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FOCO
Fonte no centro de SP será restaurada
Obra, instalada em 1927 na São João, passará pela primeira reforma em 80 anos
JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO
Símbolo da era de ouro da
avenida São João nas décadas de 1920 a 1940, a Fonte
Monumental, na praça Julio
Mesquita, hoje um ícone da
degradação urbana e humana da região central, pode
voltar a brilhar na cidade.
A prefeitura abriu licitação
para restauração da escultura -a primeira desde a sua
instalação, em 1927-, uma
das mais deterioradas.
Parte dos elementos artísticos da obra concebida pela
escultora Nicolina Vaz de Assis (1874-1941) -quatro máscaras e seis lagostas de bronze- foi levada pelos ladrões
por conta do valor comercial.
Os sistemas hidráulico e
elétrico, que davam vida à
fonte com o chafariz e a iluminação, não funcionam.
Nas duas vascas (espécie
de tanques para água) que
formam a base da obra só há
água parada, urina e fezes,
resultado da invasão de viciados e moradores de rua.
No cume, a estátua do pescador e das três sereias que
tentam seduzi-lo estão cobertas por cocô de pombos.
A fonte é inspirada nas similares europeias, como a de
Roma, onde viveu Nicolina, a
única mulher a ter uma obra
nas ruas numa época em que
se espalhavam pela cidade. A
escultura deveria ser instalada na praça da Sé, mas com o
alargamento da avenida São
João em 1911, mudou de endereço para simbolizar a pujança da nova via e ligar o
centro velho a Campos Elíseos, bairro da elite à época.
MUDANÇAS
O projeto básico prevê a recuperação do desenho original, mas algumas coisas mudarão, diz a arquiteta Rafaela
Calil Bernardes, do Departamento de Patrimônio Histórico da prefeitura. As máscaras
e lagostas não serão mais de
bronze, mas de outro material sem valor econômico.
A medida tenta manter a
segurança sem agredir o visual, como fez o prefeito Jânio Quadros em 1986, que colocou grades ao redor da escultura. "A grade só é limitadora para quem quer enxergar a fonte, mas não para
quem quer pichar ou furtar",
diz Rafaela.
Segundo ela, a garantia de
que a fonte não será novamente degradada depende
da revitalização da região.
"O grande problema é a
praça inteira", concorda o
pesquisador Percival Tirapeli, professor da Unesp e especialista em patrimônio artístico, para quem também é
fundamental a conscientização popular. "Educar, educar, educar", defende.
"A iniciativa é ótima, embora tardia", diz o jornalista
Douglas Nascimento, criador
do blog "São Paulo Abandonada", que reúne fotos de
monumentos degradados. "
E não adianta recuperar só a
fonte, mas o entorno, para
que a nova fonte não vire só
um banheiro novo para moradores de rua", afirma.
Os vizinhos evitam fazer
críticas ao local. "Melhorou
depois que fizemos abaixo-assinado", diz o gerente de
um hotel, sob anonimato, se
referindo a rondas da PM para afastar usuários de drogas.
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