|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOCO
De dia, ela é a professora Bianca; à noite, Bianca Exótica
BRUNA BITTENCOURT
DE SÃO PAULO
De salto, minissaia e tomara que caia, Bianca Exótica
sobe no palco d'A Lôca numa
madrugada de domingo para
segunda -noite conhecida
do público gay paulistano.
Desfila, faz pose e vai ao microfone. Convida um, depois
outro e mais outro para ir ao
palco. Mas poucos sobrevivem às suas piadas. Bianca é
rápida e sarcástica.
Logo que termina sua
apresentação, à 1h, deixa o
clube. Na manhã seguinte,
começa a dar aulas às 7h.
Bianca Exótica é Edson
Soares, transexual de 34
anos, figura conhecida na
noite paulistana e professora
da rede estadual há 16 anos.
Ensina inglês e se divide
entre escolas particulares de
Cotia e Osasco e estaduais
em Barueri, onde mora com
os pais. Costuma ser chamada de "teacher" pelos alunos,
que têm entre 14 e 18 anos.
"Não tenho nada contra ser
chamada de professor. Deixo
livre para eles."
Na escola, se veste com
discrição. No meio de uma
aula, um aluno provoca:
"Olha o sapatinho dela". Ela
ignora e fala mais alto do que
ele sobre a lição de casa.
"A qualquer momento,
eles podem desviar o assunto
e você tem que ter jogo de
cintura para colocar o aluno
de volta à aula", diz. "Você
pode ser muito competente,
mas basta um risco para derrubar todo o seu trabalho."
NOITE
Mesmo com as 50 horas de
aulas semanais, Bianca trabalha, e muito, à noite. Além
d'A Lôca, já trabalhou no
Massivo e na Torre do Dr. Zero. Pode ser hostess, DJ ou
performer. Dubla Diana Ross
e Marina. E também atua em
"festas de gente rica".
A noite lhe rende de R$
3.000 a R$ 4.000 por mês; as
aulas, R$ 3.500. Tem um Polo
e vários caprichos consumistas -roupas e sapatos que
tenta manter longe das irmãs, também professoras.
Bianca se assumiu gay aos
12 anos. O pai, um encarregado de obras aposentado, não
aceitou, a princípio. A mãe,
professora aposentada, foi
mais compreensível.
Anos mais tarde, passou a
cultivar sua longa cabeleira e
a se "montar" como mulher
para sair à noite. Roberta Close sempre foi sua diva.
Desde o começo do ano,
passa por tratamento hormonal para acentuar algumas
de suas características femininas. Faz também sessões
de laser para eliminar a barba, mas descarta uma operação para mudança de sexo.
No dia a dia, diz ouvir piadas e risadinhas. "Mas trato
as pessoas com tanta educação que elas quebram o preconceito", diz.
Texto Anterior: Carlos Barrella (1929-2010): Defendeu 50 times de futebol Próximo Texto: Alunos e prostitutas disputam espaço na av. Indianópolis Índice
|