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VÔO 1907
Pilotos sabiam estar na altitude errada
Eles alegam que só poderiam mudar de nível de vôo com autorização do sistema de controle de tráfego aéreo, o que não ocorreu
Segundo versão da empresa proprietária do jato, os pilotos não conseguiram contato por falha no sistema de comunicação
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Ralph Michielli, vice-presidente de manutenção da ExcelAire, dona do avião Legacy que
se chocou com o Boeing-737/
800 da Gol, classificou de "inverídicas, absurdas e ultrajantes" as versões de que os pilotos
Joseph Lepore e Jean Palladino não responderam às tentativas de contato do centro de
controle aéreo (Cindacta-1)
porque estavam fora da cabine
de comando ou que tenham
desligado equipamentos de segurança para "brincar". Simplesmente, alegam, a comunicação não funcionou.
Na versão que os diretores da
empresa norte-americana têm
dado em conversas informais
no Brasil, foi justamente por
falta de comunicação que o
avião não reduziu a altitude
-fator decisivo para o choque,
já que os aviões estavam a 37
mil pés, em sentido oposto.
Sem autorização, Lepore e Palladino não se consideraram
aptos a mudar o nível do vôo.
Em conversa com a Folha,
ontem, Michielli -que estava
no vôo- não quis dar entrevista, mas reagiu energicamente
contra a versão de que os pilotos poderiam ter desligado o
transponder, a antena que
transmite dados do avião e faz
seu sistema anticolisão "conversar" com o de outros aviões.
"Absolutamente, em nenhum momento eles desligaram [o transponder]. Não apertaram nenhuma vez o botão
on-off" no vôo", disse ele, que
já está de volta aos EUA.
Outros diretores da ExcelAire que também estavam no vôo
e continuam no Brasil, para dar
explicações à Polícia Federal e
demais autoridades, têm dito
que estão "chocados" com as
versões publicadas pela imprensa brasileira, que teriam o
claro propósito de inocentar a
Embraer, a Gol e principalmente o sistema de controle de
tráfego aéreo brasileiro, jogando toda a culpa nos pilotos.
Ontem, o vice-presidente
executivo da ExcelAire, David
Rimmer, também presente no
vôo, chorou ao falar com seus
advogados, José Carlos Dias e
Theo Dias, sobre o acidente.
A explicação da empresa é
que um plano de vôo é "um pedaço de papel" sujeito à realidade, muda segundo as circunstâncias e exclusivamente
sob orientação ou autorização
do controle aéreo. Após tentativas de contato, sem sucesso,
os pilotos não se sentiram autorizados a mudar a altitude.
Lepore e Palladino disseram
aos diretores da empresa e nos
depoimentos já prestados no
Brasil que as práticas aeronáuticas nos EUA proíbem mudança de altitude sem conhecimento do controle de radares.
Segundo o Comando da Aeronáutica, no caso de falta de
contato, o piloto deveria ter seguido seu plano original de vôo.
Um ex-piloto e especialista
em segurança de vôo ouvido
pela reportagem diz que seria
responsabilidade do controle
aéreo avisar o Legacy de que
ele seguia em rota de colisão
com o Boeing. Ou então avisar
ao piloto da Gol, já que o argumento é que a torre não conseguiu contato com o Legacy.
O que os responsáveis pela
ExcelAire questionam é por
que, diante do risco, os controladores não tentaram acionar
também o Boeing. Pela lógica,
dizem, se um avião não responde, o fundamental é acionar
imediatamente o outro.
Segundo os diretores da empresa, os pilotos mexeram no
transponder três vezes durante
o vôo: ainda em São José dos
Campos, para registrar o seu
código para os radares, mais
adiante, para digitar o "identity
code" e confirmar o trajeto e,
após o acidente, para acionar o
"mayday" (emergência).
Mesmo assim, o Legacy continuou sem comunicação com
os radares brasileiros.
Só ao contatar um avião que
voava acima na mesma região,
um cargueiro da PolarAir, também norte-americana, conseguiram uma freqüência de rádio que funcionasse: não com
Brasília, mas com a Base Aérea
de Cachimbo.
Treinamento
A tripulação do jato passou
por treinamento para voar no
Legacy antes do acidente com o
Boeing da Gol. Palladino teria
cerca de 400 horas de experiência de vôo na plataforma
145, da qual deriva o Legacy.
Já Lepore tem uma autorização temporária para voar o jato
e que foi expedida pelo FAA, órgão responsável pela regulamentação e fiscalização da
aviação civil dos EUA. A autorização temporária é válida enquanto o piloto espera pela
chegada do documento permanente e que levaria cerca de 90
dias para ficar pronto.
Colaborou FÁBIO AMATO, da Agência Folha, em
São José dos Campos
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