|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INTOLERÂNCIA
Pacote com explosivo, desmontado pela polícia, tinha desenhada uma suástica; entidades acusam skinheads
Anistia sofre novo atentado a bomba em SP
ALESSANDRO SILVA
ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma bomba de fabricação caseira foi entregue pelo correio na
casa de um funcionário da Anistia
Internacional em São Paulo.
O alvo era o apartamento do
professor de educação física José
Eduardo Bernardes da Silva, 40,
militante da entidade e que vinha
recebendo ameaças pelo telefone.
É o segundo atentado em menos de um ano contra a Anistia no
Estado, que fechou sua sede na capital, em março passado, em razão de sucessivos incidentes com
grupos neonazistas.
O pacote-bomba foi entregue a
Silva pelo porteiro do prédio onde
mora, em Higienópolis (centro),
ontem por volta do meio-dia.
Ele desconfiou do remetente da
encomenda e decidiu inspecionar
o conteúdo antes de abrir. ""Usei
um estilete para fazer um corte no
papel e já vi os fios", afirmou.
O Gate (Grupo de Ações Táticas
Especiais), da Polícia Militar, foi
chamado e desmontou no local o
artefato produzido à base de pólvora negra e que deveria funcionar como uma granada. ""Era uma
bomba mesmo, com capacidade
de destruição e para matar", disse
o tenente Dorival Mignanelli.
Entidades de direitos humanos
acreditam que a bomba faz parte
de uma ofensiva de grupos radicais (skinheads) anunciada simultaneamente por carta no mesmo dia (leia texto abaixo). ""Escolhemos um de cada grupo para
dar uma lição para servir de
exemplo", diz o texto de uma dessas correspondências.
Ameaça
Silva é o mesmo funcionário
que encontrou em setembro do
ano passado uma bomba de fabricação caseira no escritório da
Anistia, no Campo Belo (zona sudoeste da capital).
Na época, a entidade recebeu
uma carta com a foto de um travesti nu com a seguinte mensagem: ""Vocês defendem homossexuais e negros, nós os matamos.
Vocês são nossos inimigos. Morte
a vocês". Dentro do escritório havia um cilindro de 30 centímetros
com pólvora, envolto com fita
prateada e com fios aparecendo.
A bomba achada ontem tinha
fitas semelhantes, com a cruz
suástica desenhada a caneta vermelha e a palavra: vingança. O
Gate ainda não sabe dizer como
seria o acionamento dela.
As ameaças contra a Anistia aumentaram após a morte do adestrador de cães Edson Neris da Silva, 35, morto a pancadas por um
grupo de skinheads na praça da
República, no início de fevereiro.
Neris teria sido espancado porque estava de mãos dadas com o
operador de telemarketing Dário
Pereira Neto, 34, que conseguiu
fugir. Até agora, 18 pessoas estão
sendo processadas pelo crime.
Remetente
No pacote da bomba, a polícia
encontrou o mesmo endereço da
Congregação Israelita Paulista.
"A covardia demonstrada pelo
remetente que se manteve anônimo, e se escondeu indicando um
endereço fictício, é tão deplorável
quanto o ódio e o preconceito que
motivaram o ato", disse o rabino
Henry Sobel, presidente do rabinato da congregação.
A comunidade judaica é considerada inimiga pelos skinheads.
Não é a primeira vez isso ocorre
em correspondências desse tipo.
Ontem, Sobel pediu providências
à Polícia Federal.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Câmara e Assembléia recebem cartas com ameaças Índice
|