São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2010

Próximo Texto | Índice

Adolescente engana hospital e leva bebê

Menina de 15 anos se passou por estagiária de enfermagem e ficou 5 horas em maternidade; ela havia sofrido um aborto seis meses atrás

A bebê Isadora foi devolvida pela família da garota seis horas após o crime; "Ela é só uma criança", disse a mãe sobre a adolescente

Joel Silva/Folha Imagem
Avó e tio de Isadora, bebê sequestrado por J., uma adolescente de 15 anos, na maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belém

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A menina J., de 15 anos, surpreende pela beleza. Aparenta 20 anos. É morena, tem a pele luminosa, olhos grandes, cabelos longos e negros.
Bastou um jaleco branco para a adolescente travestir-se de estagiária de enfermagem, entrar em uma das mais tradicionais maternidades públicas da zona leste de SP, a Leonor Mendes de Barros, enganar os funcionários e seguranças, passear por toda a ala dos partos normais, escolher uma menininha de pele clara recém-nascida, e desaparecer -com o bebê.
Entre as 18h05 e as 23h45 da terça-feira, a mãe da pequena Isadora Fernanda, a ajudante de costureira Luana Aparecida Pereira, 26, contorceu-se na perda da filha. "Uma dor tão grande, um vazio tão imenso, uma secura", definiu.
Ontem, às 16h, mãe e filha saíram juntas do hospital. Isadora chorava forte. A costureira fez questão de agradecer aos pais de J., que providenciaram a devolução de Isadora. "Muito obrigada, muito obrigada, muito obrigada. Graças a eles, terei o meu primeiro Dia das Mães". A costureira também perdoou a jovem: "Ela é só uma criança".
Uma gravidez e um aborto involuntário, há quatro meses, estão na origem do drama. J., apaixonada pelo namorado (ela divide com ele um quarto na casa dos sogros), escondeu de todos que havia perdido o bebê aos cinco meses de gestação. Não procurou hospital para retirar os restos de placenta.
Nos últimos quatro meses, J. vestiu-se com roupas e batas largas, de modo a sustentar a imagem da gestação de mentira. Também começou a ficar doente. Tinha febre constante, sangramentos, infecção uterina.
Na semana passada, promoveu um chá de bebê -para o bebê que não existia. Com os nove meses vencidos, anteontem foi o dia escolhido. Quando J. saiu da casa dos sogros, pediu à mãe do namorado que rezasse para que ela tivesse um dia "bom" -sugeria que podia ser naquele dia o nascimento.
Eram 13h quando entrou pela porta da frente da maternidade, vestindo o jaleco branco sem identificação. No térreo, há três elevadores e uma escada. Pelo menos três seguranças fazem a guarda desses acessos. Um deles, ainda se dirigiu à jovem, perguntando-lhe pelo crachá obrigatório. J. respondeu sem vacilar: "Estou autorizada pela supervisão da enfermagem". E foi ao 2º andar.
Durante cinco horas, como se fosse estudante de uma escola de São Bernardo do Campo, munida de uma prancheta, ela visitou todos os leitos, fez questão de checar a aparência de cada criança, entrevistou enfermeiros e auxiliares de enfermagem, recebeu orientações sobre como mexer nas crianças, como lidar com as mães. Anotou, anotou, anotou.
"Ela se apaixonou pela Isadora", disse uma enfermeira que não quis se identificar (a direção do hospital não autorizou entrevistas). A mãe da menininha lembra-se de que, em quatro momentos diferentes daquela tarde, J. entrou no quarto 209, ocupado por quatro mulheres.
Por que a adolescente teria escolhido Isadora? Primeiro porque precisava ser menina. O pré-natal que J. fazia no posto de saúde já havia indicado o sexo do bebê que não chegou a nascer. Precisava ser pequenininho. Com 46 centímetros, um dia de vida e 2,4 kg, Isadora se prestaria à encenação. Precisava ser branca, como Isadora é. "E a menininha é linda mesmo", derreteu-se uma funcionária do hospital.
Às 18h, J. entrou no quarto 209 e disse que levaria a menina "para dar uma voltinha no corredor". Luana teve um mal pressentimento. Levantou-se da cama e ainda viu J. de costas, encaminhando-se para a saída. "Cadê o meu bebê?"
A menina de 15 anos disse que o havia entregue a outra enfermeira, de cabelos crespos, que o traria de volta dentro de instantes. Agora, J. carregava apenas uma bolsa preta grande. Dentro, quietinha, ia a pequena Isadora. Às 18h05, um grito gelou a maternidade: "Roubaram o meu bebê".


Próximo Texto: Tornozeleira do bebê denunciou farsa de adolescente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.