|
Próximo Texto | Índice
Polícia de SP protegeu carrasco nazista
Documentos do Dops indicam ajuda a Herbert Cukurs, acusado de participar da morte de 30 mil judeus em Riga (Letônia)
Reconhecido na região da represa Guarapiranga, na capital, em 1960, ele chegou a ter policiais em frente a sua casa para evitar ataques
MARIO CESAR CARVALHO
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia de São Paulo deu
proteção por mais de um ano a
um criminoso de guerra, acusado de ter participado da morte
de cerca de 30 mil judeus. O
protegido era o capitão e aviador Herbert Cukurs (1900-1965), apontado por sobreviventes como um dos comandantes de dois massacres que
os nazistas executaram em Riga, na Letônia, em 1941, nos
quais morreram 25 mil judeus.
A proteção policial a Cukurs
[pronuncia-se Tsucurs] está
documentada em um dossiê
encontrado no arquivo do Dops
(Departamento de Ordem Política e Social da polícia) pelo historiador Erick Godliauskas
Zen, de 26 anos, estudante de
pós-graduação na USP (Universidade de São Paulo).
A própria cronologia do dossiê é reveladora. A polícia política de São Paulo fez o dossiê
porque Cukurs havia sido
apontado como criminoso de
guerra por dois sobreviventes
dos campos de extermínio nazistas: Frida Schmuskovits e
Josef Gavrowski.
O curioso é que o depoimento do acusado é tomado antes
mesmo de a polícia saber quais
eram as acusações que pesavam contra ele. O Dops ouviu
Cukurs no dia 6 de junho de
1960 e só no dia seguinte tomou
o depoimento de Frida e Josef.
Frida contou à polícia que
Cukurs fez parte de duas organizações "fascistas" da Letônia,
a Perkonkrust e a Aizsargi. Sobre os massacres de 10 mil e 15
mil judeus, relatou que "essa
matança era feita por ordem de
Herbert Cukurs, que era chefe
da Perkonkrust".
A historiadora Maria Luiza
Tucci Carneiro, professora da
USP que escreveu o clássico "O
Anti-Semitismo na Era Vargas", afirma que os documentos
encontrados no arquivo do
Dops são importantes por causa desses depoimentos. "Os sobreviventes relatam os crimes e
a polícia não faz nada. Houve
um acobertamento do governo
brasileiro em relação aos nazistas que durou de 1946 até o fim
da ditadura militar, em 1985."
Próximo Texto: Danuza Leão: Anjos do Sol Índice
|