São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Reforma irregular pode ter provocado morte de meninas

Segundo peritos, chaminé por onde sai ar coletado do banheiro foi reduzida

Obra para unificar coberturas de hotel na Barra da Tijuca, no Rio, foi feita a pedido da empresa do apresentador Gugu Liberato

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Laudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro concluiu que uma obra irregular realizada para unir duas coberturas na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, prejudicou o sistema de exaustão do prédio, onde duas meninas morreram intoxicadas em agosto deste ano.
A obra foi feita a pedido da empresa Promoart Produções Artísticas, do apresentador Gugu Liberato, que contratou o arquiteto Leo Shehtman, que, por sua vez, subcontratou a empresa Sfera Engenharia Ltda.
As irmãs Keilua, 6, e Kawai Ferreira Baisotti, 12, morreram intoxicadas no banheiro do apart-hotel Barra Beach, em 18 de agosto. Laudo preliminar do IML (Instituto Médico Legal) apontou como causa da morte intoxicação por gás.
O arquiteto não foi localizado. A empresa nega ter interferido no sistema de exaustão.
Segundo o laudo, a obra realizada em 2002 para unir duas coberturas compradas um ano antes pela empresa de Gugu reduziu a área de escapamento de duas chaminés -uma delas da coluna em que estavam as meninas-, por onde sai o ar coletado pelo duto do sistema de exaustão. Dois não foram localizados pelos peritos e um estava conforme o original.
Os tubos -com um exaustor no final- têm como objetivo renovar o ar dos banheiros, retirando o monóxido de carbono ou gás em caso de vazamento.
O vão original da coluna onde estavam as meninas, de 600 cm2, foi bloqueado parcialmente com concreto e "completado" com um tubo de PVC com 15 cm de diâmetro sob o concreto, percorrendo duas "curvas" de 90º. A nova chaminé fica, segundo o laudo da Uerj, sob um telhado de alumínio com 176,6 cm2.
"Verificamos que as chaminés coletivas do prédio (...) apresentam medidas insuficientes, pois suas seções transversais teriam que ser maiores do que as atuais", afirma o parecer, assinado pelos engenheiros Ariaman dos Santos e João de Tarso Pallotino.
O sistema de exaustão do prédio possui cinco dutos, que atendem 30 apartamentos cada. Todos eles desembocam na cobertura unificada.
A obra foi embargada pela 4ª Gerência de Licenciamento e Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo em dezembro do mesmo ano.
Antes das mortes, outros casos de intoxicação já haviam ocorrido no prédio nestes cinco anos. Segundo o advogado do apart-hotel, Mário Rebello de Oliveira, não fora feito uma perícia após os casos "pois sempre se pensava que se tratava de um vazamento de gás".
"Nunca houve algo conclusivo sobre as causas [dos incidentes]". Para o advogado, o laudo "prova" que as meninas não foram intoxicadas por gás, mas por monóxido de carbono. O sistema de exaustão não teria feito a renovação adequada do ar do banheiro.


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