São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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BARBARA GANCIA

O presidente sabe


Lula ainda não se deu ao trabalho de perguntar ao seu pessoal de quem era a bolada para a compra do dossiê?


CERTA DE QUE chuchu com lula não causa indigestão, continuo a ruminar o resultado das eleições e o cenário para o segundo turno. Sei não, mas será que tem mesmo tanta importância assim a aliança forjada entre Alckmin e Garotinho? O Lula não é aliado do Jader Barbalho e do Orestes Quércia? E a Marta Suplicy, que ontem questionou a aliança entre o candidato do PSDB e o ex-governador carioca, não se juntou a um ex-prefeito a quem chamava de "nefasto"? Com a Constituição que temos, esse negócio de aliança poderia ser diferente?
Olha só o que o brasilianista Thomas Skidmore disse em entrevista à BBC Brasil: "O Brasil precisa de um programa ofensivo (para reverter o déficit de desenvolvimento humano). Precisa ir ao ataque. Mas no Brasil parece que as pessoas só gostam de ir ao ataque no futebol. Sou cético. Não creio que conseguirei ver meu sonho realizado. Estou desiludido. Os brasileiros gostam de pensar que são idealistas. Mas acho que estão perdendo seus ideais".
Não faça assim, Mr. Skidmore, que eu choro. Também estou desiludida, mas ainda quero saber. Como pode um país com as riquezas naturais e a dimensão do Brasil não ter um Partido Verde que consiga romper a cláusula dos 5% dos votos? Como pode o presidente liderar as pesquisas de intenção de voto se, durante o seu mandato, o país teve taxas de crescimento medíocres? Como puderam os tucanos, em dois mandatos consecutivos de FHC, não ter a sensibilidade de perceber o que Lula sacou imediatamente, que os itens que compõem a cesta básica devem ser barateados para que cheguem à mesa do pobre? E que o salário mínimo de Lula hoje compra três cestas básicas, enquanto o mínimo de FHC não chegava a comprar uma?
Paulo Maluf e Fernando Collor afirmam que Lula "é honesto". Sei, sei. Especialmente se comparado a certas pessoas, não é mesmo? E Maluf leva à risca os ensinamentos que lhe foram passados por James Carville, o marqueteiro de Clinton. Se as pesquisas indicam que o brasileiro quer pena de morte, pena de morte neles! Não deixa de ser irônico que um sujeito que passou 40 dias no xilindró agora se sinta à vontade para defender a pena capital.
E o Clodovil (que eu adoro de paixão desde menina) que me desculpe, mas como é que ele pretende ajudar a criar as leis do país se não consegue nem mesmo administrar seu próprio orçamento? Não é o Clô que, de tempos em tempos, vai a público dizer que está sem grana, que torrou tudo em Paris e que terá de pedir emprestado ao Faustão?
Mas o que eu quero mesmo saber é o seguinte: naquele dinheiro apreendido pela Polícia Federal que seria destinado à compra do dossiê fajuto, está assim, ó, de nota de R$ 10. Huuum... quem é mesmo que é sempre flagrado fazendo grandes transações com notas pequenas?
Tem mais: se alguém neste país sabe a quem pertencia o dinheiro para a compra do falso dossiê, essa pessoa é Lula. Ou será que o presidente ainda não perguntou ao pessoal envolvido quem foi que armou a coisa toda? Na hora em que o chefe pergunta olhando no olho, será que algum subordinado tem coragem de inventar evasivas? I don"t think so.

barbara@uol.com.br


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