São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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ENTREVISTA

Evento promove disseminação de conhecimentos em psiquiatria

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O impacto das doenças mentais na sociedade é muito maior do que se pensa, e o atendimento à população não deve se restringir ao especialista, daí a necessidade de se ampliar e transmitir conhecimento técnico e científico para o clínico e para o psicólogo.
Essa é a linha mestra do 2º Encontro Paulista de Psiquiatria, que a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) promove nesta semana e que vai reunir especialistas brasileiros e convidados internacionais.
O psiquiatra Jair Mari, professor titular de psiquiatria da Unifesp e coordenador científico do encontro, fala da questão dos transtornos mentais nos dias de hoje e da importância do evento.

 

Folha - Para ressaltar o impacto das doenças mentais, o sr. diz que de perto ninguém é normal. Pode explicar melhor?
Jair Mari -
Ao dizer isso, o Caetano Veloso acabou tocando numa coisa interessante, porque a freqüência de problemas psiquiátricos e emocionais na população é muito grande. Se você pegar o total de doenças que causam incapacitação no planeta, a depressão aparece em segundo lugar. Nos países desenvolvidos, é a principal causa. E mesmo nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, algumas situações psiquiátricas estão entre as dez condições de maior impacto na população.

Folha - E quem cuida desses problemas?
Mari -
Nós fizemos um levantamento na cidade de São Paulo e constatamos que um terço da população ia precisar de algum tipo de atendimento. E descobrimos que quem prescreve tranqüilizantes e antidepressivos é o clínico geral. Ele é responsável por 60% das prescrições. Quem cuida, quem tem um papel importantíssimo é o clínico geral.

Folha - Que tipo de transtorno chama mais a atenção e quais as novidades sobre os tratamentos?
Mari -
A depressão acaba chamando a atenção porque há uma prevalência mais alta -cerca de 12% das pessoas que vão ao médico têm grande probabilidade de ter uma depressão.
Agora, na população em geral o transtorno mais importante é a esquizofrenia, cuja prevalência é próxima a 1%. Mas, quando ela ocorre, vai demandar um cuidado ao longo da vida. Nos últimos anos surgiram medicações seguras no tratamento da esquizofrenia, e a maior parte dos casos você não precisa mais internar o paciente, pode cuidar dele dentro da comunidade. Agora, quando você transfere esse indivíduo para a comunidade é fundamental que haja um preparo da família.

Folha - Num encontro que houve recentemente em Nova York foi muito festejado o surgimento de novas drogas.
Jair -
A medicação antidepressiva está evoluindo para a redução dos efeitos colaterais. A eficácia dos antidepressivos está bem comprovada, o que se deve pesquisar agora é o efeito adverso em duas áreas: na libido, na questão do ganho de peso. O bom antidepressivo será o que não cause impacto na libido nem no peso.

Folha - Com relação ao encontro, o que deve ser destacado?
Mari -
O papel da universidade é transferir conhecimentos. Então, o aspecto importante é a preocupação de transferir esses conhecimentos para o clínico geral. Nos currículos contempla-se muito mais a formação da especialidade como psiquiatria e muito menos a necessidade de formar um clínico com capacidade para dar conta dessa história de que de perto ninguém é normal.

2º ENCONTRO PAULISTA DE PSIQUIATRIA. Dias 10 11 e 12 de Junho. Local: Unifesp - Rua Botucatu, 862, São Paulo. Informações: 5549-6699


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