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Zona oeste é recordista em latrocínios
Dos 29 casos da capital paulista, nove foram registrados na região no primeiro semestre deste ano
DA REPORTAGEM LOCAL
A rua Mário, na Lapa, zona
oeste de São Paulo, é de casas
de um lado. Do outro lado, um
muro grande, todo grafitado,
delimita território de uma antiga escola, hoje uma coordenadoria de ensino. Foi lá que, no
ano passado, três garotos de 18
anos, que tentavam levar o carro da família, roubaram a vida
do físico da USP Georgi Lucke,
que tinha 71 anos.
"Se ele estivesse aqui, a casa
estaria cheia. Georgi era muito
falante, tocava piano, fazia poesia -meu marido era muito inteligente e muito culto. Agora,
ficou esse vazio e o medo." As
lembranças são da professora
Ignez Jorge Lucki, 67, casada
desde 1968 com o físico, nascido na Ucrânia e uma das maiores autoridades brasileiras em
controle de radiatividade e
energia nuclear.
A família Lucki mora desde
1968 no sobrado. Foi lá que os
quatro filhos do casal -Georgi
Júnior, Flávio, Ricardo e Natália- foram criados.
Naquela noite de maio do
ano passado, Ignez despedia-se
da filha Natália, na porta de casa. Os dois cachorros enormes
da casa, os pastores alemães
Thor e Milly, divertiam-se na
rua, enquanto mãe, filha e genro dirigiam-se ao carro dela,
conversando. Da esquina, por
volta das 20h, vinham três rapazes, caminhando e conversando. Tudo tranqüilo.
Mas os cachorros começaram a latir, nervosos e agressivos. A mãe, então, recolheu os
animais, que ficaram atrás dos
muros altos da residência.
"Obrigado, dona!", chegou a
dizer um dos meninos. E o outro completou: "Mas isso é um
assalto". "Passa a chave, passa a
chave", disse, referindo-se à
chave do carro de Natália.
Armas em punho, um agarrou a professora, chacoalhando-a enquanto ela gritava por
socorro. Outro deu uma gravata na filha. O terceiro incumbiu-se de render o marido dela.
O professor Lucki, que havia
chegado da USP e jantava na
cozinha, correu assustado para
fora da casa. Foram três tiros.
Um, na axila, perfurou a veia
aorta. Já caído no chão, foi alvejado na cabeça. A bala parou no
maxilar.
Meia hora depois, Lucki
morreu no hospital, o pulmão
cheio de sangue, asfixiado. Os
jovens fugiram, levando consigo a bolsa da filha com cartões,
documentos e celular.
No primeiro semestre de
2007, o caso do professor foi
um entre 16. No primeiro semestre de 2008, houve um
acréscimo de 81%. As vítimas
foram 29.
Isoladamente, no primeiro
semestre de 2007, duas pessoas
perderam a vida em assaltos na
zona oeste. Em 2008, esse número saltou para 9 pessoas, fazendo a região a recordista.
No caso do professor Lucki, a
polícia chegou 10 minutos depois do crime. Três suspeitos
foram presos em janeiro em
São Paulo.
"Minha mãe comportou-se
como uma cidadã respeitadora
dos direitos dos outros. Ela recolheu os cachorros para que
não incomodassem os passantes. E o que recebemos foi dor e
sofrimento. Agora, eu diria:
"Pega!" O medo tomou conta de
nós", diz Ricardo. Na porta da
casa, o velho Dodge do professor segue estacionado.
(LC)
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