São Paulo, Sexta-feira, 06 de Agosto de 1999
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SOCIEDADE
Estudo do Ipea traça a evolução socioeconômica, desde 1940, da população brasileira com mais de 65 anos
Idosos no Brasil estão cada vez mais ativos

RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

Os velhinhos brasileiros não são vagabundos. Essa é a principal revelação de uma pesquisa inédita do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) intitulada "Como Vive o Idoso Brasileiro".
Pelo contrário. A maioria da população do Brasil que já completou 65 anos continua trabalhando, chefia as famílias a que pertencem e contribui com boa parte do rendimento familiar, mostra o estudo, que utilizou diversas bases de dados demográficos.
"É errada a idéia de que as pessoas mais jovens trabalham para sustentar uma suposta inatividade dos idosos", diz Marcelo Medeiros Coelho de Souza, 29, um dos autores do estudo, que foi coordenado pela demógrafa Ana Amélia Camarano.
Os dados utilizados para a pesquisa não são novos. As informações mais recentes foram colhidas no censo de 1996. A novidade é o recorte, enfocando os idosos.
Traduzindo em números, as pessoas com mais de 65 anos representam 5,4% da população e estão presentes em 17% das famílias do país. Em 2020, devem representar 10% da população.
Apesar da idade, formam um contingente ativo: 62% dos homens com mais de 65 anos trabalham pelo menos 40 horas semanais. Depois dos 80 anos, os idosos que trabalham o fazem, em média, 32 horas por semana.
Esse esforço, no entanto, gera uma receita apenas complementar. Segundo o relatório, nessa faixa etária -acima de 80 anos- 80% da renda pessoal mensal dos homens vêm da aposentadoria, e os 20% restantes, de outras atividades. Para os homens na faixa etária entre os 65 e os 69 anos, as receitas provenientes de aposentadoria representam apenas 58% da renda pessoal.
Essa prática, de o aposentado trabalhar, foi também quantificada pela pesquisa e revelou-se muito difundida. Nada menos que 73,97% dos idosos que trabalham ou que estão procurando emprego, ou seja, que fazem parte da PEA (População Economicamente Ativa), são aposentados.
O dado contraria a polêmica afirmação do presidente Fernando Henrique Cardoso, que, em maio do ano passado, defendeu a idade mínima para a aposentadoria classificando de "vagabundos" as pessoas que se aposentam com menos de 50 anos.
Independe da idade, o que o estudo do Ipea mostra é que o brasileiro aposentado não tem nada de vagabundo.

Família
O estudo mostra também que o papel ocupado nas famílias brasileiras por pessoas com mais de 65 anos é significativa e vem crescendo. Em 1996, nada menos que 63% dos idosos chefiavam o grupo familiar a que pertenciam.
Trata-se de um grupo heterogêneo. Estão incluídas aí pessoas de mais de 65 anos que vivem sozinhas -solteiros, separados e viúvos-, casais de velhinhos e homens e mulheres que vivem com os filhos, mas continuam sendo a pessoa de referência na família.
Essa importância familiar é prevalecente entre homens, mas as mulheres de mais de 65 anos vêm ganhando responsabilidades.
Em 1986, 35,8% das mulheres idosas chefiavam sua família, contra 88,86% dos homens idosos. Dez anos depois, em 1996, o número entre a população idosa feminina saltou para 42,3%, enquanto o de homens se manteve quase inalterado -89,75%.
"Os idosos trabalham e são responsáveis por uma parcela significativa dos rendimentos de suas famílias", diz Coelho de Souza.
Segundo o pesquisador, "os idosos são importantes do ponto de vista do estudo da família, porque, embora tenham participação relativamente pequena da população, formam uma proporção grande do total de famílias".


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