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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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Anvisa não controla componentes de drogas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Cláudio Maierovitch, 41, disse ontem que o Ministério da Saúde não controla diretamente os elementos químicos que compõem os remédios (os chamados farmoquímicos).
Segundo a Anvisa, também não há meios de acompanhar a movimentação de matérias-primas químicas para laboratórios. A falta de controle também é um desafio em outros países.
De acordo com a agência, há fortes indícios de que o uso de matéria-prima de origem desconhecida seja a explicação para a morte de 21 pessoas no país, associadas ao consumo do contraste Celobar (droga que destaca determinados órgãos em exames radiológicos). O 21º caso suspeito de morte, de Igarapava (SP), foi computado ontem pela agência.
O fabricante da droga, o laboratório Enila, do Rio de Janeiro, não teria comprovado que usou sulfato de bário de origem segura. Teria comprado carbonato de bário, um produto não-farmacêutico, para tentar fabricar sulfato de bário. A empresa nega o uso do sulfato obtido na experiência.
A Anvisa acredita que a tentativa possa ter resultado em um produto altamente tóxico, que teria envenenado pacientes. O laboratório farmacêutico não teria tecnologia para fazer a síntese de sulfato a partir do carbonato. O carbonato era proveniente da China e foi comprado de um distribuidor do Rio de Janeiro.
Segundo Maierovitch, nas inspeções anuais feitas nos laboratórios farmacêuticos o governo fiscaliza se estão sendo seguidas as normas das chamadas Boas Práticas de Fabricação (o certificado de qualidade do setor) e também os fornecedores dos insumos usados na fabricação dos remédios.
"Como em qualquer segmento da indústria, quem tem a responsabilidade e a competência para qualificar seus fornecedores é a própria indústria", diz.
A fábrica foi inspecionada em janeiro do ano passado pela vigilância sanitária do Rio, segundo a Anvisa. À época, ainda era compradora de fornecedor reconhecido no mercado, a empresa alemã Sachtleben Chemie GmbH.
Segundo Maierovitch, o ministério verifica se a indústria tem o controle da matéria-prima. "Mas o ministério não vai à fábrica de farinha e nem ao campo de trigo", disse, usando analogia sugerida pela reportagem (a fábrica de farinha é o fornecedor de farmoquímico e o campo de trigo, o local de onde vem a matéria-prima).
Segundo Maldonado José Luiz, assistente técnico do Conselho Federal de Medicina, hoje é muito difícil controlar fornecedores de farmoquímicos e a movimentação desses produtos. Na Ásia, por exemplo, funciona uma bolsa de produtos sem origem conhecida.
Segundo o técnico do conselho, hoje 96% dos farmoquímicos são importados. "É fácil comprar até na internet", explica.
O vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Nelson de Oliveira Brasil, acredita que seria necessário haver controle justamente sobre produtos estrangeiros. "A Anvisa não exige registro da substância ativa das drogas. O registro é feito indiretamente, quando é feito o registro do remédio e o laboratório tem de indicar os fornecedores", afirma.
Para Brasil, "chegará o momento em que também a matéria-prima terá de ter registro" para evitar problemas.
(GA e FABIANE LEITE)


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