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SÃO PAULO EM ALERTA
Em Perdizes, dez pessoas ficam sem o carro por dia
Perdizes, Pinheiros e Lapa detêm recorde de furtos de veículos em São Paulo
No primeiro semestre deste ano, 5.432 motoristas da zona oeste tiveram os carros furtados ou roubados; na cidade, foram 21.670 casos
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Perdizes, Pinheiros e Lapa,
bairros de classe média na zona
oeste, detêm um recorde oneroso. Locais em que mais se
roubam e furtam veículos, basta às seguradoras conferir os
CEPs residenciais dos proprietários dos veículos. Se os números corresponderem a algum
dos três bairros, automaticamente, o custo do seguro para o
consumidor sofre acréscimo
que pode chegar a 20% sobre o
valor pago em regiões menos
atacadas pelos chamados "puxadores" (ladrões) de carros.
As seguradoras chamam a isso de "gravame". Tem a ver com
a -atenção para a expressão-chave- "alta sinistralidade",
ou alta incidência de roubos e
furtos dessas regiões.
No primeiro semestre deste
ano, 5.432 motoristas da zona
oeste ficaram com as chaves de
seus carros penduradas nas
mãos. Foram 29,8 veículos por
dia; ou um sem-carro a cada 48
minutos. Toda a cidade de São
Paulo registrou, no mesmo período, 21.665 carros furtados
-119 por dia, ou um sem-carro
a cada 12 minutos.
O campeão 23º DP, em Perdizes, teve 885 casos no segundo trimestre -média de dez
por dia. Em seguida, o 14º DP
(Pinheiros), que inclui a boêmia Vila Madalena, e 7º DP (Lapa), tiveram, respectivamente,
589 e 472 registros.
O 30º DP (Tatuapé), na zona
leste, vem em quarto, com 380.
A supervisora administrativa
Neuza de Almeida Pereira, 56,
moradora na zona oeste, onde
também trabalha, esteve anteontem à noite no DP de Perdizes. Foi lavrar boletim de
ocorrência sobre o furto de seu
Chevrolet Celta, preto, quatro
portas, quase zero-quilômetro.
Todo dia, Neuza parava o carro na mesma rua. Ontem, o Celta, que ela comprou por
R$ 26.000, se desmaterializou.
"Não acreditei. Dei uma volta
no quarteirão, para ver se o encontrava. Em vão." Taxistas de
um ponto próximo disseram a
ela que ali "é um festival", referindo-se à freqüência de furtos.
"Eu até achava estranho que
fosse tão fácil parar naquela
rua, enquanto outras pareciam
estacionamento de shopping
em época de Natal. Descobri
por quê", disse Neuza, que já
"perdeu" outro carro, em 1995.
A indústria de seguros e de
recuperação de veículos não
pára de crescer. Na sede da
Tracker, no Campo de Marte,
ao lado do heliporto, um mapa
imenso da capital tem milhares
de fitinhas vermelhas e amarelas pregadas com alfinetes.
As fitinhas vermelhas concentram-se na zona oeste. Em
cada uma, está escrito o modelo
do carro, o ano de fabricação, o
número do protocolo da comunicação de roubo ou furto.
Cada uma está pregada no local de onde o veículo foi levado.
São tantas que forram o mapa
como aqueles tapetes peludos.
As fitinhas amarelas espalham-se por toda a cidade. Mostram
onde o carro foi recuperado.
A Tracker é uma empresa caçadora de carros roubados. Há
quatro meses, o jornaleiro
Claudio Manuel Ferreira, 36,
morador da Vila Sônia (zona
oeste) usava a Parati da mãe.
Parou o carro por dois minutos
na porta de casa -foi pegar um
agasalho. Quando voltou, cadê?
Só que o carro de Ferreira estava equipado com um emissor
de radiofreqüência, acionado a
partir de telefonema. Antenas
espalhadas pela cidade captaram o bip-bip; computadores
localizaram o carro em um mapa; do Campo de Marte um helicóptero levantou vôo; motos e
carros saíram no encalço do
carro. "Em meia hora, me telefonaram para eu ir ao DP, que o
carro estava sendo levado para
lá. O boletim de ocorrência ainda estava sendo lavrado e eu já
sabia onde estava a Parati."
Segundo o diretor nacional
de operações da Tracker, o militar da reserva do Exército colombiano Carlos Alberto Betancur Ruiz, o emissor de radiofreqüência emite ondas que
podem ser rastreadas mesmo
que o veículo esteja em uma garagem subterrânea, em uma
caixa fechada -o que o torna
particularmente útil em casos
de roubos e furtos.
Segundo Betancur, a empresa mantém antenas, aviões, helicópteros e equipes de terra
em toda a América do Sul.
"Conseguimos recuperar nove
em cada dez veículos roubados
ou furtados." Mas a eficiência
da operação, diz ele, depende
de rapidez. "As quadrilhas desmontam um carro em menos
de 30 minutos."
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