São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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URBANISMO

Proposta foi a vencedora de concurso que buscava soluções para a obra, mas não há garantia de que seja executada

Projeto prevê jardim sobre o Minhocão

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um projeto que preserva o Minhocão e cria sobre ele um parque suspenso, um casal de arquitetos ganhou ontem o prêmio Prestes Maia, instituído para buscar soluções para a obra de 2,7 km considerada por muitos a mais feia de São Paulo. A intervenção proposta não tem, porém, a garantia do prefeito Gilberto Kassab (PFL) de que sairá do papel: "Seria leviandade assumir o compromisso de realizar uma obra com custos tão elevados", afirmou.
Sócios de um escritório na avenida São João, ao lado do Minhocão -que se chama elevado Costa e Silva-, José Alves, 34, e Juliana Corradini, 28, venceram outros 45 concorrentes e receberão R$ 50 mil -o segundo e o terceiro colocados ganharão, respectivamente, R$ 30 mil e R$ 20 mil.
A exemplo do prefeito, Alves não têm a expectativa de ver o projeto implantado. "Está com cara de projeto que não sairá do papel. Não apareceu um político com vontade para fazer uma obra assim." A frustração faz sentido: em 2004, ambos venceram o Habitasampa, também da prefeitura, que previa construção de 240 moradias populares na Barra Funda (zona oeste) e não foi executado.
Segundo o arquiteto Luiz Bloch, da Secretaria Municipal de Planejamento e coordenador do prêmio, a proposta da dupla foi a que aliou melhor a viabilidade de preço, a possibilidade de execução e a criatividade. A escolha foi feita no dia 24 por uma comissão de sete pessoas -quatro da prefeitura e três de entidades não-governamentais. Nenhum projeto previa a destruição completa do Minhocão, segundo Bloch.

Solução
Avaliado em R$ 86 milhões, com prazo de execução de nove anos, o projeto de Alves e Corradini transforma o Minhocão em um túnel "arejado". Dos lados, o elevado ganharia uma estrutura metálica para reduzir o ruído e permitir o tráfego de veículos 24 horas por dia. Na avaliação do casal, a medida desafogaria o trânsito das avenidas São João e General Olímpio da Silveira, que recebem maior volume de carros quando o elevado é fechado, às 21h.
Sobre o teto do Minhocão, acima do nível por onde passam hoje cerca de 80 mil veículos por dia, os arquitetos sugeriram a criação de um parque, com a possibilidade de implantação de ciclovias. A entrada seria pelo que a dupla chama de edifícios de acesso, áreas que podem funcionar como centro cultural, com teatros, restaurantes, bibliotecas e escolas.
"Há áreas no entorno do Minhocão, como as próximas ao largo do Arouche, que são pouco utilizadas. A gente aproveita essas áreas e propõe um novo edifício, com infra-estrutura", disse Alves, que, com Corradini, levou um mês para terminar o projeto.
As laterais do elevado ganhariam galerias, que, segundo os autores, poderiam ser exploradas pela iniciativa privada. "Foi uma boa solução para que pelo menos possamos conviver com essa cicatriz, essa barbaridade que temos no meio da cidade", avaliou Bloch, da prefeitura.

Outros projetos
Mais caros, os outros dois projetos premiados adotaram soluções distintas. Estimada em R$ 1,7 bilhão, a proposta do arquiteto Fernando Gutierres, 33, prevê a derrubada do trecho do elevado que passa sobre a Amaral Gurgel e a criação de um túnel que liga a praça Roosevelt a uma avenida a ser construída entre as estações Júlio Prestes e Lapa da CPTM, em um leito que o autor considera subutilizado. Bulevares seriam criados sobre os túneis.
Terceiro colocado, o projeto do arquiteto Marcel Monacelli, 50, de R$ 100 milhões, transforma o elevado em uma via expressa de transporte coletivo. Para isso, três metros de cada lado da pista seriam suprimidos.
"Isso vai afastar o elevado dos edifícios próximos e dará mais qualidade de vida aos moradores locais", disse. Sem ônibus, as ruas sob o Minhocão poderiam voltar a ser usadas para estacionamento. "Isso aqueceria o comércio."
Em troca da premiação, os vencedores cederam à prefeitura os direitos sobre a propriedade da obra. Discussão sobre o tema levou o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) a retirar o apoio, no início de março, ao concurso. A entidade sustenta que, caso leve o projeto à frente, a prefeitura deve contratar os vencedores para tocá-lo. E, ainda, que a propriedade intelectual das propostas apresentadas continue com os autores.


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