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Polícia identifica ladrão de obras raras
Flavio Florido/Folha Imagem
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Luís Francisco mostra livro "O Guarany", que teve parte furtada |
Bibliotecário que estagiou na Mário de Andrade, entre 2002 e 2003, é acusado de ter furtado a biblioteca e outros arquivos
Polícia chegou ao suspeito após prender ex-cunhado de funcionário da biblioteca que estava com manuscrito de Dona Maria I, a "rainha louca"
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil de São Paulo
acredita ter identificado um
dos ladrões de obras raras da
Biblioteca Mário de Andrade e
de outros arquivos. Todos os
indícios apontam para o bibliotecário Ricardo Pereira Machado, que estagiou na Mário de
Andrade entre 2002 e 2003 e
no ano seguinte foi preso -e
depois liberado- pelo furto de
obras raras da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Machado foi apontado por
duas fontes diferentes: uma
pessoa que foi presa anteontem
com obras raras e um colecionador que comprou a segunda
edição de "O Guarany", de José
de Alencar, num leilão e descobriu depois que a obra era da biblioteca. O livro, editado em
1863 e vendido por R$ 5.760,
integrava um lote entregue por
Machado à Babel Livros, do
Rio. Foi leiloado em março.
O site da Babel informava
que a página de rosto (que tinha
o carimbo da Mário de Andrade) fora cortada -um indício
de furto. O carimbo da biblioteca na página 100 havia sido raspado, mas havia uma falha: o
número de registro da biblioteca fora mantido.
"Todos as frentes apontam
para Ricardo, mas é preciso investigar se ele furtou ou se pegou as obras de alguém", diz o
delegado Fernando Pires.
O preso, Erivaldo Tadeu dos
Santos Nunes, é ex-cunhado do
responsável pelo restauro na
biblioteca, José Camilo dos
Santos. Funcionário do local há
25 anos, Santos disse que restaurava as obras que tinham sido entregues por Machado.
A polícia suspeita que Machado e o restaurador possam
ter ligação com o furto que a biblioteca notou em setembro.
Sumiram um livro de orações
de 1501, 58 gravuras de Rugendas e 42 de Debret, entre outros. A Folha não conseguiu localizar Machado.
A Justiça recusou o pedido
de prisão do restaurador e de
Machado por considerar que
esse tipo de punição não pode
ser aplicada em casos de furto.
"Eles são tratados como batedores de carteira, mas não são.
Trata-se de uma quadrilha que
atua em todo o Brasil", disse
Luís Francisco Carvalho Filho,
diretor da biblioteca.
A polícia encontrou com Nunes uma gravura da Mário de
Andrade. Trata-se de uma peça
do álbum "10 Gravuras em Madeira de Oswaldo Goeldi", impresso em 1930 no Rio. A raridade da obra deve-se ao fato de
ser considerada o primeiro álbum de gravura moderna impresso no país, segundo Rizio
Bruno Sant'Ana, curador de
obras raras da biblioteca.
O preso tinha também um
manuscrito de 1791 de Dona
Maria I (1734-1816), conhecida
como a "rainha louca", que foi
furtado do Instituto Histórico
e Geográfico de São Paulo. Tinha também gravuras raras.
Uma única gravura do livro
"Collection de Fleurs et de
Fruits", de Jean-Louis Prévost
(1745-1810), foi avaliada em
US$ 6 mil (R$ 12.960). Prévost
é valioso porque seu livro é
considerado um dos mais bonitos já editados sobre botânica.
Leilão
A partir do livro de José de
Alencar, devolvido à Mário de
Andrade pelo colecionador, a
polícia descobriu o possível canal que os ladrões usavam para
vender as obras: a Babel Livros.
Carvalho Filho conferiu quatro leilões realizados neste ano
e descobriu que a Babel vendeu
234 lotes entregues por Machado. Entre eles havia 17 livros
com as mesmas características
de obras que estão desaparecidas da Mário de Andrade. Os
leilões renderam R$ 87.310,00
a Machado.
A Babel recusou-se inicialmente a entregar o nome dos
compradores dos livros idênticos aos títulos que sumiram do
acervo da Mário de Andrade,
segundo o diretor da biblioteca.
Alegou que seria violação da
privacidade dos compradores.
"Estamos diante de bens públicos e eles estão falando em privacidade", disse Carvalho Filho. O delegado afirmou que os
empresários já mudaram de
idéia e devem entregar a lista
amigavelmente.
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