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URBANISMO
Proposta foi a vencedora de concurso que buscava soluções para a obra, mas não há garantia de que seja executada
Projeto prevê jardim sobre o Minhocão
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um projeto que preserva o
Minhocão e cria sobre ele um parque suspenso, um casal de arquitetos ganhou ontem o prêmio
Prestes Maia, instituído para buscar soluções para a obra de 2,7 km
considerada por muitos a mais
feia de São Paulo. A intervenção
proposta não tem, porém, a garantia do prefeito Gilberto Kassab
(PFL) de que sairá do papel: "Seria leviandade assumir o compromisso de realizar uma obra com
custos tão elevados", afirmou.
Sócios de um escritório na avenida São João, ao lado do Minhocão -que se chama elevado Costa e Silva-, José Alves, 34, e Juliana Corradini, 28, venceram outros 45 concorrentes e receberão
R$ 50 mil -o segundo e o terceiro colocados ganharão, respectivamente, R$ 30 mil e R$ 20 mil.
A exemplo do prefeito, Alves
não têm a expectativa de ver o
projeto implantado. "Está com
cara de projeto que não sairá do
papel. Não apareceu um político
com vontade para fazer uma obra
assim." A frustração faz sentido:
em 2004, ambos venceram o Habitasampa, também da prefeitura,
que previa construção de 240 moradias populares na Barra Funda
(zona oeste) e não foi executado.
Segundo o arquiteto Luiz Bloch,
da Secretaria Municipal de Planejamento e coordenador do prêmio, a proposta da dupla foi a que
aliou melhor a viabilidade de preço, a possibilidade de execução e a
criatividade. A escolha foi feita no
dia 24 por uma comissão de sete
pessoas -quatro da prefeitura e
três de entidades não-governamentais. Nenhum projeto previa
a destruição completa do Minhocão, segundo Bloch.
Solução
Avaliado em R$ 86 milhões,
com prazo de execução de nove
anos, o projeto de Alves e Corradini transforma o Minhocão em
um túnel "arejado". Dos lados, o
elevado ganharia uma estrutura
metálica para reduzir o ruído e
permitir o tráfego de veículos 24
horas por dia. Na avaliação do casal, a medida desafogaria o trânsito das avenidas São João e General
Olímpio da Silveira, que recebem
maior volume de carros quando o
elevado é fechado, às 21h.
Sobre o teto do Minhocão, acima do nível por onde passam hoje
cerca de 80 mil veículos por dia, os
arquitetos sugeriram a criação de
um parque, com a possibilidade
de implantação de ciclovias. A entrada seria pelo que a dupla chama de edifícios de acesso, áreas
que podem funcionar como centro cultural, com teatros, restaurantes, bibliotecas e escolas.
"Há áreas no entorno do Minhocão, como as próximas ao largo do Arouche, que são pouco
utilizadas. A gente aproveita essas
áreas e propõe um novo edifício,
com infra-estrutura", disse Alves,
que, com Corradini, levou um
mês para terminar o projeto.
As laterais do elevado ganhariam galerias, que, segundo os autores, poderiam ser exploradas
pela iniciativa privada. "Foi uma
boa solução para que pelo menos
possamos conviver com essa cicatriz, essa barbaridade que temos
no meio da cidade", avaliou
Bloch, da prefeitura.
Outros projetos
Mais caros, os outros dois projetos premiados adotaram soluções
distintas. Estimada em R$ 1,7 bilhão, a proposta do arquiteto Fernando Gutierres, 33, prevê a derrubada do trecho do elevado que
passa sobre a Amaral Gurgel e a
criação de um túnel que liga a praça Roosevelt a uma avenida a ser
construída entre as estações Júlio
Prestes e Lapa da CPTM, em um
leito que o autor considera subutilizado. Bulevares seriam criados
sobre os túneis.
Terceiro colocado, o projeto do
arquiteto Marcel Monacelli, 50, de
R$ 100 milhões, transforma o elevado em uma via expressa de
transporte coletivo. Para isso, três
metros de cada lado da pista seriam suprimidos.
"Isso vai afastar o elevado dos
edifícios próximos e dará mais
qualidade de vida aos moradores
locais", disse. Sem ônibus, as ruas
sob o Minhocão poderiam voltar
a ser usadas para estacionamento.
"Isso aqueceria o comércio."
Em troca da premiação, os vencedores cederam à prefeitura os
direitos sobre a propriedade da
obra. Discussão sobre o tema levou o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) a retirar o apoio, no
início de março, ao concurso. A
entidade sustenta que, caso leve o
projeto à frente, a prefeitura deve
contratar os vencedores para tocá-lo. E, ainda, que a propriedade
intelectual das propostas apresentadas continue com os autores.
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