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Anvisa não controla componentes de drogas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Cláudio Maierovitch, 41, disse ontem que o Ministério da Saúde não controla diretamente os
elementos químicos que compõem os remédios (os chamados
farmoquímicos).
Segundo a Anvisa, também não
há meios de acompanhar a movimentação de matérias-primas
químicas para laboratórios. A falta de controle também é um desafio em outros países.
De acordo com a agência, há
fortes indícios de que o uso de
matéria-prima de origem desconhecida seja a explicação para a
morte de 21 pessoas no país, associadas ao consumo do contraste
Celobar (droga que destaca determinados órgãos em exames radiológicos). O 21º caso suspeito de
morte, de Igarapava (SP), foi
computado ontem pela agência.
O fabricante da droga, o laboratório Enila, do Rio de Janeiro, não
teria comprovado que usou sulfato de bário de origem segura. Teria comprado carbonato de bário,
um produto não-farmacêutico,
para tentar fabricar sulfato de bário. A empresa nega o uso do sulfato obtido na experiência.
A Anvisa acredita que a tentativa possa ter resultado em um produto altamente tóxico, que teria
envenenado pacientes. O laboratório farmacêutico não teria tecnologia para fazer a síntese de sulfato a partir do carbonato. O carbonato era proveniente da China
e foi comprado de um distribuidor do Rio de Janeiro.
Segundo Maierovitch, nas inspeções anuais feitas nos laboratórios farmacêuticos o governo fiscaliza se estão sendo seguidas as
normas das chamadas Boas Práticas de Fabricação (o certificado de
qualidade do setor) e também os
fornecedores dos insumos usados
na fabricação dos remédios.
"Como em qualquer segmento
da indústria, quem tem a responsabilidade e a competência para
qualificar seus fornecedores é a
própria indústria", diz.
A fábrica foi inspecionada em
janeiro do ano passado pela vigilância sanitária do Rio, segundo a
Anvisa. À época, ainda era compradora de fornecedor reconhecido no mercado, a empresa alemã
Sachtleben Chemie GmbH.
Segundo Maierovitch, o ministério verifica se a indústria tem o
controle da matéria-prima. "Mas
o ministério não vai à fábrica de
farinha e nem ao campo de trigo",
disse, usando analogia sugerida
pela reportagem (a fábrica de farinha é o fornecedor de farmoquímico e o campo de trigo, o local de
onde vem a matéria-prima).
Segundo Maldonado José Luiz,
assistente técnico do Conselho
Federal de Medicina, hoje é muito
difícil controlar fornecedores de
farmoquímicos e a movimentação desses produtos. Na Ásia, por
exemplo, funciona uma bolsa de
produtos sem origem conhecida.
Segundo o técnico do conselho,
hoje 96% dos farmoquímicos são
importados. "É fácil comprar até
na internet", explica.
O vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de
Química Fina, Biotecnologia e
suas Especialidades (Abifina),
Nelson de Oliveira Brasil, acredita
que seria necessário haver controle justamente sobre produtos estrangeiros. "A Anvisa não exige
registro da substância ativa das
drogas. O registro é feito indiretamente, quando é feito o registro
do remédio e o laboratório tem de
indicar os fornecedores", afirma.
Para Brasil, "chegará o momento em que também a matéria-prima terá de ter registro" para evitar
problemas.
(GA e FABIANE LEITE)
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