São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2010

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FOCO

Fonte no centro de SP será restaurada

Obra, instalada em 1927 na São João, passará pela primeira reforma em 80 anos

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO

Símbolo da era de ouro da avenida São João nas décadas de 1920 a 1940, a Fonte Monumental, na praça Julio Mesquita, hoje um ícone da degradação urbana e humana da região central, pode voltar a brilhar na cidade.
A prefeitura abriu licitação para restauração da escultura -a primeira desde a sua instalação, em 1927-, uma das mais deterioradas.
Parte dos elementos artísticos da obra concebida pela escultora Nicolina Vaz de Assis (1874-1941) -quatro máscaras e seis lagostas de bronze- foi levada pelos ladrões por conta do valor comercial.
Os sistemas hidráulico e elétrico, que davam vida à fonte com o chafariz e a iluminação, não funcionam.
Nas duas vascas (espécie de tanques para água) que formam a base da obra só há água parada, urina e fezes, resultado da invasão de viciados e moradores de rua.
No cume, a estátua do pescador e das três sereias que tentam seduzi-lo estão cobertas por cocô de pombos.
A fonte é inspirada nas similares europeias, como a de Roma, onde viveu Nicolina, a única mulher a ter uma obra nas ruas numa época em que se espalhavam pela cidade. A escultura deveria ser instalada na praça da Sé, mas com o alargamento da avenida São João em 1911, mudou de endereço para simbolizar a pujança da nova via e ligar o centro velho a Campos Elíseos, bairro da elite à época.

MUDANÇAS
O projeto básico prevê a recuperação do desenho original, mas algumas coisas mudarão, diz a arquiteta Rafaela Calil Bernardes, do Departamento de Patrimônio Histórico da prefeitura. As máscaras e lagostas não serão mais de bronze, mas de outro material sem valor econômico.
A medida tenta manter a segurança sem agredir o visual, como fez o prefeito Jânio Quadros em 1986, que colocou grades ao redor da escultura. "A grade só é limitadora para quem quer enxergar a fonte, mas não para quem quer pichar ou furtar", diz Rafaela.
Segundo ela, a garantia de que a fonte não será novamente degradada depende da revitalização da região.
"O grande problema é a praça inteira", concorda o pesquisador Percival Tirapeli, professor da Unesp e especialista em patrimônio artístico, para quem também é fundamental a conscientização popular. "Educar, educar, educar", defende.
"A iniciativa é ótima, embora tardia", diz o jornalista Douglas Nascimento, criador do blog "São Paulo Abandonada", que reúne fotos de monumentos degradados. " E não adianta recuperar só a fonte, mas o entorno, para que a nova fonte não vire só um banheiro novo para moradores de rua", afirma.
Os vizinhos evitam fazer críticas ao local. "Melhorou depois que fizemos abaixo-assinado", diz o gerente de um hotel, sob anonimato, se referindo a rondas da PM para afastar usuários de drogas.


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