São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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Zona oeste é recordista em latrocínios

Dos 29 casos da capital paulista, nove foram registrados na região no primeiro semestre deste ano

DA REPORTAGEM LOCAL

A rua Mário, na Lapa, zona oeste de São Paulo, é de casas de um lado. Do outro lado, um muro grande, todo grafitado, delimita território de uma antiga escola, hoje uma coordenadoria de ensino. Foi lá que, no ano passado, três garotos de 18 anos, que tentavam levar o carro da família, roubaram a vida do físico da USP Georgi Lucke, que tinha 71 anos.
"Se ele estivesse aqui, a casa estaria cheia. Georgi era muito falante, tocava piano, fazia poesia -meu marido era muito inteligente e muito culto. Agora, ficou esse vazio e o medo." As lembranças são da professora Ignez Jorge Lucki, 67, casada desde 1968 com o físico, nascido na Ucrânia e uma das maiores autoridades brasileiras em controle de radiatividade e energia nuclear.
A família Lucki mora desde 1968 no sobrado. Foi lá que os quatro filhos do casal -Georgi Júnior, Flávio, Ricardo e Natália- foram criados.
Naquela noite de maio do ano passado, Ignez despedia-se da filha Natália, na porta de casa. Os dois cachorros enormes da casa, os pastores alemães Thor e Milly, divertiam-se na rua, enquanto mãe, filha e genro dirigiam-se ao carro dela, conversando. Da esquina, por volta das 20h, vinham três rapazes, caminhando e conversando. Tudo tranqüilo.
Mas os cachorros começaram a latir, nervosos e agressivos. A mãe, então, recolheu os animais, que ficaram atrás dos muros altos da residência.
"Obrigado, dona!", chegou a dizer um dos meninos. E o outro completou: "Mas isso é um assalto". "Passa a chave, passa a chave", disse, referindo-se à chave do carro de Natália.
Armas em punho, um agarrou a professora, chacoalhando-a enquanto ela gritava por socorro. Outro deu uma gravata na filha. O terceiro incumbiu-se de render o marido dela.
O professor Lucki, que havia chegado da USP e jantava na cozinha, correu assustado para fora da casa. Foram três tiros. Um, na axila, perfurou a veia aorta. Já caído no chão, foi alvejado na cabeça. A bala parou no maxilar.
Meia hora depois, Lucki morreu no hospital, o pulmão cheio de sangue, asfixiado. Os jovens fugiram, levando consigo a bolsa da filha com cartões, documentos e celular.
No primeiro semestre de 2007, o caso do professor foi um entre 16. No primeiro semestre de 2008, houve um acréscimo de 81%. As vítimas foram 29.
Isoladamente, no primeiro semestre de 2007, duas pessoas perderam a vida em assaltos na zona oeste. Em 2008, esse número saltou para 9 pessoas, fazendo a região a recordista.
No caso do professor Lucki, a polícia chegou 10 minutos depois do crime. Três suspeitos foram presos em janeiro em São Paulo.
"Minha mãe comportou-se como uma cidadã respeitadora dos direitos dos outros. Ela recolheu os cachorros para que não incomodassem os passantes. E o que recebemos foi dor e sofrimento. Agora, eu diria: "Pega!" O medo tomou conta de nós", diz Ricardo. Na porta da casa, o velho Dodge do professor segue estacionado. (LC)


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