São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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SAÚDE

Valor que determinava, em teste, existência de tumor na próstata é questionado; exame de toque é recomendado

Exame deixa de detectar 1/4 dos cânceres

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O exame de PSA (antígeno específico da próstata), tido como a principal arma para a detecção precoce do câncer da próstata, deixa de detectar um quarto dos tumores malignos da glândula e, por isso, deve ser feito associado ao exame de toque retal.
O alerta é de urologistas que vêem com preocupação os últimos estudos demonstrando a possibilidade de câncer até em homens em que o PSA apresenta índice inferior a 1 ng/ml (nanograma por mililitro). Valores até 4 ng/ml são tidos como dentro da faixa de normalidade.
Um dos estudos mais abrangentes, publicado no mês passado no "New England Journal of Medicine", mostrou que 23% dos homens com PSA abaixo de 4 ng/ml estudados apresentavam o câncer. Pelo menos 5% deles tinham taxas entre 0,5 ng/ml e 1 ng/ml.
O PSA é uma proteína produzida exclusivamente pela próstata e cuja presença aumenta nos casos de câncer. Cresce também em pacientes com infecção ou com crescimento benigno da glândula.
A preocupação dos médicos é que muitos homens deixam de ir ao urologista, por medo ou preconceito do toque retal, e se apóiam no resultado do PSA. "É uma falsa sensação de proteção. Ainda mais agora que os valores de segurança do PSA estão sendo colocados em xeque", afirma o urologista Miguel Srougi, professor titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo.
Segundo ele, quando o PSA está elevado [acima de 4 ng/ml], está indicada a biopsia e, em geral, o diagnóstico de câncer é mais fácil, embora a técnica ainda falhe em 20% dos casos.
"O problema é quando está abaixo de 4. Isso está provocando um desconforto entre os médicos, que sempre tiveram no exame uma das principais ferramentas para a detecção do câncer", afirma o urologista.
Segundo ele, esses estudos demonstram que os médicos precisam olhar com mais cautela homens que apresentem níveis de PSA inferiores ao considerado dentro da faixa de normalidade.
Para o urologista Luis Seabra Rios, do hospital Albert Einstein e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, o nível de corte do PSA deve mudar para taxas inferiores a 4 ng/ml. "Não sabemos quanto vai ser esse corte, mas já estamos certos de que 4 não é mais um índice seguro."
Segundo o urologista Geraldo de Campos Freire, professor da Faculdade de Medicina da USP, alguns médicos já estão olhando com cuidado os resultados de 2,5 ng/ml a 4 ng/ml e indicando biopsias, especialmente aos homens mais jovens. "O PSA continua importante, mas tem que ser feito associado ao toque", diz Freire.
Urologistas também se preocupam com o fato de médicos generalistas ou de outras especialidades indicarem o PSA, como parte do check-up dos pacientes, sem a associação ao exame de toque. "Já atendi casos de câncer em que a taxa de PSA estava em 7 ng/ml e o médico dizia ao paciente que não havia problema", diz Rios.
O caso do comerciante Adelino Pinheiro, 63, exemplifica bem essa situação. Desde os 55 anos ele fazia o PSA por indicação do clínico-geral, em conjunto com outros exames de rotina. Há dois anos, a taxa da proteína passou de 3 ng/ ml para 7 ng/ml e só aí ele foi encaminhado a um urologista para fazer o seu primeiro toque retal.
A próstata estava alterada e uma biopsia confirmou o câncer. O comerciante teve a glândula extirpada (prostatectomia radical) e, por se tratar de um tumor agressivo, precisou também fazer radioterapia. "Graças a Deus ainda deu tempo de me salvar", afirma.
Freire defende que os clínicos-gerais sejam treinados a fazer o exame de toque por acreditar que a cultura de visitar uma vez por ano o urologista está longe da rotina da maioria dos brasileiros.
Já Srougi vê com cautela essa idéia. "O exame de toque é muito sutil. Não é fácil identificar um tumor na fase inicial", diz. Essa dificuldade, afirma, é sentida até entre os urologistas, que chegam a divergir sobre o resultado de toque retal entre 50% e 80% dos casos, segundo alguns estudos.
Na opinião de Srougi, é preciso que se invista em alternativas de exames mais eficazes do que os disponíveis atualmente, uma vez que mesmo a associação do PSA com o toque deixa de detectar pelo menos 8% dos casos de tumor.
As esperanças, diz ele, estão voltadas agora para uma nova proteína relacionada ao câncer de próstata que pode ser detectada por meio de um exame de urina.
Segundo estudo apresentado no congresso da Sociedade Americana de Urologia, ocorrido no mês passado, em um grupo de 533 pacientes, essa proteína pôde detectar 79% dos cânceres da próstata, enquanto o PSA detectou 50%.


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