São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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FOCO

De dia, ela é a professora Bianca; à noite, Bianca Exótica

BRUNA BITTENCOURT
DE SÃO PAULO

De salto, minissaia e tomara que caia, Bianca Exótica sobe no palco d'A Lôca numa madrugada de domingo para segunda -noite conhecida do público gay paulistano. Desfila, faz pose e vai ao microfone. Convida um, depois outro e mais outro para ir ao palco. Mas poucos sobrevivem às suas piadas. Bianca é rápida e sarcástica.
Logo que termina sua apresentação, à 1h, deixa o clube. Na manhã seguinte, começa a dar aulas às 7h.
Bianca Exótica é Edson Soares, transexual de 34 anos, figura conhecida na noite paulistana e professora da rede estadual há 16 anos.
Ensina inglês e se divide entre escolas particulares de Cotia e Osasco e estaduais em Barueri, onde mora com os pais. Costuma ser chamada de "teacher" pelos alunos, que têm entre 14 e 18 anos. "Não tenho nada contra ser chamada de professor. Deixo livre para eles."
Na escola, se veste com discrição. No meio de uma aula, um aluno provoca: "Olha o sapatinho dela". Ela ignora e fala mais alto do que ele sobre a lição de casa.
"A qualquer momento, eles podem desviar o assunto e você tem que ter jogo de cintura para colocar o aluno de volta à aula", diz. "Você pode ser muito competente, mas basta um risco para derrubar todo o seu trabalho."

NOITE
Mesmo com as 50 horas de aulas semanais, Bianca trabalha, e muito, à noite. Além d'A Lôca, já trabalhou no Massivo e na Torre do Dr. Zero. Pode ser hostess, DJ ou performer. Dubla Diana Ross e Marina. E também atua em "festas de gente rica".
A noite lhe rende de R$ 3.000 a R$ 4.000 por mês; as aulas, R$ 3.500. Tem um Polo e vários caprichos consumistas -roupas e sapatos que tenta manter longe das irmãs, também professoras.
Bianca se assumiu gay aos 12 anos. O pai, um encarregado de obras aposentado, não aceitou, a princípio. A mãe, professora aposentada, foi mais compreensível.
Anos mais tarde, passou a cultivar sua longa cabeleira e a se "montar" como mulher para sair à noite. Roberta Close sempre foi sua diva.
Desde o começo do ano, passa por tratamento hormonal para acentuar algumas de suas características femininas. Faz também sessões de laser para eliminar a barba, mas descarta uma operação para mudança de sexo.
No dia a dia, diz ouvir piadas e risadinhas. "Mas trato as pessoas com tanta educação que elas quebram o preconceito", diz.


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