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VIOLÊNCIA
Em áreas submetidas neste ano a toques de recolher, quadrilhas controlam e até proíbem acesso de visitantes
Tráfico impõe regras e fronteiras em SP
ANDRÉ CARAMANTE
DO "AGORA"
O governo nega, mas no dia-a-dia da periferia ninguém tem dúvida: já não faltam áreas nas quais
as regras de convivência sejam ditadas por traficantes de drogas.
É assim no Jardim da Represa,
em São Bernardo do Campo
(ABC), nos jardins Três Marias e
dos Reis (zona sul da capital), no
Jardim Elba e na Fazenda da Juta
(zona leste) -todos submetidos,
neste ano, a toques de recolher, a
faceta mais visível do domínio do
tráfico.
Por lá, as leis dos criminosos
não assustam mais ninguém e parecem tão incorporadas à rotina
das famílias que já são cumpridas
sem ordem direta.
Cabe aos criminosos liberar ou
não visitantes, horários e caminhos dos moradores. No Jardim
da Represa, no km 26 da Imigrantes, eles criaram uma fronteira: a
passarela Palestina -alusão à
disputada área do Oriente Médio.
Tudo começou há pouco mais
de um ano, com um racha na quadrilha que dominava o bairro. O
lugar foi, então, dividido, tendo a
Imigrantes como limite. Quem vive no sentido capital-litoral continua no Jardim da Represa. Mas,
do outro lado da rodovia, o bairro
agora é o Jardim Imigrantes
-mudança imposta pelo tráfico.
Acesso controlado
Depois das 19h, é melhor não
circular pelas ruas. Passar de um
lado para o outro, então, nem
pensar. Quem mora no Imigrantes e tem parentes no Represa
-ou vice-versa- não cruza a
fronteira por imposição dos traficantes, que temem incursões de
grupos rivais.
Foi nessa guerra que morreu
Marcos Martins, 25, no dia 27, levando a um toque de recolher no
Represa. "O pessoal do movimento [os traficantes] ligou para a padaria e deu a ordem: fechar tudo
em luto pela morte do Marquinhos", disse um comerciante.
O Jardim Elba (zona leste da capital) é a principal área de atuação
do traficante Gideones de Lima
Santos, 33, o Pezão, preso em dezembro de 2002. Lá, os moradores
e comerciantes estão acostumados com as regras do tráfico.
Segundo o vendedor A.F.R., 28,
há ruas do bairro em que, se os
moradores vão receber visitas de
parentes ou pessoas desconhecidas na região, têm de avisar previamente os traficantes.
Em outras áreas do Elba -como na Fazenda da Juta-, carros
só podem entrar à noite se estiverem apenas com as lanternas ligadas, circulando sempre em baixa
velocidade. "Se alguém entrar
correndo e com o farol alto, os caras enquadram mesmo, de fuzil
na mão e tudo", diz o comerciante
J.P.S., 55.
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