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Reforma irregular pode ter provocado morte de meninas
Segundo peritos, chaminé por onde sai ar coletado do banheiro foi reduzida
Obra para unificar coberturas de hotel na Barra da Tijuca, no Rio, foi feita a pedido da empresa do apresentador Gugu Liberato
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Laudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro concluiu
que uma obra irregular realizada para unir duas coberturas na
Barra da Tijuca, zona oeste do
Rio, prejudicou o sistema de
exaustão do prédio, onde duas
meninas morreram intoxicadas em agosto deste ano.
A obra foi feita a pedido da
empresa Promoart Produções
Artísticas, do apresentador Gugu Liberato, que contratou o arquiteto Leo Shehtman, que, por
sua vez, subcontratou a empresa Sfera Engenharia Ltda.
As irmãs Keilua, 6, e Kawai
Ferreira Baisotti, 12, morreram
intoxicadas no banheiro do
apart-hotel Barra Beach, em 18
de agosto. Laudo preliminar do
IML (Instituto Médico Legal)
apontou como causa da morte
intoxicação por gás.
O arquiteto não foi localizado. A empresa nega ter interferido no sistema de exaustão.
Segundo o laudo, a obra realizada em 2002 para unir duas
coberturas compradas um ano
antes pela empresa de Gugu reduziu a área de escapamento de
duas chaminés -uma delas da
coluna em que estavam as meninas-, por onde sai o ar coletado pelo duto do sistema de
exaustão. Dois não foram localizados pelos peritos e um estava conforme o original.
Os tubos -com um exaustor
no final- têm como objetivo
renovar o ar dos banheiros, retirando o monóxido de carbono
ou gás em caso de vazamento.
O vão original da coluna onde
estavam as meninas, de 600
cm2, foi bloqueado parcialmente com concreto e "completado" com um tubo de PVC com
15 cm de diâmetro sob o concreto, percorrendo duas "curvas" de 90º. A nova chaminé fica, segundo o laudo da Uerj, sob um telhado de alumínio
com 176,6 cm2.
"Verificamos que as chaminés coletivas do prédio (...)
apresentam medidas insuficientes, pois suas seções transversais teriam que ser maiores
do que as atuais", afirma o parecer, assinado pelos engenheiros Ariaman dos Santos e João
de Tarso Pallotino.
O sistema de exaustão do
prédio possui cinco dutos, que
atendem 30 apartamentos cada. Todos eles desembocam na
cobertura unificada.
A obra foi embargada pela 4ª
Gerência de Licenciamento e
Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo em dezembro do mesmo ano.
Antes das mortes, outros casos de intoxicação já haviam
ocorrido no prédio nestes cinco anos. Segundo o advogado
do apart-hotel, Mário Rebello
de Oliveira, não fora feito uma
perícia após os casos "pois
sempre se pensava que se tratava de um vazamento de gás".
"Nunca houve algo conclusivo sobre as causas [dos incidentes]". Para o advogado, o
laudo "prova" que as meninas
não foram intoxicadas por gás,
mas por monóxido de carbono.
O sistema de exaustão não teria
feito a renovação adequada do
ar do banheiro.
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