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DANUZA LEÃO
Coisas de mulher
Tem uma hora que, na vida
a dois, tudo começa a incomodar. Por nada de muito importante, só as pequenas coisas.
Cada um tem suas manias, que
no início são toleradas com a
maior boa vontade (menos ir ao
banheiro deixando a porta aberta), tudo em nome do amor. A
tragédia é que elas se repetem,
absolutamente iguais, todos os
dias do mês, do ano, da vida.
Alguns maridos entram em casa dizendo sempre a mesma coisa, que pode ser de um "cheguei,
amor" a um "estou morrendo de
fome". Há uns que têm o hábito
de passar o pãozinho na gema do
ovo frito, outros que botam açúcar no café, mexem e provam
com a colherzinha (e sempre
caem umas duas gotas na gravata), os que acordam de muito
bom humor, o que é quase insuportável, os que perdem os óculos
e as chaves e ficam procurando
pela casa, essas coisas e muitas
mais.
No princípio é tudo lindo, mas
um dia começa a pesar. São coisas sérias?
Não. Mas então? É apenas a coabitação que é sempre difícil,
com namorado, marido, amiga,
pai, mãe, filho e até com a faxineira, que só vem de 15 em 15 e
canta enquanto limpa os vidros.
É difícil coabitar, e quanto
menor o espaço e maior a falta de
dinheiro, pior. Para os ricos é
mais fácil: eles podem ter mais de
uma sala, mais de uma televisão,
mais de um telefone, mais de um
computador, mais de um banheiro, mais de um carro e até podem
viajar sós, o que acaba fazendo
com que tenham vidas praticamente separadas -e mesmo assim às vezes não dá.
Os homens, em geral, só se separam por justa causa, isto é, quando já têm outra, enquanto as mulheres vivem se questionando,
prestando atenção a detalhes que
não deveriam ter importância
mas que têm -para elas. Quando essas pequenas coisas começam a incomodar, a tendência é
achar que o amor acabou, e nessa
hora nenhuma pensa nas coisas
boas que esse homem tem e que
fizeram com que ela se apaixonasse. Não pensam e não querem
nem lembrar, pois preferem imaginar como a vida poderia ser
melhor sem ele, sem obrigações,
sem rotina.
Aí começa: ou inventam voltar
a estudar, ou fazem uma permanente ou passam a almoçar fora
com amigas muito solteiras e
muito disponíveis, o que é o início
do chamado processo, que termina como já se sabe. Mas teria o
amor acabado mesmo?
Só o tempo vai dizer. Pode ser
que nos primeiros tempos ela fique muito feliz, mas que uma
sexta-feira à noite, sem nada para fazer, ponha um CD de Chico,
abra uma garrafa de vinho e fique pensando um pouco na vida,
na passada e na presente, e que se
lembre dele com alguma saudade. E por que não?
Seria bem bom estar tomando
aquele mesmo vinho com ele, esparramados os dois num sofá, e
brigando depois um pouco até
decidirem se iam pedir um japonês ou uma pizza. Depois brigando um pouco mais para saber
quem ia fazer o café, e ela se irritando quando ele pegasse a colherzinha, provasse e deixasse
cair duas ou três gotas na camiseta. E depois mais uma briga; por
que será que os homens são tão
imprestáveis e não podem nem
levar dois pratos para a cozinha,
não é nem para lavar, só para a
sala não ficar aquela zona?
Ela lembra com uma certa melancolia que não há nada melhor
do que ter com quem se irritar e
com quem brigar, só que agora é
tarde.
E para não pensar resolve tirar
o CD e ver um filme na TV.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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