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PASQUALE CIPRO NETO
"Sugere que ficam" (ou "que fiquem"?)
Volta e meia, leitores me
escolhem como árbitro, ou
seja, incumbem-me de decidir
quem ganha determinada aposta. Foi o que fizeram os gentis leitores Eduardo Célice, Roberto Lima e Rubens Silva. O motivo da
aposta era a opção entre "visam"
e "visem" ("...subsidiar ações que
visam/visem sanar o problema").
Mais uma vez, a questão não
envolve o conceito de "certo e errado", por isso digo logo que as
duas formas são possíveis. O que
decide o "embate" é o plano em
que se quer (ou queira) pôr o processo expresso pelo verbo "visar".
A opção por "visam" (do presente do indicativo) coloca o processo no plano da certeza, da realidade (é tido ou dado como certo
que as ações visam sanar o problema). A opção por "visem" (do
presente do subjuntivo) põe o processo no plano da suposição, da
hipótese, da dúvida.
Antes que alguém pergunte se é
obrigatória a preposição "a" com
o verbo "visar" (que, no caso, tem
o sentido de "ter por fim ou objetivo"), é bom lembrar que não faltam nos dicionários citações de
exemplos em que não se empregou a preposição. Não faltam,
também, exemplos em que essa
preposição foi empregada. Em suma, "que visem sanar" e "que visem a sanar" são construções que
encontram registro na língua.
Recentemente, o vestibular da
Unicamp abordou o problema do
emprego do modo verbal (indicativo/subjuntivo) sob um aspecto
deveras interessante. O enunciado da questão era este: "Em 28/
11/2003, quando muito se noticiava sobre a reforma ministerial, a
Folha de S. Paulo publicou uma
matéria intitulada "Lula sugere
que Walfrido e Agnelo ficam".
Considerando as relações entre as
palavras que compõem o título da
matéria, justifique o uso do verbo
"ficar" no presente do indicativo".
E então? A solução do problema
é semelhante à que discutimos no
início deste texto? Não é, caro leitor. Estão em jogo sutilezas que
não podem passar despercebidas.
Uma delas diz respeito ao significado de "sugerir". Quando se diz
algo como "Sugiro que você leia
tal livro", o verbo "sugerir" significa "fazer uma sugestão", "propor", "aconselhar", "alvitrar".
É justamente aí que está o busílis. O fato de A sugerir a B que leia
tal livro não garante que B o lerá.
O ato de ler, portanto, é posto no
plano da hipótese, da possibilidade, o que explica o emprego do
modo subjuntivo ("que leia").
Se no título jornalístico destacado pela Unicamp a forma "ficam"
fosse trocada por "fiquem", o verbo "sugerir" teria o sentido de
"propor", "fazer sugestão". Com
isso, dir-se-ia que o presidente
propunha a permanência de
Walfrido e Agnelo no ministério.
A decisão de ficar não seria de Lula; seria de Walfrido e Agnelo.
No título efetivamente publicado, a flexão empregada é "ficam",
o que muda tudo. O emprego dessa forma verbal (do presente do
modo indicativo) dá ao verbo
"sugerir" o significado de "dar indícios", "deixar vazar", "dar pistas", "dar sinais".
Não se pode esquecer que o sujeito da forma verbal "sugere" é
"Lula", ou seja, o presidente da
República, a quem a Constituição
dá a prerrogativa de nomear e demitir a seu bel-prazer os integrantes do ministério. Com "sugere
que ficam", acentua-se que a decisão de ficar não cabe a Walfrido
e Agnelo; cabe a Lula. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras
E-mail - inculta@uol.com.br
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