São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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SÃO PAULO EM ALERTA

Em Perdizes, dez pessoas ficam sem o carro por dia

Perdizes, Pinheiros e Lapa detêm recorde de furtos de veículos em São Paulo

No primeiro semestre deste ano, 5.432 motoristas da zona oeste tiveram os carros furtados ou roubados; na cidade, foram 21.670 casos

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Perdizes, Pinheiros e Lapa, bairros de classe média na zona oeste, detêm um recorde oneroso. Locais em que mais se roubam e furtam veículos, basta às seguradoras conferir os CEPs residenciais dos proprietários dos veículos. Se os números corresponderem a algum dos três bairros, automaticamente, o custo do seguro para o consumidor sofre acréscimo que pode chegar a 20% sobre o valor pago em regiões menos atacadas pelos chamados "puxadores" (ladrões) de carros.
As seguradoras chamam a isso de "gravame". Tem a ver com a -atenção para a expressão-chave- "alta sinistralidade", ou alta incidência de roubos e furtos dessas regiões.
No primeiro semestre deste ano, 5.432 motoristas da zona oeste ficaram com as chaves de seus carros penduradas nas mãos. Foram 29,8 veículos por dia; ou um sem-carro a cada 48 minutos. Toda a cidade de São Paulo registrou, no mesmo período, 21.665 carros furtados -119 por dia, ou um sem-carro a cada 12 minutos.
O campeão 23º DP, em Perdizes, teve 885 casos no segundo trimestre -média de dez por dia. Em seguida, o 14º DP (Pinheiros), que inclui a boêmia Vila Madalena, e 7º DP (Lapa), tiveram, respectivamente, 589 e 472 registros.
O 30º DP (Tatuapé), na zona leste, vem em quarto, com 380.
A supervisora administrativa Neuza de Almeida Pereira, 56, moradora na zona oeste, onde também trabalha, esteve anteontem à noite no DP de Perdizes. Foi lavrar boletim de ocorrência sobre o furto de seu Chevrolet Celta, preto, quatro portas, quase zero-quilômetro.
Todo dia, Neuza parava o carro na mesma rua. Ontem, o Celta, que ela comprou por R$ 26.000, se desmaterializou. "Não acreditei. Dei uma volta no quarteirão, para ver se o encontrava. Em vão." Taxistas de um ponto próximo disseram a ela que ali "é um festival", referindo-se à freqüência de furtos. "Eu até achava estranho que fosse tão fácil parar naquela rua, enquanto outras pareciam estacionamento de shopping em época de Natal. Descobri por quê", disse Neuza, que já "perdeu" outro carro, em 1995.
A indústria de seguros e de recuperação de veículos não pára de crescer. Na sede da Tracker, no Campo de Marte, ao lado do heliporto, um mapa imenso da capital tem milhares de fitinhas vermelhas e amarelas pregadas com alfinetes.
As fitinhas vermelhas concentram-se na zona oeste. Em cada uma, está escrito o modelo do carro, o ano de fabricação, o número do protocolo da comunicação de roubo ou furto.
Cada uma está pregada no local de onde o veículo foi levado. São tantas que forram o mapa como aqueles tapetes peludos. As fitinhas amarelas espalham-se por toda a cidade. Mostram onde o carro foi recuperado.
A Tracker é uma empresa caçadora de carros roubados. Há quatro meses, o jornaleiro Claudio Manuel Ferreira, 36, morador da Vila Sônia (zona oeste) usava a Parati da mãe. Parou o carro por dois minutos na porta de casa -foi pegar um agasalho. Quando voltou, cadê?
Só que o carro de Ferreira estava equipado com um emissor de radiofreqüência, acionado a partir de telefonema. Antenas espalhadas pela cidade captaram o bip-bip; computadores localizaram o carro em um mapa; do Campo de Marte um helicóptero levantou vôo; motos e carros saíram no encalço do carro. "Em meia hora, me telefonaram para eu ir ao DP, que o carro estava sendo levado para lá. O boletim de ocorrência ainda estava sendo lavrado e eu já sabia onde estava a Parati."
Segundo o diretor nacional de operações da Tracker, o militar da reserva do Exército colombiano Carlos Alberto Betancur Ruiz, o emissor de radiofreqüência emite ondas que podem ser rastreadas mesmo que o veículo esteja em uma garagem subterrânea, em uma caixa fechada -o que o torna particularmente útil em casos de roubos e furtos.
Segundo Betancur, a empresa mantém antenas, aviões, helicópteros e equipes de terra em toda a América do Sul. "Conseguimos recuperar nove em cada dez veículos roubados ou furtados." Mas a eficiência da operação, diz ele, depende de rapidez. "As quadrilhas desmontam um carro em menos de 30 minutos."


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