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Desvio de verba ameaça projeto contra Aids
R$ 1,1 mi foi subtraído de programa da UFRJ que pesquisa vacina; agência dos EUA diz que pode cortar financiamento
Cerca de 400 cheques foram encontrados na conta de secretária do coordenador do programa; pesquisador e fundação trocam acusações
ANTÔNIO GOIS
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Desvios e sumiços de recursos de ao menos R$ 1,1 milhão,
destinados à UFRJ, ameaçam
paralisar um dos mais importantes projetos brasileiros na
área de HIV/Aids: o Praça Onze, que tem o objetivo de descobrir vacinas e drogas para prevenção e tratamentos da doença e é financiado na maior parte
pelo governo americano.
Composto por mais de 15
pesquisas, o Praça Onze é coordenado por Mauro Schechter,
professor titular de doenças infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, hoje
em conflito com a FUJB (Fundação Universitária José Bonifácio), também da universidade, que é responsável por receber os recursos do projeto.
As duas partes se acusam de
descontrole a ponto de descobrirem tardiamente que cerca
de 400 cheques, totalizando
R$ 1,1 milhão, pararam na conta pessoal de uma secretária.
Schechter acusa a fundação
de não saber determinar até
agora o destino de verbas estimada entre R$ 2 milhões e
R$ 3 milhões. Para a FUJB, é o
pesquisador quem lhe deve
R$ 1,1 milhão.
As suspeitas levaram o NIH
(Instituto Nacional de Saúde,
dos EUA), principal financiador do programa, a enviar representante ao Brasil, exigir
uma auditoria e ameaçar suspender o repasse de verbas.
O instituto já enviou mais de
US$ 7 milhões (cerca de R$ 13,6
em valores de hoje) para o programa brasileiro.
O projeto passará agora a ser
gerido pela reitoria da universidade federal. Schechter afirma
que isso gerará mais burocracia
e poderá inviabilizar e engessar
as pesquisas científicas.
Em um ponto ambas as partes concordam, embora cada
uma coloque a principal responsabilidade na outra: houve
falha na fiscalização.
"Não tenho acesso às contas.
Caberia à fundação, e não a
mim, fazer o controle e identificar que havia saída de dinheiro
superior a valores das notas fiscais, o que não fizeram", declara Schechter.
"Se erramos, foi por dar excesso de liberdade para
Schechter", afirma o presidente da fundação, Raymundo de
Oliveira. Segundo ele, os recursos iam para uma conta em nome do pesquisador e seriam de
sua responsabilidade.
A FUJB move ação de prestação de contas contra o professor. Já Schechter pediu investigação nas contas do projeto ao
Ministério Público Federal e ao
Estadual e ao TCU (Tribunal de
Contas da União). A Promotoria estadual determinou auditoria, e o TCU investiga o caso.
Secretária
Rosenilda Sales foi secretária
de Schechter entre 1994 e
2004, quando se flagrou a compra de passagens de avião para
ela e a família com verba do
projeto. Schechter a demitiu.
Depois disso, a fundação descobriu que havia desvios de cheques de 1998 a 2004.
A Folha não conseguiu localizar Rosenilda. À polícia, ela
alegou que o dinheiro era pagamento "por fora" por outros
projetos do pesquisador e para
pagar voluntários, o que
Schechter nega.
Segundo a Polícia Civil, que a
indiciou sob acusação de estelionato, os montantes foram
depositados em sua conta, na
de irmãos e do namorado.
"Rosenilda foi contratada
por indicação de Schechter.
Nós é que descobrimos que os
cheques foram parar na conta
dela", diz Oliveira.
O pesquisador afirma que o
controle cabia à FUJB. Schechter apresentou à reportagem e-mails de 2004 e 2005 em que
cobra o sumiço de valores de
R$ 470 mil e de mais R$ 674
mil da fundação. A FUJB declara que as mensagens foram tiradas de contexto. E atribui
parte do descontrole aos altos
custos administrativos do projeto e a oscilações no câmbio.
Schechter diz ainda que a
FUJB cobra taxa de administração vedada pelo NIH, o que
somaria mais de R$ 1 milhão. A
fundação apresentou à reportagem contrato de 1995, assinado pelo pesquisador, em que
a cobrança está prevista.
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