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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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VIOLÊNCIA

Em áreas submetidas neste ano a toques de recolher, quadrilhas controlam e até proíbem acesso de visitantes

Tráfico impõe regras e fronteiras em SP

ANDRÉ CARAMANTE
DO "AGORA"

O governo nega, mas no dia-a-dia da periferia ninguém tem dúvida: já não faltam áreas nas quais as regras de convivência sejam ditadas por traficantes de drogas.
É assim no Jardim da Represa, em São Bernardo do Campo (ABC), nos jardins Três Marias e dos Reis (zona sul da capital), no Jardim Elba e na Fazenda da Juta (zona leste) -todos submetidos, neste ano, a toques de recolher, a faceta mais visível do domínio do tráfico.
Por lá, as leis dos criminosos não assustam mais ninguém e parecem tão incorporadas à rotina das famílias que já são cumpridas sem ordem direta.
Cabe aos criminosos liberar ou não visitantes, horários e caminhos dos moradores. No Jardim da Represa, no km 26 da Imigrantes, eles criaram uma fronteira: a passarela Palestina -alusão à disputada área do Oriente Médio.
Tudo começou há pouco mais de um ano, com um racha na quadrilha que dominava o bairro. O lugar foi, então, dividido, tendo a Imigrantes como limite. Quem vive no sentido capital-litoral continua no Jardim da Represa. Mas, do outro lado da rodovia, o bairro agora é o Jardim Imigrantes -mudança imposta pelo tráfico.

Acesso controlado
Depois das 19h, é melhor não circular pelas ruas. Passar de um lado para o outro, então, nem pensar. Quem mora no Imigrantes e tem parentes no Represa -ou vice-versa- não cruza a fronteira por imposição dos traficantes, que temem incursões de grupos rivais.
Foi nessa guerra que morreu Marcos Martins, 25, no dia 27, levando a um toque de recolher no Represa. "O pessoal do movimento [os traficantes] ligou para a padaria e deu a ordem: fechar tudo em luto pela morte do Marquinhos", disse um comerciante.
O Jardim Elba (zona leste da capital) é a principal área de atuação do traficante Gideones de Lima Santos, 33, o Pezão, preso em dezembro de 2002. Lá, os moradores e comerciantes estão acostumados com as regras do tráfico.
Segundo o vendedor A.F.R., 28, há ruas do bairro em que, se os moradores vão receber visitas de parentes ou pessoas desconhecidas na região, têm de avisar previamente os traficantes.
Em outras áreas do Elba -como na Fazenda da Juta-, carros só podem entrar à noite se estiverem apenas com as lanternas ligadas, circulando sempre em baixa velocidade. "Se alguém entrar correndo e com o farol alto, os caras enquadram mesmo, de fuzil na mão e tudo", diz o comerciante J.P.S., 55.


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