São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Indiciado em 2000, policial agora é suspeito de extorsão

Mesmo já tendo sido preso, Régis Xavier de Souza não foi punido por corregedoria

Em CPI, policial foi acusado de tráfico de drogas, de ter ligações com o crime organizado e de dar proteção a um traficante

MARIO CESAR CARVALHO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O investigador Régis Xavier de Souza, apontado por integrantes da quadrilha de Juan Carlos Ramírez Abadía como um dos policiais que teria extorquido o megatraficante colombiano, foi indiciado pela CPI do Narcotráfico em 2000 sob a acusação de tráfico de drogas, de ligações com o crime organizado e de dar proteção a William Sozza.
Em dezembro daquele ano, Sozza foi preso sob acusação de liderar uma quadrilha de tráfico de drogas e de roubo de cargas que atuava em dez Estados.
Afastado pelo então governador Mário Covas em abril de 2000, logo após as primeiras revelações da CPI , o investigador foi promovido depois. Saiu de Campinas, onde trabalhava à época, passou pelo Denarc (a delegacia antinarcóticos) em São Paulo, esteve em Osasco e agora trabalha na 5ª Delegacia Seccional da capital.
Um dos delegados investigados pela suposta extorsão de US$ 800 mil (cerca de R$ 1,5 milhão) de Abadía, Pedro Pórrio, seguiu a mesma trajetória de Souza: foi do Denarc, passou por Osasco e agora está nessa mesma delegacia seccional em que Souza está lotado.
Foi como policial do Denarc que Souza teria participado das extorsões contra Abadía, segundo depoimento do empresário Daniel Maróstica, comparsa do colombiano que está preso sob acusação de ajudar o traficante a lavar dinheiro no Brasil.

Ficha corrida
O currículo de Souza é recheado de suspeitas de irregularidades. Segundo o relatório da CPI do Narcotráfico, o investigador teria adquirido imóveis e carros em nome da namorada quando estava em Campinas. O policial é citado no documento como o dono de um automóvel Mercedes-Benz que pertencera a Sozza.
Ele também era investigado por ser dono de uma chácara em Campinas na qual a polícia encontrou mercadorias roubadas, ainda segundo o relatório.
Ao final das investigações, em novembro de 2000, a CPI do Narcotráfico pediu o indiciamento de Souza por tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, roubo, receptação e comercialização de cargas roubadas.
Seis meses após a conclusão da CPI, o investigador chegou a ser preso junto com outros cinco policiais de Campinas, acusado de tortura e de peculato (apropriação de bens públicos) -depois teve a prisão relaxada.
Apesar de todas essas acusações, o policial nunca foi punido pela Corregedoria da Polícia Civil. Ontem, a reportagem solicitou detalhes das investigações da corregedoria sobre Souza. A Secretaria da Segurança diz que só pode revelar esses dados com autorização do policial.

Extorsões
O investigador foi citado no caso das supostas extorsões contra Abadía por Daniel Maróstica. Souza teria participado de um dos seqüestros de integrantes da quadrilha de Abadía, segundo Maróstica.
Na última quarta-feira, Abadía contou a promotores do Gaeco, grupo do Ministério Público que investiga o crime organizado, que policiais do Denarc seqüestraram três pessoas ligadas a ele: o venezuelano Henry Edval Lago, o Pacho, o piloto de aviões André Luiz Telles Barcellos e a empresária Ana Maria Stein.
O advogado de Pórrio, Daniel Bialski, diz que seu cliente não cometeu irregularidades. Ao ser informado sobre o teor da reportagem que a Folha preparava sobre Souza, Pórrio disse que o investigador será transferido da 5ª Seccional. A Folha não conseguiu localizar Souza.


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