São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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Fábrica de 70 anos vai ao chão e vira condomínio

Construção havia sido projetada por Rino Levi, ícone do modernismo

Para arquitetos, prédio tinha "inquestionável valor arquitetônico'; construtora diz que teve todas as autorizações

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

Às vésperas de completar 70 anos, a fábrica projetada pelo arquiteto ícone do modernismo brasileiro, Rino Levi, não resistiu à pressão imobiliária na capital paulistana e veio ao chão.
No lugar do prédio da antiga Companhia Jardim de Cafés Finos, serão erguidos dois condomínios residenciais.
Embora com valor histórico e arquitetônico inquestionável, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha, o edifício construído em 1942 na avenida do Estado (centro) não aparece nas listas de bens protegidos pelos órgãos do patrimônio histórico.
"O edifício era um documento fundamental para a história da arquitetura brasileira. O fato mostra falta de conhecimento de nossa cultura. Muito triste", diz o arquiteto Lúcio Gomes Machado, 65, professor da faculdade de arquitetura da USP.
Para Machado, "qualquer arquiteto com razoável qualificação" poderia aliar novos edifícios à preservação de boa parte da fábrica em áreas comuns do condomínio.
Segundo Paulo Bruna, arquiteto que trabalhou com Rino Levi na década de 1960, a fábrica antecipava características de eficiência ambiental valorizadas hoje.
"O prédio tinha para-sóis e era extremamente confortável. Lembro do doutor Rino calculando gráficos de insolação rigorosamente. A demolição é lamentável", diz.

EXPANSÃO IMOBILIÁRIA
Fábio Adorni, da Engelux, afirma que a empresa desconhecia a autoria do edifício que demoliu há menos de dois meses. "Pedimos todas as autorizações na prefeitura. Não havia impedimento".
Adorni diz que as 406 unidades dos dois empreendimentos lançados ali em junho já foram todas vendidas. São apartamentos de 33 m2, vendidos por R$ 130 mil.
O Cambuci, cercado por bairros valorizados como Mooca, Vila Mariana e Ipiranga, é área natural para a expansão imobiliária, diz.
Para Manoela Rufinoni, professora da Unifesp, a antiga fábrica levou a linguagem da arquitetura moderna para a arquitetura industrial. "Fiquei bastante angustiada quando vi demolido. O prédio estava muito íntegro."
A professora integra o projeto de cooperação entre universidades e prefeitura para catalogar o patrimônio industrial da cidade.
Esses bens estão concentrados onde o plano diretor de 2002 prevê o adensamento da cidade. A ideia é aproximar pessoas da infraestrutura de transportes e empregos, além de revitalizar a cidade.


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