São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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SAÚDE

Proposta que será discutida hoje em simpósio visa melhorar o atendimento e reduzir mortes, seqüelas e custos

Médicos querem selo de qualidade para área de trauma

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um selo de qualidade atestando que o hospital tem infra-estrutura e que a equipe médica está treinada para atender vítimas de trauma é a nova arma das sociedades médicas para reverter uma realidade brasileira assustadora: 150 mil mortes por ano, a maioria de pessoas com até 40 anos de idade. As maiores causas de traumas são os tiros e os acidentes de trânsito.
A proposta será apresentada em um simpósio internacional de cirurgia do trauma que acontece hoje em São Paulo e a idéia é colocá-la em prática até o final do ano. Com o selo, espera-se melhorar o nível do atendimento aos traumatizados, diminuindo as mortes, as seqüelas e os custos.
Hoje, o país gasta R$ 9 milhões por ano no atendimento ao trauma -quase um terço de tudo que é investido em saúde pública no país. Estima-se que 30% das mortes por traumas, após a internação, poderiam ser evitadas se a equipe médica estivesse mais bem capacitada para a função.
O problema é que menos da metade dos cirurgiões que trabalham nas emergências tem formação específica com traumas, segundo o cirurgião Milton Steinman, vice-presidente da SBAIT (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado). "O PS é a porta de entrada dos jovens médicos no mercado de trabalho. E a imensa maioria não está qualificada para atender os traumatizados", afirma.
A falha nesse aprendizado ficou clara em uma prova aplicada pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) aos estudantes do sexto ano de medicina e aos médicos recém-formados no final de 2005: metade deles são soube reconhecer um quadro grave de trauma torácico que pode levar a pessoa à morte em poucas horas.
A partir deste ano, o atendimento ao trauma começa a ganhar mais espaço no período de residência médica, que foi ampliado de dois para quatro anos.
Para Steinman, tirando os hospitais-escola, não há praticamente nenhum outro que ofereça uma equipe qualificada para atender traumas. "Os hospitais de ponta contratam profissionais qualificados, mas que não têm noção de como atender corretamente as vítimas de trauma."
Na avaliação do cirurgião-geral Renato Poggetti, diretor do pronto-socorro de cirurgia do Hospital das Clínicas, há falhas em todo o sistema que atende os traumas: do resgate à reabilitação. "O atendimento ao trauma ainda é muito desvalorizado. Não é encarado com um problema de saúde pública. Tiros, atropelamentos não acontecem porque Deus quis."
Para ele, o problema não é falta de recursos. "A questão é empregar bem esses recursos."
No simpósio, especialistas apresentarão políticas de prevenção e combate ao trauma de outros países. Nos EUA, por exemplo, a prevenção é feita com medidas para redução de acidentes de trânsito.


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