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Famílias vivem em luto sem enterrar parentes
DA SUCURSAL DO RIO
Sem um corpo para enterrar, o
aposentado José Vieira, 63, vive
um luto diferente: ora acha que o
filho Adelmo José está morto, ora
arruma o quarto dele, mantido
intacto, esperando-o para jantar.
O rapaz desapareceu no dia 18
de julho deste ano, junto com o
amigo Darcy Martins Júnior. É
um dos casos mais recentes investigados pelo Serviço de Descoberta de Paradeiros.
Os dois foram vistos pela última
vez subindo o morro da Fé, na Penha (zona norte do Rio).
"A gente depois soube que eles
tinham sido mortos pelo bando
desse Elias Maluco e enterrados
no morro do Alemão", conta o pai
de Adelmo.
A doméstica Luciana Aparecida
do Nascimento, 34, espera desde
1998 notícias que revelem o que
aconteceu com o marido, o soldado Alfredo Luiz da Cruz, do Corpo de Bombeiros.
Ele teria sido acusado pelos traficantes da favela Nova Brasília de
atuar como informante da polícia.
Saiu de casa com um amigo e não
voltou. "Acho que ele morreu,
mas esse teste de DNA é que pode
dar uma certeza", diz Luciana.
Pelo menos três jovens foram
vistos pela última vez ao sair de
casa para ir a bailes funk: Kátia Cilene Garrido Ferreira, Cristiana
Carla Pereira e Carlos Eduardo
Alves de Macedo.
As duas jovens sumiram no
mesmo dia, 16 de janeiro de 1999.
Segundo a polícia, o desaparecimento estaria relacionado a um
ex-namorado de uma delas, ligado ao tráfico.
Carlos Eduardo teria se envolvido em brigas de galeras rivais nos
bailes. Sumiu em 3 de dezembro
de 2000.
O pai do rapaz, o aposentado
Eduardo Luiz Alves de Macedo,
52, diz que o desaparecimento do
filho era praticamente ignorado
pela polícia, até que, com o caso
Tim Lopes, a descoberta do cemitério clandestino reativou um
pouco o interesse pela história.
"Numa hora dessas, a gente não
sabe mais o que pensar. A polícia
pára de procurar o corpo, não tem
exame para fazer, não tem mais
nada, só dúvida e tristeza. Só queria poder enterrar o meu filho",
diz Macedo, que aguarda o cadastramento para poder fazer o exame de DNA.
As mães de dois desaparecidos
pediram para não ser identificadas nas entrevistas. Uma delas
contou que recebeu ameaças dos
traficantes da área e que teme pela
vida dos outros dois filhos.
"A gente precisa desse exame de
DNA para, pelo menos, saber se é
o corpo do meu filho que apareceu lá na Grota. Aí ele descansa
em paz e eu também", afirma a
outra mãe.
(FE)
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