pode resolver o problema
proibindo a venda das pulseiras. Seria necessária uma solução a longo prazo, um investimento por parte do Estado em
educação sexual.
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