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"Brasil se igualou à junta militar da Tailândia"
Opinião é de diretor da Câmara do Comércio dos EUA, que reúne 3 milhões de empresas
Para Mark Smith, ao economizar US$ 30 milhões com a quebra da patente do Efavirenz, país colocará em risco US$ 3,5 bilhões
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A decisão de quebrar a patente de um remédio anti-Aids da
empresa norte-americana
Merck Sharp & Dohme iguala o
governo brasileiro à junta militar que comanda a Tailândia
desde 2006. O país do sudeste
asiático foi o último a tomar
ação semelhante, em novembro e em janeiro últimos.
A avaliação é de Mark Smith,
diretor-gerente para assuntos
do hemisfério ocidental da Câmara Comercial dos EUA, que
tem na farmacêutica de Nova
Jersey uma das afiliadas.
Além disso, segundo ele, a decisão do governo Lula pode ter
um custo financeiro alto ao
país. "Para economizar potencialmente US$ 30 milhões com
a quebra de uma patente, o Brasil pode estar colocando em jogo US$ 3,5 bilhões", diz Smith.
Solução alternativa
Voltar à mesa de negociações
com o laboratório Merck Sharp
& Dohme para buscar uma solução alternativa à quebra de
patente do Efavirenz é o melhor caminho para o Brasil, na
opinião de Smith.
Ele lembra que o país acabou
de sair da categoria de "prioridade máxima" da lista de combate à pirataria do governo norte-americano.
De acordo com Smith, a retirada foi algo "muito, muito importante". Uma das razões para
isso ter acontecido foi o trabalho intenso da Câmara Comercial dos Estados Unidos, segundo ele. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.
FOLHA - Como a decisão do governo brasileiro pode afetar a relação
comercial entre empresas brasileiras e americanas?
MARK SMITH - É uma pena, mas
negativamente. Ainda mais do
ponto de vista da Câmara, que é
uma reunião de várias empresas e organizações norte-americanas que trabalharam muito,
muito duro para preservar o
Brasil no SGP [Sistema Geral
de Preferências, programa de
benefícios fiscais pelo qual o
país exporta US$ 3,5 bilhões
anualmente para os EUA].
Isso em dezembro. E uma
das razões de nosso sucesso foi
o apoio da indústria farmacêutica, que é muito importante
politicamente aqui em nosso
país. Essa decisão vai tornar
muito mais difícil apoiar a permanência do Brasil no SGP. Vamos nos encontrar numa situação em que teremos membros
da câmara a favor e contra, e será mais difícil sair a público
com a bandeira do apoio, como
aconteceu em 2006.
Ou seja, para economizar potencialmente US$ 30 milhões
com a quebra de uma patente, o
Brasil pode estar colocando em
jogo US$ 3,5 bilhões.
FOLHA - Quais foram as primeiras
reações de empresas participantes
da câmara?
SMITH - Há muita preocupação,
não só com a decisão, mas com
a maneira como foi tomada. Isso assustou principalmente as
grandes empresas. Porque a
Merck havia mandado ao Ministério de Saúde uma contraproposta, e havia uma reunião
prevista para quarta-feira.
Em vez de se encontrar e discutir a contraproposta, o ministério cancelou o encontro e
avisou que iria quebrar a patente. A solução negociada permitiria aos dois lados ganharem
algo, mas o Brasil decidiu se
igualar à junta militar que comanda a Tailândia e quebrar a
patente. É muito triste pensar
que ainda havia tempo para negociar, que havia uma contraproposta na mesa, e que o Brasil tomou essa decisão. Não estamos dizendo que o governo
não tenha o direito de decidir o
que tem de fazer, mas não havia
necessidade de ser decidido
dessa maneira.
FOLHA - O sr. ainda acredita em um
recuo do governo?
SMITH - Espero que sim. Sei
que ainda vai haver negociações sobre outros aspectos da
questão, então minha esperança é que as partes voltem à mesa de negociações e achem uma
nova solução.
Não há necessidade de o Brasil colocar uma pecha de mercado negro em seu "currículo",
especialmente em um momento em que o país tem feito tanto
progresso nessa área.
FOLHA - Quantas empresas sua entidade representa?
SMITH - Mais de 3 milhões. Somos a maior organização desse
tipo do mundo.
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