São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Falha em droga aumenta risco em cirurgias

Problema no anticoagulante heparina provoca complicações como sangramentos demorados e necessidade de nova operação

Médicos avisam, porém, que não há motivo para pânico entre pacientes; nos EUA houve mortes, mas não há confirmações no Brasil

Sergio Ranalli - 15.ago.08/Folha Imagem
Francisco Gregori, que suspeita que cirurgia demorou 51 horas em razão de falha em anticoagulante

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A SBCCV (Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular) enviou um alerta a seus médicos associados alertando para o risco de complicações graves e inesperadas nas cirurgias de coração decorrentes de problemas nas quatro principais marcas de heparina (droga que impede a coagulação do sangue) vendidas no país.
Embora ainda não tenha números, a SBCCV diz que muitos pacientes operados estão tendo sangramentos que demoram para estancar e que diversas cirurgias cardíacas estão precisando ser refeitas. Médicos avisam, porém, que não há motivo para pânico entre pacientes.
Médicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) têm notícias de mortes de pacientes que possivelmente foram provocadas pelas heparinas. Não há confirmação. Entre o final de 2007 e o início de 2008, heparinas defeituosas provocaram a morte de mais de cem pacientes nos EUA.
"Estamos recebendo mensagens de médicos de todo o país que tiveram complicações nas cirurgias", afirma o presidente da SBCCV, José Teles de Mendonça. "Em 21 anos de trabalho, eu nunca tinha visto um problema tão sério", acrescenta Cyrillo Cavalheiro, do hospital Sírio-Libanês e do Hospital das Clínicas de São Paulo.
São realizadas no Brasil, a cada ano, cerca de 50 mil cirurgias do coração. Da ponte de safena ao transplante cardíaco, todas exigem o uso da heparina. A droga é utilizada para evitar que o sangue coagule durante as operações.
Os problemas têm ocorrido depois das operações, quando é dado o "antídoto" da heparina, para que o sangue recupere a capacidade de coagulação. O "antídoto" não consegue anular a heparina defeituosa.
No final de julho, o médico Francisco Gregori Jr., de Londrina (PR), ganhou notoriedade nacional após passar 51 horas na sala de cirurgia tentando fazer o sangue de um paciente coagular. "Não tenho como afirmar com certeza, mas a heparina pode ter se somado aos problemas do paciente", diz.
No final do ano passado, a multinacional farmacêutica Roche deixou de fabricar sua heparina, a mais usada no mundo. Os médicos tiveram de recorrer a outras marcas. No Brasil, as principais são dos laboratórios Hipolabor, Cristália, Eurofarma e Bérgamo.
Um estudo feito por médicos da UFRJ e publicado na "Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular" comparou as quatro marcas com a droga da Roche. Duas não tinham a potência da droga da multinacional e duas tinham "contaminantes".
"Estamos buscando soluções", afirma Mauro Paes Leme, um dos autores da pesquisa. "Hospitais e até planos de saúde estão tentando importar heparina dos Estados Unidos."
Segundo os médicos, as pessoas que passarão por cirurgia não devem entrar em pânico. "Não são todos os pacientes que têm reação ao produto", diz Leme. "Os médicos sofreram mais no início, quando não estavam acostumados com as heparinas nacionais. Agora já estão mais preparados", diz Walter José Gomes, da Unifesp.


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