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SEGURANÇA DE GUERRA
Abrigos subterrâneos chegam a custar US$ 1 milhão e são procurados por banqueiros e empresários
Em SP, bunker vira recurso contra crime
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Adolf Hitler escapou de morrer
nas mãos do Exército russo escondido em um grande bunker
sob o solo de Berlim em 1945.
Hoje, o mesmo recurso usado
na Segunda Guerra Mundial foi
transferido para a defesa de quem
tem muito dinheiro contra a guerrilha urbana que toma as metrópoles brasileiras -ou para dar
vazão à histeria que ela provoca.
Hoje, o Brasil tem 102 bunkers
perfurando seu solo, de acordo
com uma pesquisa da RCI First
-Security and Intelligence Advising, responsável pela construção
de 64 dos esconderijos subterrâneos no país.
Só a cidade de São Paulo tem 63
bunkers construídos sob casas e
empresas. A maioria deles fica no
bairro do Morumbi (zona oeste),
seguido de perto pelos Jardins.
"De todos os bunkers já feitos
no país, apenas 30% eram realmente necessários. O resto é loucura", admite Ricardo Chilelli, 48,
especialista em segurança privada
da RCI. Segundo ele, os bunkers
passaram a ser construídos no
Brasil e na Colômbia a partir de
1999 e só crescem em demanda.
"O bunker foi importado para o
Brasil por conta da violência urbana. Mas só tem função mesmo
para pessoas com grande potencial de risco que freqüentam lugares ermos, como uma casa de
praia isolada ou uma fazenda de
difícil acesso, onde o socorro demoraria a chegar. Construir bunker no Morumbi é pura histeria.
Mas, se me pedem, eu faço", diz
ele, que tem entre seus clientes
banqueiros e empresários.
De acordo com o tamanho e o
grau de sofisticação, um bunker
brasileiro pode custar de US$ 50
mil a até US$ 1 milhão.
O preço espelha uma engenharia de construção complexa. A
RCI diz dividir a construção de
cada bunker em sete etapas. Cada
etapa da obra é entregue a uma
empreiteira diferente de um Estado distinto do país. Dessa forma,
ninguém tem acesso ao projeto
todo nem consegue compreender
como o bunker é feito nem onde
exatamente ele está, diz Chilelli.
O quadrado feito de um concreto especial é protegido por uma
porta blindada aberta com uma
combinação de chaves e biometria (leitura digital, de íris ou de
formato de rosto). Tudo isso é
acessível por uma porta -também blindada, claro- oculta
atrás de uma estante ou de um armário, num recurso digno dos filmes de 007.
Nos bunkers urbanos, tudo é independente: a caixa d'água, a rede
elétrica e a linha telefônica. "Podem cortar todos os cabos da casa
e envenenar a água, podem incendiar a casa ou mesmo explodi-la
que, no bunker, nada acontece",
devaneia Chilelli.
"O que vemos é a evolução da
segurança privada para soluções
cada vez mais sofisticadas e com
maior grau de sigilo. São estratégias diferenciadas e ultra-restritas", avalia Viviane de Oliveira
Cubas, autora do recém-lançado
"Segurança Privada - A Expansão
dos Serviços de Proteção e Vigilância em São Paulo", fruto de
uma pesquisa realizada por ela no
Núcleo de Estudos da Violência
da USP. Segundo ela, o mercado
de segurança privada -que cresce, em média, 20% ao ano e movimenta R$ 4 bilhões anualmente
no Brasil- lucra em cima da neurose criada pela violência e crescente sensação de insegurança.
"Apesar de ser estatisticamente
desprezível. O poder simbólico de
mais de 60 bunkers em São Paulo
é muito grande", diz José Guilherme Magnani, coordenador do
Núcleo de Antropologia Urbana
da USP. "Isso é a exceção."
Se o bunker como instrumento
de segurança pode parecer paranóia, a blindagem é um recurso já
comum. O pânico da violência urbana já produziu a blindagem de
milhares de veículos, de 15 mil
portas em residências paulistanas
e de mais de 14 mil janelas em
apartamentos do Rio de Janeiro.
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