São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2011

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ANÁLISE

Há um espaço para mudar a aplicação da Constituição sem ter de emendar seu texto

JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até ontem se acreditava, ou pelo menos se duvidava, que a Constituição concedia à união homoafetiva os mesmos direitos e deveres que concede à união heteroafetiva. Agora não mais. São uniões plenamente iguais.
Mudaram a Constituição? Líderes evangélicos contrários à união homoafetiva não foram ao Supremo. Teriam podido ir à tribuna.
Omitiram-se. Seria mesmo difícil explicar, pela lógica jurídica, a posição de um de seus principais líderes: ser contra a homossexualidade e a favor dos homossexuais.
Os católicos, ao contrário, compareceram através da CNBB. Reafirmaram sua própria interpretação religiosa da Constituição. Para eles, os homossexuais têm direito, sim, à dignidade humana.
Mas família mesmo, pela clareza do texto da Constituição, só na união hétero: homem e mulher.
A união homo não teria, por exemplo, direito à adoção. Se o Brasil quiser dizer que família pode ser homem e homem e mulher e mulher, é preciso emendar a Constituição. E quem emenda a Constituição não é o Judiciário. É o Congresso.
O argumento dos católicos é jurídico, a estratégia é política e o resultado, religioso.
Se fosse necessária uma emenda à Constituição, seria preciso o voto favorável de pelo menos 357 congressistas. Evangélicos, católicos e outros grupos pressionariam os congressistas. Provavelmente não se mudaria a Constituição.
A atual concepção de família constitucional continuaria a mesma. Donde, continuaria valendo a visão católica de família e sociedade. Esta foi a evidência de ontem. Há sempre um espaço para mudar a aplicação da Constituição. Sem precisar emendar o seu texto.

JOAQUIM FALCÃO é professor de direito constitucional da FGV Direito Rio.


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